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Mensagem por Ilusionista Qui maio 27, 2021 6:59 am

União entre Pai e Filho: Lâminas de Apenas um Destino (Parte Um)

Cronologicamente: sete anos no passado, Maquiavel tem cerca de dez anos. Acontece poucos dias após se recuperar de seu primeiro encontro com Asami Yamato.

King POV

O alvorecer do madrugada, o sol ainda nem se colocou no céu e, mesmo assim, aqui estou eu. Correndo, suando se ainda tivesse carne dentro de mim. Alguma coisa que me indicasse como mortal. Quase cinquenta, há quem dica que isso é um recorde a ser comemorado quando se é o que sou. Um shinobi, um assassino que goza de uma palavra bonita para chamar de sua. Para mim, isso não é uma conquista ou mesmo algo digno de uma nota de rodapé. Vive mais que minha esposa, há vi desvaecer sob a proteção de meus braços e se esquivar de meus dedos como lágrimas de areia. Existir até esse ponto, e para além dele, devia ser um crime. E talvez seja, um crime - um pecado - que estou pagando até hoje.
O vício é minha punição, o vicio em derramar um sangue que nem mesmo é para meu próprio deleite. Não, enquanto corro em direção a mais uma presa entre muitas, essa verdade se torna clara como cristal em minha mente. Pode ser apenas um momento de lucidez entre meu oceano de loucura ou, quem sabe, é uma loucura entre a lucidez medíocre que se tornou depois de perdê-la. Não importa o motivo, eu sabia que eu estava aqui apenas para servi-lo. Jashin, um deus que almeja a morte mas não aceita sujar as mãos para conquista-la. Um tolo se pensar bem, um covarde mas, em um passado que me sempre é presente, ele trouxe a mim e a minha esposa nosso sonho a este mundo. Maquiavel e, por ele, meu próprio sangue, estou acorrentado a este demônio. A está existência.
- Droga, um beco sem saída... Esse lugar é um labirinto. - Dizia a voz, bem jovem e somente um pouco mais velha do que o motivo de eu me encontrar aqui, Ele se assustava, mantinha seus olhos arregalados enquanto percebia que batia contra outra das inúmeras paredes dessa aldeia. Um beco sem saída, como seus lábios misturados entre medo e raiva tão sabiamente anunciaram. Demorou um momento para que ele finalmente engolisse a verdade garganta a seco e olha-se para mim. O lobo que encurralou a ovelha, seu carrasco. Por um instante, ver seus cabelos loiros tão jovens e de cor tão semelhante ao sol que está por nascer no céu, me faz lembrar com certa tristeza dos dias em que eu ainda tinha alguma honra e não era tão somente um escravo de um deus louco. Meus olhos, naturalmente negros e frios, deixavam escapar algum brilho (alguma emoção) por segundos que logo se perdem em meio a um tempo que não para de correr. - Você vai me matar?! Mas... Mas... Sou apenas uma criança! Apenas nasci com dons errados na hora errada, por favor! Por favor, senhor!
Ele chorava, não em lágrimas mas em suas palavras. Berrava para que algum ouvido bondoso lhe escutasse, pena que os meus não são assim há muito tempo. Observa-o com atenção a medida que ele dessistia de implorar, que a realidade batia na porta de seus olhos e o acordasse. Ele era magro, de roupas que brincam entre cortes e remendos mal feitos. Ele passou a vida correndo como um animal, lutando para conseguir um punhado de carne e moedas de mãos caridosas ou cínicas o bastante para lhe oferecer esse consolo tão breve. Patético, tanto potencial desperdiçado e convicto em se afogar em sua própria mediocridade. Ainda sim, vê-lo com uma bolsa barata que esconde uma espada de metal fraco me fazia levemente me recordar de meu filho e, como uma tormenta incerta, tenho um lapso de bondade com os barcos presos nela.
- Sim, você tem um dom. Mas jamais diga que ele é errado, ruim. Independente do peso que ele lhe faça carregar, ele ti faz único e, acredite em mim, não existe nada pior do que ser um ordinário nesse mundo. Uma memória que pouco sobreviverá as garras da morte, sua foice e, mais importante, a navalha afiada que é a história. Ela trucida aqueles que não tem coragem de deixar sua marca... A ousadia. Você tem uma vantagem sobre o resto de nos, use-a! - Digo, um pouco mais animado que deveria admito ainda que não perdesse minha postura elegante em momento algum. Declarei essas palavras com uma nota de frieza mas não aquela que se acusa o assassino de ter. Não. Aquela frieza, essa calmaria quase assustadora, era movida pela crueza da experiência que só anos de vida - décadas e mais décadas - podem trazer a uma alma. Falava-o como se fosse um conselheiro humilde, quase como um pai que aposto que ele nunca teve, dando avisos para um futuro que estou prestes a roubar dele. Irônico, não? Meus olhos se focam, por um instante estranhamente alto, em sua lâmina guardada querendo indicar, em um silencioso respeitoso, para ele saca-la e fazê-la viva enquanto pode. Porém, em uma inocência e ingenuidade que me faz esboçar um tímido (e saudosista) sorriso antes de sacar elegantemente minha própria espada e coloca-la olhando em sua direção. - Erga sua lâmina, e poderá morrer com honra. É mais do que a maioria de nos consegue, meu caro.  
Seguro minha empunhadura com firmeza, com dedos que conhecem a tormenta que esse mundo pode ser. Apesar de eu ser um assassino, ter massacres em meu nome, minha empunhadura se desenhava em forma de cruz. Em uma forma que, ironicamente, muitos consideravam sagrada. O fio de prata bem lapidado de minha Katana encarava esse infante, educadamente esperando que ele tomasse a primeira jogada desse xadrez de vida ou morte para si. O medo entre suas entranhas, porém, tinha outros planos. Segundos se passaram e, andando com eles, o suor começava a pingar aos montes de sua testa infante demais para se tornar tão franzida como no agora. Dedos e pernas tremem, assustados demais para lutar até mesmo por sua própria carne fedida.
Uma surpresa felizmente ocorre, uma pequena bomba de fumaça corre sorrateiramente de seus dedos para o chão ao meu lado. Um instante se passa e uma cortina logo se cria diante de mim. Olhos irritados, lagrimejam de dor por um segundo que rapidamente tratou de ser esquecido. A visão não era mais minha aliada, apenas um empecilho irritante enquanto ando nessa estrada. Tranquilamente fecho meus olhos e coloco minha espada em guarda, apenas esperando o inevitável. A ofensiva dessa criança, deste animal desesperado. Ouvidos sensíveis, treinados até a perfeição eram os meus, escutavam seus passos lentos e cuidadosos como se fossem o próprio sol batendo em minha cara.
- Bom, bom... Usando fumaça, as sombras, ao seu favor. Pensa como um verdadeiro Shinobi, minha criança. - Dizia com a calma de quem faz isso no café do manhã, com a frieza de quem tira uma alma desse mundo sempre que acorda para um novo dia. As palavras eram sutis, poderiam até aparentar ser um elegante insulto para aqueles que apenas assistiam de fora mas não, era um elogio real. Quase um incentivo para que ele se solte, divirta o máximo possível meu terrível deus antes de cair no sono eterno como todos os mortais estão fadados a fazer. Em resposta, escuto tão somente facas negras (kunais) cortando o vento frio da madrugada em alta velocidade enquanto, de maneira casual, desenho movimentos precisos para minha lâmina planteada e assim reflito todos os projeteis que um dia tramaram contra mim. Todos, ao entrar em choque contra minha lâmina, foram jogados para o solo. Por quanto a fumaça em minha frente se desfazia, meu discurso continuava como se nada tivesse acontecido. Como se tudo aquilo não passasse de uma aula, uma mera demonstração educativa conduzida por mim. - Você sabe usar as sombras, você as adotou para si certamente. Porém... Porém isso não é o suficiente, se você quer realmente sobreviver a este mundo, deve as domar sem dó... Transformar cada um delas seu bichinho de estimação, como eu fiz... Como o mundo me obrigou a fazer.
Abro os olhos, percebo as cinco kunais que ele jogou em mim caídas ao meu redor mas, elas estavam longe de estarem dormindo como se era de esperar. Papeis explosivos estavam anexadas a elas e, com um fino sorriso no rosto, a criança desenhava com seus dedos o selo necessário para todas explodirem de vez. Confiante, a explosão simultânea era seu real movimento neste xadrez de vida e morte. As chamas da explosão eram tamanhas que facilmente alcançaram o céu e queimaram meu corpo sem pensar duas vezes. O calor produzido era muito elevado, quase me fazia (de maneira nostálgica) recordar minha mente do calor que sentia ao seu tocada pelos dedos felizes e teimosos de minha esposa Mai. Entretanto, no fim do dia, a chama criada pelas explosões não era quente ou intensa suficiente para se comparar a ela. O fogo deixou os segundos passarem e, aos poucos, se acalmou. Deixando os céus, meu corpo, e resistindo brevemente em lugares isolados. Uma pena, eu verdadeiramente queria que ele me fizesse sentir algo como outrora ela fez. Como outrora ela sempre fez. Mas, de presente, essas chamas apenas me deixaram uma capa queimada e vestes sujas.
- Você está com receio de usar seu poder... Não devia. Seu poder lhe faz único, lhe dar a chance de não ser apenas uma gota de areia no rio da história. Por que se conforma em seu medíocre? Se você quer sobreviver, se isso não for apenas uma grande e tediosa nota de suicídio, use tudo que tem em seu arsenal. Caso o contrário, seja bonzinho e deixe eu matá-lo logo, sou um homem ocupado para perder tempo de forma gratuita.   - Falava, sem mudar meu tom o expressão serena, mas nada esse garoto que batalhava contra mim podia ouvir. Na idade de Maquiavel, mas não tinha sua mente disciplinada. Faltou-lhe uma mão forte para isso, uma tristeza pois, se ela existisse em sua vida, talvez pudesse ter chance de sobreviver a este encontro ou, ao menos, tornar interessante para meu deus que tudo assiste. Mesmo com medo, assustado como um porco enquanto via que meu corpo (sem nada) resistia as explosões como se fossem brincadeira de criança, movimenta seus braços de maneira frenética (e desesperada) enquanto, em um segundo que logo se esvai, controla as chamas da explosão que ainda resistem nesse cenário e as fortalece antes de, como um jato concentrado, comandar que todo esse fogo se concentre em consumir apenas um alvo: minha face. - Liberação de Fogo: Pederneira de Yagura, técnica de alto nível certamente. Impressionante meu caro, talvez seu sangue realmente seja saboroso para os lábios dele.      
O fogo era intenso, concentrado todo em meu rosto. Como um jato, ele consumia minha pele até sobrar apenas meu crânio nu e cru. Não posso negar a dor que as chamas me fizeram sentir, minha boca sentiu a vontade de gritar por estas dores enquanto a chama cozinhava aquilo que deveria ser minha carne. Trincava os dentes, trincava meus ossos e os acorrentava, sendo meu próprio carrasco se isso significar não bradar os quatro ventos com um berro meu. Não, não farei isso se significa me rebaixar um animal sendo controlado por instintos. Sou racionou, sou superior a estas fugazes sensações. Sei, no fundo da minha alma, que o medo é o assassino da mente. E, tendo essa sabedoria como mantra e gasolina, aceito esse ataque de chamas em um silêncio assustador. Apenas espero, espero até a ultima brasa adormecer.
O que surgiu do fogo não era carne e osso, não, já me despedi disso muito tempo atrás. Somente existe fios negros, fios que passam por todas as minhas partes e é dividida tão apenas pelo meus olhos negros. Culpe o Jiongu, a técnica proibida que permite meros mortais brincaram com os deuses da vida e da morte. Estou acima deles ou, ao menos, estou sempre desesperado para está. Não apenas por mim, essa aberração que mais parece um boneco de pano, não... Era por ele, meu filho e o maior presente que Mai poderia ceder a mim, Maquiavel. Devo protegê-lo da fúria de Jashin e essa, essa forma profana, é a única maneira de eu conseguir isso.  A criança que é minha inimiga, via aquele crânio feito por fios e mais fios, não conseguindo segurar o grito de terror que queima em sua garganta até, sem sutileza, arruinar o silêncio que aqui fez sua moradia. Seu olhar, afundado em medo e confusão, implorava para encontrar um fim e assim, atendi seu chamado.
- O que... O que é você?! Você... Você... é ao menos humano?! - Dizia o garoto enquanto assistia minha katana brindar os céus e, de maneira elegante, descer até seu coração. Uma única direção, de cima para baixo, esse era o corte que deveria fazê-lo dormir para cima. Rápido e indolor, era tudo que poderia fazer por ele. Não esperava que ele entendesse mas de seu coração morto eu precisava. Isso é o que meu deus maldito tanto almeja e ordena. Entretanto, você não poderia fazer isso ser simples, não é? Animais sempre esperneiam na hora de sua morte, sempre. Sua lâmina, podre mas veloz, se colocou na frente de minha ofensiva e a bloqueou com sucesso. Metal contra metal, mantinha pressão, mantinha meus ouvidos atentos ao som de seus músculos se esforçando ao máximo (suando o máximo) para fazer frente a um mero movimento meu. A pressão do golpe, apenas sua pressão, já fazia sua lâmina rachar aos poucos e, com cada nova ferida aberta, um pouco de esperança fugia de seu olhar, - Isso é pesado, esse golpe é muito pesado...     
A realidade finalmente parecia cair em seus lábios enquanto, sem folego e com os músculos de seus braços desgastados, saltava para traz com toda força que ele tinha. Ainda manteve de pé, com dedos trêmulos segurando sua lâmina, teimoso demais para desistir. Teimoso demais para saber qual é a hora de receber uma boa morte. Estava apegado a vida, sob seus feitiços e ilusões, era uma alma infante afinal. Apesar de tudo, de todo o desespero que corria sem pudor por suas veias, ele mantinha o olhar calmo. Pensando em sua própria estratégia, pensando em qual seria seu movimento nesse xadrez que valia (cedo ou tarde) sua vida. Vê-lo assim, trabalhando em sua próxima armadilha, tendo como gasolina a vã e tola esperança de me derrotar, me fazia lembrar de Maquiavel e seus incontáveis planos. Uma mente brilhante e é por ela que estou fazendo isso. É por ele que desço ao nível de ser lacaio de deus esquecido no novo mundo. O ultimo presente de Mai para mim, a única parte dela que resta nesse mundo, esse era a gasolina que me fazia avançar rapidamente contra meu oponente: é por ela o motivo de eu finalmente partir para a ofensiva.
Isso o pegou de surpresa, minha mudança de tática aplicada nesse xadrez. Dessa vez minha Katana não parava de ir a seu encontro, em tantas direções e de maneira tão veloz que parecia que eu tinha múltiplas mãos e braços. Meus passos avançavam gradativamente, roubando mais de seu espaço nesse tabuleiro a medida que ele (com sua própria espada) bloqueava meus ataques enquanto tempo para ele pensar escapava entre seus dedos feito areia. Desesperado, suando horrores, e pressionado, ele somente poderia ir para trás e torcer para não se enrolar em seus próprios pés enquanto dançava o ritmo que eu conduzia. Pernas suplicando, ossos fazendo fazendo barulho, não ia demorar antes que seus músculos o traíssem. Mas, no final, não foi sua carne que assinou sua sentença de morte. Não, foi seu metal vagabundo que quebrou em mil pedaços que ao fez depois de bloquear mais um movimento de minha lâmina.
- Criança, uma lição para sua outra vida, trate sua espada como extensão de seu corpo... Se ela é fraca, mal cuidada, te deixará na mão quando mais precisar... Não muito diferente das pessoas, se pensar bem.  - Falava como se fosse seu professor, com uma serenidade que mais parecia irrita-lo mais do que qualquer outra coisa. Sem sua espada, com braços e pernas no limite, nada poderia salvá-lo de minha espada atravessando seu coração dessa vez. Nada ordinário, pelo menos. O que ele fazia a seguir, o brilho que ele invocava, fazia meus lábios se esticarem de forma doentia. Quase como se fosse um sorriso por finalmente está assistindo algo que mereça minha atenção. O garoto invocava uma esfera laranja, muito parecido com um pequeno sol, entre seu peito e minha katana. Derretendo-a só na ameaça de toca-la. Finalmente ele mostrava aquilo que vir assistir. Com olhos arregalados, quase felizes, pulava para trás enquanto em pouco segundos fazia dezenas de selos de mão. Invocava meu próprio monstro para engolir esse sol rebelde que corria em minha direção como se eu fosse uma ovelha e ele uma raposa sedenta. - Liberação de Água: Técnica do Projétil do Dragão de Água!  
O dragão toma forma, nasce de minha garganta e corre até alcançar a luz do dia. Suas presas são afiadas e seu rosto, perfeitamente estupido, está repleto de raiva. Invoca-lo assim, sem nenhuma fonte de água por perto e dessa magnitude, consome muito de meu vigor. Faz a idade pesar nos ossos que nem tenho mais. Sou apenas um monte de fios agora, uma velha boneca de pano que teimava em ser maior que a própria morte. Ainda cansada, ainda brincando com meus limites como se outrora eu fosse jovem, continuava formar o dragão de água. Um ser imenso, uma estrutura líquida que bate nos céus de tamanha altura. O dragão, agora completo, abria sua boca e mostrava seus muitos dentes enquanto engolia a bola de calor (o pequeno sol) sem mais nem menos. O sol, perante as ondas, esfriou e se tornou vapor.
Vapor. Era isso que ele queria, era isso que se resumiria todos os seus atos até aqui. O vapor denso tomou todo o campo de batalha, roubou a visão de nos dois. O garoto, mesmo sem vê-lo, podia escuta-lo suar. Escuta-lo temer a escuridão que o tomou no agora. Tremendo, o não saber o que virá a seguir era a pior tortura para uma alma em sua situação. Mesmo assim, sua postura interior não mudava, Sempre estava pensando, imaginando quais seriam os próximos passos a tornar realidade nesse xadrez. Aquilo me fazia esboçar um pequeno e sincero sorriso, ele realmente me faz lembrar dele: do ultimo fragmento que resta de Mai nesse mundo. Porém, esse sorriso logo acabou de ser morto. Desaparecer. Na minha existência atual, não tenho tempo para isso. Talvez, eu nunca tivesse.
O garoto que me enfrentava temia a escuridão, temia ficar sem seus olhos. Se acostumou a vida boa de sempre tê-los a sua disposição, eu não. Os fecho de bom grado pois, eu nasci na escuridão. A domei como qualquer outro animal que surgisse a minha frente. Escuto seus dedos se movendo, o tremor deles. O tremor de seu coração acelerado e uso isso a meu favor. Ouvindo sua melodia sei sua posição e como uma serpente, me movo sem que o barulho faça parte de mim. Essa era a arte da Matança Silenciosa sem usada, uma arte que existe há gerações em meu povo. A arte de se mover que nem uma sombra no escuro. Uma faca negra, uma kunai, estava discreta segura em meus dedos. Ciente do que deveria fazer, de sua função como uma boa ferramenta que é, ciente que deve se lambuzar de sangue infante para esta missão está completa.
- Outra lição criança, treine todos os sentidos igualmente, se acostume com a ausência de cada um deles... Numa batalha, tudo isso pode ser tirado de você. Tudo. - Em um piscar de olhos, estou atrás dele, com sua garganta a mercê de minha faca. Falo com ele sem nenhuma milícia na voz, estava calmo e até gentil. As palavras de minha boca saiam quase como se estivesse falando para um aluno meu. Quase como se eu realmente me importasse com ele. A faca em seu pescoço, sedenta por vermelho, começou a percorrer seu caminho. Cortando sua garganta sem cerimônia, em uma linha reta e limpa. Afogada em sangue a lâmina ficava, não era a primeira vez que eu ceifava uma alma tão jovem dessa terra e certamente não seria a ultima, entretanto mais uma surpresa me ocorreu.  Mais uma surpresa arregalou meus olhos negros, quase capturando uma centelha de vida que teimava em existir neles. O que eu acertei, o que cortei a garganta sem dó ou piedade, era apenas um clone de lama que logo tratou de afundar (prender) minha mão (e kunai) em seu interior. Antes que eu pudesse fazer algo a respeito, dizer uma palavra sequer, meu corpo estava tomado por linhas e mais linhas de um selo amaldiçoado. Estava paralisado, como uma boneca de pano, um coelho a mercê da raposa. - Armadilha com Clone, uma boa estratégia... Acho que meus sentidos estão um pouco enferrujados afinal criança, muito bom. Um ponto para você, infante. Deixou-me em um xeque mas... Será corajoso o suficiente para transformar esse xeque em um xeque-mate? Será capaz de sujar suas mãos - sua alma - de vermelho e sangue? Quando se faz isso, se vai por esse caminho sombrio, não há boa ação que o salve. Isso ficará com você em seus sonhos, em seus momentos mais íntimos, ti perseguirá para além do tumulo. Bem, acho que essa é a pergunta de um milhão de dólares não?  Ou devo dizer, a pergunta que vale uma vida?        
Decepção. Sua mente indisciplinada vacila, seus pés vão lentamente para trás. Não havia mais uma cortina entre nos, eu podia ver suas emoções perfeitamente. Seus olhos estão em conflito, a realidade pesava sob ele e suas jovens mãos. Ele as descia, colocava cada um deles para olhar o chão e descansar. Seus ombros, antes confiantes apesar de tudo, ruíam aos poucos. Ruíam em face das dúvidas que sentia. Não me entenda mal, esse garoto era um sobrevivente. Fez muitas coisas para chegar aqui, muitas que mancharam seu histórico, mas nunca algo assim. Nunca algo que tornava seu sangue tão ímpio assim, nunca um assassinato. Tirar uma vida é tão intimo quanto dá-la, agora ele sabia disso. Agora ele sentia seu peso e, diante dele, só surgia angustia. Uma angustia que o consumia.
Lagrimas desciam de sua face, lágrimas que eram feitas para mim. Ele não tinha ideia de como seguir, como sujar as mãos de sangue e continuar o mesmo de antes. Tolo, não há como. Vê-lo chorar em silêncio, assisti-lo em sua própria devastação, me faz lembrar quando as outras vilas ficaram moles. Em nossa cultura, em Kiri, aquele que é incapaz de levantar uma espada e embriaga-la em vermelho não merece continuar vivendo. Sua fraqueza pode significar a morte de nosso povo, dos que têm o luxo de continuarem inocentes. Por sorte, sua hesitação somente irá custar sua própria carne e nada mais. Enquanto o garoto hesitava, perdido em sua moralidade e medo, concentrava calmamente uma eletricidade roxa em minha mão presa e, lentamente, quebrava sua armadilha. Quebrava sua única chance de sair daqui vivo.
De repente, o garoto é tomado pelo instinto mais primitivo de todos. O instinto da sobrevivência. Como um animal, confuso, abandona sua tristeza e colocava no lugar uma raiva salgada. Pressentindo que estou fazendo minha jogada, ele não hesitou dessa vez. Não fraquejou dessa vez.  Sabia que ele estava para fazer um ato que me deixará em maus lençóis mas, percebendo suas semelhanças com Maquiavel, como um bom professor (e pai) não pude deixar de sentir um orgulho do que ele estava prestes a fazer. Meu coração, aquecido por um instante perdido no tempo, assistia maravilhado enquanto ele denunciava seu dom para o mundo em pleno esplendor. Cinco esferas de tom laranja, cinco "pequenos sois", nasceram e circulam ao seu redor. Sois que pareciam respirar, estarem vivos, e crescendo a cada segundo que passa. Crescendo com toda a raiva e medo pulsante que existiam no peito de seu autor.
- Fez sua escolha, viva com ela... Viva pelos minutos que ainda restam criança. Não se arrependa do que fez, não peça desculpas, a vida é curta demais para isso.  - Dizia, calmo como sempre. Um movimento de sua mão e as esferas foram todas contra mim. Não podia me mover, ainda não tinha conseguindo quebrar o selo que me prende nessa posição. A proximidade das esferas, ainda que não tocassem minha pele, era o suficiente para derreter os fios negros que constituíam meu corpo. Derretidos, colocados sob minha falsa pele, apenas dor era o que restava. Gritos e mais gritos desenhavam seu caminho pelos meus lábios a medida que as esferas se aproximavam de mim.  A medida que o braço da morte se aproximava de mim. Esticados, prontos para receberem o corvo que desejava voar para além dela. Não, ela não me levará. Não me permitirei ser pego pelo seu charme e, através dele, ser esquecido. De voz alterada, alta e com um toque de insanidade dirigia mais palavras (palavras animadas) para aquele pequeno garoto e seu exercito de sois. - Você está usando seu dom, o que lhe torna diferente. Único, finalmente. Nada mais justo do que eu retribuir na mesma moeda, não?      
As esferas de calor, a cinco esferas irmãs em tamanho e intensidade, se aproximava cada vez mais e não desperdiçando um segundo sequer. Cada vez que se aproximava um centímetro de minha carne, fechando a lacuna entre nos de maneira paciente e até sádica, a iminência do calor de suas esferas era mais do que suficiente para derreter (corroer) aos poucos os fios que formam meu atual corpo. Isso impedia que os "elos", os fios negros que tornam meu corpo realidade, conseguissem se "regenerar" a tempo. Odeio admitir mas, esta criança, está fazendo em sentir mais do que todas esses anos que passei sem minha amada. O calor dessas esferas, desses pequenos sois se aproximando de minha pele, me lembram o calor de seu amor. O calor do corpo de Mai alinhado ao meu mas... mas no fim isso é apenas uma mera imitação. Esses sois de nada podem chegar perto da chama que foi sua existência. O brilho e, comparado a isso, essas esferas de calor não passam de fugazes brisas contra minha pele. Contra o meu ser deformado.
As cinco esferas estavam quase sob minha pele e eu sentia a dor pulsante de cada fio negro - de cada víscera minha - sendo derretida aos poucos pelo seu calor. Cada vez que isso acontecia, um grito de dor parecia querer explodir meu coração de dentro para fora. Porém, eu não daria a ele essa satisfação. Não mais. Brindava meus dentes, os regia em meio sofrimento, mas não abria o jogo. Não gritava apesar da vontade, apesar do meu instinto ser esse. Sou mais do que um animal, sou um Jaavas, não tenho tempo para isso. O suor pareciam lágrimas descendo de minha testa, rolando por minha pele como uma navalha, mostrando todo o sentimento que renego dar-lhes palavras. O receio de ter a morte me encarando em forma de pequenos sois, o sabor amargo de saber que não importa o que eu faça, não posso domina-la. Supera-la, voar como um corvo para além dela e trazer... Trazer Mai de volta para esta terra como ela é e não um reflexo distorcido do que ela foi. Como uma aberração, como a criatura que me tornei.
Aflito, confuso por trás da minha fachada de seriedade absoluta, uma coisa estranha começa acontecer. Uma barreira de tom roxo escuro se expande de meu corpo e sua energia, solidificada, barra a ofensiva das cinco esferas de calor e, de maneira progressiva, começa a roubar seu espaço e joga-las contra seu mestre. O garoto sobrevivente.  Essa era a técnica da Barreira Expansiva e seu tom e espessura era um reflexo de meu chakra corrompido. Senti-lo, experienciar ele vivo e indo devora-lo, fez a criança que me enfrenta suar frio por um momento e ficar paralisada diante seu avanço. Por pouco, a medida que a barreira se expandia, ela não é esmagada enquanto se encontrava obrigada a recuar até permanecer contra uma parede que estava atrás dela. Sem ter para onde ir, com a barreira se expandido e indo passos largos até seu encontro, seria fácil (até desejável) esmaga-lo contra a parede: esmaga-lo até que se tornasse uma pequena e insignificante poça de sangue e órgãos.   Mas não é assim que Jashin quer, não é assim que o jogo funciona.
- Uma outra lição para você, infante, esteja sempre ciente do seu entorno se não ele poderá ser jogado contra você. Não importa a pressão do momento, se deve está sempre atento a tudo que o cerca: isso pode salvar sua vida ou termina-la. - Dizia calmamente, observando o garoto surpreso por ter uma parede atrás dele. A barreira a sua frente não parava de se expandir e, aos poucos, exprimia-o sem piedade. Seus ossos quebravam e, com eles, seus lábios começavam a gritar. Seus órgãos, seguindo a maré, também estavam sendo exprimidos e esmagados sem cerimônia pela a barreira que não pararia de crescer até consumi-lo por completo. Ao mesmo tempo, com um serenidade (admito) doentia, eu focava em produzir uma eletricidade roxa que teria como foco inicial a Kunai (e mão) presa em seu clone de lama endurecido. Gerava apenas o suficiente para destrui-lo e assim, me livrando dos selos amaldiçoados que me acorrentavam. A corrente elétrica, mesmo com sua força parcialmente contida, era o bastante para atravessar todo o cenário e destruir minha própria barreira. Salvando a criança de ser esmagada até a morte por ela, ao mesmo tempo que o eletrificava com intensidade suficiente para discorda-la momentaneamente.  - Liberação de Relâmpago: Eletricidade Roxa!
Lá estava eu, com a eletricidade roxa focada em minha faca negra, enquanto decepcionado percebo que a criança ficou desacordada com meu ataque. Esperava mais, Jashin não aceita qualquer sacrifício. Fruto de seus desmaios, suas esferas de calor foram embora, todas as cinco desapareceram em um piscar de olhos. Andava até seu corpo, os fios negros derretidos faziam cada passo parecer uma entrada no inferno. Parecia um patinho indefeso, pronto para o abate. No desfecho da batalha, desse impasse, ele é apenas uma criança apesar de todo sua inteligência e talento bruto. Brincava com a Kunai eletrificada enquanto isso, a passando entre meus dedos como se fosse uma moeda, dedos que deveriam está só a carne viva neste momento se eu ainda fosse humano. Apenas humano. Na real, eu estava protelando pois, ao olhar para seu corpo infante no chão, um pensamento tomava conta de minha mente - a possuía com angustia sem dó ou piedade: esse menino poderia ser Maquiavel, poderia ele a está sendo prestes a ser morto aqui... Tanto talento e inteligência mas, se eu pegar leve no treinamento, seria ele aqui. Seria ele morto aqui, o ultimo pedaço de Mai nesta terra estaria perdido de mim. Não posso deixar isso acontecer, jamais.     
O garoto desperta, levanta-se com urgência. Posso ver seus olhos escuros bem pela primeira vez e, por artimanha do destino, seu tom de ébano lembrava a mim sobre o meu filho mais uma vez. A semelhança entre eles era perturbadora. Podia sentir toda a raiva em sua expressão pálida distorcida e, mais importante, podia reconhecer o medo que se camuflava por além dele. Eu tinha esse mesmo terror antes de me tornar essa criatura feita de fios negros sem fim, o terror da morte. O receio do iminente esquecimento diante do tempo. Isso é o que fez levantar, ficar perante meu avanço felino e matador. Foi a teimosia de não perder sua vida, agarra-se sua pequena e miserável existência, que o fez jogar sua ultima carta na mesa. Seu curinga. Munido de um sorriso psicótico, que se perdeu entre a audácia de um cavaleiro e o susto absoluto, fez várias esferas de feitas de calor - dezenas delas - surgirem de repente e cercarem seu corpo por completo. Cumprindo todos os ângulos possíveis, esses "pequenos sois" orbitando seu redor eram sua derradeira defesa. A sua defesa absoluta.  
Seus sois, suas dezenas delas, cobriam todos os ângulos de ataques possíveis enquanto dançavam em torno de seu mestre. Eu corria em sua direção, mesmo que cada passo que fazia não havia de se perder em pressa ou desespero. Pelo contrário, meus passos eram casuais. Dignos de uma aula de baile tamanha eram sua precisão e quietude. A kunai cercada de eletricidade roxa era lançada contra meu inimigo, o menino que apenas sorria ao ver tomando minha ofensiva tomando forma. Mostrando seus dentes como um tubarão, ele estufa o peito sabendo que aquilo não seria o suficiente para detê-lo. A emoção, a tão desejável vitória, estava a alcance de seus dedos: bastava ter coragem, coragem para estica-los.
- Técnica do Clone da Sombra de Kunai - Exclamava pelos meus lábios de maneira serena, fazendo questão de anunciar meu próximo movimento neste xadrez por curiosidade de ver como essa criança - essa criança tão parecida com meu próprio filho - lidará com um ataque tão direto assim. Me pergunto, no meu mais intimo momento e silêncio, se Maquiavel seria capaz de escapar de algo assim. Se o treinei para ser alguém que sobrevive a crueza do mundo, para ser um homem do qual Mai se orgulharia. Fazia os selos de mão de forma tão veloz, tão fugaz ao vento, que mal dava tempo dos olhos do garoto registrar nem sequer a sombra deles em seus olhos negros.  Essa técnica é uma criação minha, cozinhada em meus anos de juventude quando ainda estudava as proeza do grande Terceiro Hokage. A faca negra que lancei, em um instante perdido no tempo, se tornava dezenas de projeteis. Projeteis cobertos da mesma eletricidade roxa da original e, mais importante, projeteis que não esqueciam seu objetivo mesmo na multidão. O infante abençoado com a Liberação de Calor. Abençoado a não ser esquecido pelas cruas areias do tempo, se tiver ousadia para tanto. - Confiança demais, orgulho demais, pode levar até o mais poderoso guerreiro ou rei a ruina... Não esqueça disso, jovem alma.  
Meus conselhos foram um gasto de saliva inútil, entraram por um ouvido e saíram por outro. Mesmo com meu alerta. ele se recusa a se mover. Embriagado na própria soberba, acredita que sua defesa de múltiplos sois, múltiplas esferas de calor ao seu redor, será o suficiente para deixá-lo a salvo de minha artimanha. A tolice da juventude é um luxo que já levou muitas almas para o outro mundo, incluindo alguns amigos meus. Eu a reconheço de longe em seu sorriso largo, em sua face zombeira diante minha experiência de vida. Porém, não se preocupe, não cheguei até aqui perdendo a cabeça por besteira como essa. Ele ri de mim, de meu ataque que não perde tempo cortando o vento como uma navalha perfeitamente lapidada, mas me mantenho calmo. Me mantenho como a raposa velha que sou. Envelhecer em minha profissão é uma dádiva conquistada a sangue e fogo.
Facas negras correm contra o vento, indo em direção ao corpo infante daquele que doma uma boa dezena de sois em seu entorno. Elas estão ansiosas pelo seu sangue, afiadas como nenhuma outra lâmina sonharia em estar. Ainda sim, por mais bem lapidadas que fossem, de nada seu metal caro adiantou diante as esferas de calor que se encontravam ao redor desta criança de olhos de ébano. As facas derreteram ao seu encontro, a um liquido de cor prata se resumiram perante o embate contra sua defesa absoluta. Derretidos, como lágrimas de fogo aquecidas, choram e batem sob o solo que nos sustenta em questão de instantes. Kunais, outrora tão imponentes e voando em sua direção, agora não passava de uma "água planteada" sob um chão sujo. Imundo.
Ele ria, não sabia dizer que era de alegria por está me vencendo neste xadrez ou se a sanidade só o estava abandonando no auge de nosso jogo mas, logo esse menino via que não tinha razões para isso. Engolia a seco, assistia sua própria garganta queimar como se ela tivesse acabado de viajar pelas chamas do inferno, quando notava que a eletricidade roxa que existia nas lâminas (agora derretidas) ainda persistia. Teimosa como seu mestre, a eletricidade roxa órfã de uma lâmina continuava perseguindo seu alvo enquanto tomava a forma semelhante a de uma teia de aranha. Percebendo isso, mesmo que o silêncio ainda fosse o rei de seus lábios rachados, podia sentir seu coração bater mais rápido: render-se, como um animal qualquer, ao doce néctar do desespero e insanidade.
Liberação de Terra: Parede do Estilo Terra! - O garoto brindava ao ar suas palavras que tentavam, em vão, manter a auto ilusão de que ele estava no controle de seus nervos enquanto, em movimento ágeis, fazia uma pequena mas eficiente sequência de selos de mão. Nada que meus olhos negros não pudessem acompanhar, era quase como assistir um filme em câmera lenta para mim porém, não posso tirar todo crédito dele: é uma boa técnica para mãos tão jovens saber moldar. Instantes se passaram e, ao seu comando, a terra a sua frente começou a se mover. Viva, o chão "cospe" uma parede que logo sela o caminho entre o ataque elétrico e o sabor tão jovem da carne desta criança. Ele fez uma muralha a sua frente, uma que facilmente corta os céus dessa madrugada sem nuvens ou testemunhas. Com um gesto ele ordena que suas esferas feitas da Liberação de Calor se afastem, não querendo que elas prejudicassem sua defesa de terra. Confiante, o garoto permitiu que a parede fosse sacrificada nesse xadrez contra meu ataque de eletricidade roxa. Funcionou, a ofensiva não a penetrou, ainda que a construção se encontrassem com diversas brechas após isso. - Bom movimento porém, velho, longe de ser o suficiente.       
O fiz se afastar de suas esferas. mantê-las ao mesmo tempo que Parede do Estilo Terra era impossível, o intenso calor acabaria por prejudica-la. Exatamente como calculei. Não posso vê-lo por trás dessa muralha mas, como todo jovem, deve está embriagado demais com o momento para ver claramente o futuro. O Horizonte. Ele parava um pouco, para pegar um pouco de ar e se vangloriar, enquanto meu plano não parava de se movimentar. Movimentar-se como uma serpente por meio desse tabuleiro. O metal aquecido, o mesmo que outrora eram as Kunais que se lançaram contra suas esferas de calor, continuavam a se arrastar pelo solo enquanto toda essa cena se desenrolava. Não demorou para que ela sutilmente atingisse a muralha de terra e, pelas brechas que minha ofensiva de eletricidade roxa deixou, transbordar para dentro. O metal líquido e quente ameaçou os dedos do garoto, pegando-o de surpresa enquanto se recuperava. Forçou-o, assim, saltar instintivamente para cima no intuito de evita-lo.
- Liberação de Água: Colisão da Onda de Água! - Sem selos, um vórtice de água que se dividia na linha tenûe entre a calmaria e tempestade, toma conta de tudo em minha volta. Separado de seus sois, de suas esferas de calor, que não era rápidas o suficiente para segui-lo uma chance surgiu, Uma chance de acabar com essa brincadeira aqui e agora. Solitários, as esferas feitas de calor rapidamente se esfriam diante da imensidão do tornado de água que conjurei para esse campo deserto. Rapidamente seus sois, antes tão quentes e perigosos, não passavam de mais uma memória a ser engolida por minhas ondas. Seu mestre, o garoto dos olhos negros, lutava mas, no fim, a força bruta desse ataque de água o engolia e a pressão que ele fazia era tamanha que eu poderia jurar escutar boa parte de seus ossos quebrarem em uma tacada só.
Ossos quebrados, lábios enfogados, se eu quisesse ele morreria neste instante porém, não era assim que meu senhor e capataz desejava. Jashin só queria o melhor para si e, como um bom servo, preciso garantir que esse garoto é da melhor safra. O melhor vinho entre os milhares que eu poderia escolher, Sendo assim, com tão somente um olhar, fiz o tornado se desfazer e sua água cair sob esse solo amaldiçoado.  Sob meus pés, há a vida que acabei de salvar. O menino dono de dom que teme usar, aquele que com a Liberação de Calor poderia ter sido mais intenso que o próprio sol que banha nossas cabeças. Tolo, preferia ser esquecido, varrido pelo tempo tendo, em seus dedos, o ouro para que brilhasse para sempre. Uma decepção.
Sua muralha havia sido completamente obliterada pelo meu pequeno ataque e, ainda sim, acordado ele engatinhava até lá. Em seus olhos encontro dor, pequenas lágrimas que traduziam todo um sofrimento que seus lábios se recusavam a dar o luxo de seu oponente saborear. Isso exige disciplina, é algo que respeito muito embora apenas o assistisse rastejar inerte. Curioso para saber se isso era tudo que ele tem, o comtemplava como um cientista contempla um rato correndo como um ignorante pelo labirinto. Esperando por alguma surpresa, algo digno de nota, mesmo sabendo que é muito provavelmente uma perda de tempo.  
Ele queria distancia de mim, era obvio que isso fazia parte de um estratagema. Uma derradeira carta que ele ainda tinha por baixo de sua manga. Eu poderia mata-lo aqui, poupar seus joelhos de se ralarem em carne viva enquanto o garoto teimava em se arrastar. Em seu caminho, logo atrás de cada movimento seu, um rastro de sangue permanecia. Já havia perdido muito deles, muitos litros de seu éter vermelho, não aguentaria mais do que um punhado de minutos antes de ser devorado pela escuridão. Por um momento, um instante de fraqueza de meus olhos frios, pensei em encerrar sua existência no agora. Poupá-lo de Jashin, de morrer como um mero cão na estrada. Talvez, fosse sua semelhança com meu filho turvando os pensamentos ou, quem sabe, o bombardear do antigo eu que foi outrora amado por Mai. Porém, no desfecho, isso não importava. Eu e minhas vontades deveriam ser sacrificadas pelo meu deus... Pelo meu dever de protegê-lo (Maquiavel) das correntes que um dia essa divindade enrolou em minha carne e osso.
Esses pensamentos, eles traíram minha atenção por um segundo que mais parecia um filho da eternidade em si. Perdido em mim mesmo, em dúvidas e medos por baixo da crueza de sempre, sou surpreendido quando - distante de mim - o garoto de olhos de ébano, com seus dedos em carne viva e dedos que gritavam a cada ato que desenhavam nesse ar, faziam selos com uma única. Uma prova de habilidade que assinava que essa "viajem" no foi uma perda de tempo afinal. Ele me observa com determinação, com uma chama em seu olhar que por muito tempo esteve ao meu lado na figura de Mai. Ela e esse infeliz infante guardam em si uma teimosia irmã. Um sopro de alma que vendi ao diabo há muito tempo. Após uma longa respiração, meu oponente lançava um poderoso e continuo jato de vento contra mim a partir de lábios tão secos quanto o deserto.
- Liberação de Vento: Ruptura... Bom, bom para seu nível. E usada de maneira continua? Isso é novo. Muito bem, criança. Pontos para você. - Dizia calmamente contra o vento, alto e firme o suficiente para roubar a atenção de suas orelhas apesar de tudo. A ventania é forte, centralizada e desesperada. Esse sopro leva quase tudo de sua força que restava em seus músculos. Trazia os sopros da mudança com ela, ou assim, seu mestre ansiava. Logo me vejo contra uma parede, contra todo esse vento que, de tão forte e brutal, cortava um pouco de meu traje. Entretanto, meus pés que estavam sob a água de antes (feita pela minha própria técnica de outrora, Liberação de Água: Colisão da Onda de Água) era o real alvo dessa jogada de xadrez. Todo esse vento era uma distração... uma gasolina para o que vinha a seguir. Centenas de Papéis Explosivos surgem da terra em que piso e abraçam com tudo minhas pernas. Explodindo-se todos de uma vez um pouco depois de reconhecer sua técnica. Reconhecer o que estava nas entre linhas todo esse tempo. Ele havia se preparado antes, planejado toda essa cena com esmero, colocado esses papeis explosivos por baixo dessa terra antes de vir me encontrar e usando a água de meu mais recente Jutsu para camuflar seu movimento com perfeição. Finalmente, sob a luz de centenas de explosivos prestes a serem detonados, percebi a verdade: nessa caçada ele era o gato e eu, eu era o rato. - Essa é a técnica do Estilo Fogo: Formação de Chama Explosiva...  
Um instante se passou e, se eu ainda tivesse nervos e carne, sentiria uma dor que não cabe em palavras. Meu corpo foi partido ao meio, literalmente minhas pernas e a parte tronco voaram para o outro lado da sala. Não os sentia, estavam longe demais para chamar seus fios negros até mim. O que me restará era minha outra metade, apenas a metade de um homem. Onde deveria haver sangue, o vermelho cobrindo esse chão sem apresentar pudor algum, havia apenas esses fios negros de um boneco de pano espalhados por todo canto. Sem forças para se mover, estavam inertes e dormentes, apenas esperando o destino que deveria ser comum a todos: de plebeus a reis, a morte sempre está lá. Sempre estará.   
Não, eu me recuso a aceitar esta arbitrariedade. Já perdi tudo para essa senhora, a morte, para parar aqui. Ela me tirou Mai, meu mundo, de meus braços. Destruiu tudo que mais amava, sem motivo ou dignidade, ela apenas fez para saciar seus caprichos. Não, não deixarei meu filho sentir novamente o vazio que isso trouxe, a sensação de perdido que isso nos leva. Não! eu não morrerei aqui, em meio da poça de fios sem fim. Livrei-me da carne, do sangue fervente, me reduzi a tão somente um boneco de pano falante, para escapar disso. E assim o farei.
De estomago para cima, sentindo uma dor que parece perfurar todo meu corpo e se recusar a descansar, viro-me para diante do chão destruído que me cerca. Bato de cara no chão, vendo de perto a sujeira que fizemos em cada ladrido desta estrada. Como um rato, começa a rastejar por entre a poeira. Rebaixo-me ao nível dos animais apenas para sobreviver... Não, era por mais do que isso, ia por além de meus desejos egoístas de permanecer nesse mundo até que o mesmo se reduza a cinzas. O que me movia, de verdade, era a intenção de nunca deixar Maquiavel - a ultima parte de Mai que sobrou nesse universo maldito - sozinho e a mercê da fúria de Jashin. Tenho que viver para prepara-lo, para treina-lo, para o dia que essa fúria retornar para tomá-lo.  Munido desse pensamento, mesmo em meio a imundice, meu olho negro é capaz de brilhar. Forçando-me por além da dor, afundando meus moídos braços em terra, começo a engatilhar para longe de meu algoz. Ele, sendo quase um mensageiro da própria morte ou, quem sabe, de Jashin; apenas ri. Ri durante cada passo que meus braços davam, ri porque sabe que em um momento minha força se esgotará. Ri, acima de tudo, porque sabe que é inevitável... sabe que minhas braçadas são apenas o debater de um peixe fora d´água: frenéticas, bravas mas, ainda sim, vãs. Completamente vãs.

- Esse é o Senhor dos Cinco Elementos, ele está aos meus pés. Está fugindo com o rabo entre as pernas, um rato como é. Arrogante demais para saber que não é o gato nessa caça.   - Escuto ele aclamar, caminhando devagar até que a abertura entre nos se reduzisse a praticamente nada.  O garoto parecia saborear a situação em que estamos, sem pressa em se deleitar em sua vitória iminente. Em seu rosto havia um sorriso, não descarado mas sim, sutil. Como se tudo isso já tivesse sido escrito por ele, que agora ele estaria calmante apenas lendo o roteiro que fez e desenhou com tanta maestria. Bem, em uma coisa ele está certo, não tenho mais tanta força. Simplesmente correr, esperar que algum deus venha meu resgate, é uma estupidez. Volto minha cabeça aos céus, ao sol quente que ameaça minha pele feita em fios negros. O calor desse sol natural, intenso e ainda sim sereno, recorda-me o toque de minha amada Mai, É interessante, no fim, eu lembrar dela.  Do meu inicio. - Já está olhando para o céu, praga? Sabe... Acho que você vai para o inferno. Deixe eu lhe dar um "gostinho" dessas chamas antes de chegar lá. Liberação de Calor: Joia Ardente!       
O garoto de olhos de ébano levantou suas mãos para frente, deixando suas palmas abertas e relaxadas como se estivesse fazendo um sutil alongamento. Através desse gesto ele invocou dezenas de "pequenos sois" que circulavam entre eles próprios antes de serenamente se agruparem e formarem uma imensa bola de calor de tom avermelhada. Eu havia conseguindo o que vir buscar, estou de cara com seu maior trunfo nesse jogo. Tudo foi bem pensado, ele me arrancou as pernas para atrasar minha locomoção... me prender em só canto, um que eu não pudesse escapar de seu ultimo ato nessa peça. Liberação de Calor: Joia Ardente. Era o que eu tanto queria ver e agora, a realidade vem cobrar o preço de meu saciado desejo.
A esfera de calor estava diante de suas mãos e só sua mera proximidade com meu corpo de pano faz seus fios se derreterem como nunca. Eu sentia isso, cada fio indo até as cinzas, era como um milhão de cortes em todos os lugares e aspectos de minha alma. Cortes sem pressa, que faziam o que podiam para abrir mais e me perfurar cada vez mais fundo. Isso só piorou enquanto ele comandava que sua imensa bola de calor se aproximasse de mim - me espremesse contra o solo e derretesse cada fio visual que fazia meu corpo ser como é até não sobrar nenhum. Nisso, como um tiro sádico de piedade, ele deixa meu coração por ultimo: derretendo-o até se tornar uma gosma qualquer nesse chão maculado.
- Xeque Marte, velho maldito.  - Ele sussurrava para si mesmo, em meio ao a embriaguez de seu próprio orgulho, enquanto pisava com desdém na poça que outrora foi o meu coração. O garoto estava ofegante por ter usado quase todo seu chakra mas pronto para ir embora quando ouviu algo cavando a terra há alguns metros deles. Ela meus outros quatro corações, quatro máscaras que tinham se escondido por baixo do solo através do Estilo Terra: Técnica de Esconder-se Como uma Toupeira e lá ficado até essa ultima cartada de meu inimigo ser lançada. Fiz esse movimento nesse xadrez no momento que estava olhando o céu, lembrando de Mai... Lembrando do motivo de eu ter me tornado essa coisa em primeiro lugar. - O que é isso?!  
As quatro máscaras, cada um de uma cor diferente, logo o cercaram. Elas tinham todas o mesmo corpo, o mesmo desenho. Eram criaturas altas e robustas, construídas por fios negros em toda sua extensão. Sem dedos, apenas punhos fechados e ausentes de sentimento ou vida, eles caminharam até meu mais recente algoz. Lentos, mas eficazes não tinha como escapar de sua sentença. Mesmos sem lábios, tendo apenas máscaras em sua face, eram juízes que gritavam seu veredito a ele: que ele foi coordenado a um destino por muito além que uma simples mortes. As máscaras e seus corpos saltaram nele e, antes que pudesse rebater sua guarda e imerso na surpresa, o espancaram com seus punhos negros repetidas vezes. Uma centena de vezes se fez antes que os punhos cessassem e, machados de vermelho, revelassem a criança outrora confiante aos seus pés. O rosto estava desfigurado, seus braços e pernas quebrados até onde mesmo o melhor médico de nossa aldeia duvida que conserto seja possível, como resultado do espancamento que ele sofreu das quatro máscaras de pano. Enquanto isso acontecia, de longe, apenas um comentário calmo e regrado saia de meus lábios novos:
- Criança, tome sua lição final: o Corvo não morre... Não mais, nunca mais.
Dizia isso enquanto as máscaras retornavam ao meu corpo, ou melhor, o que restava dele. As pernas que ele (o garoto de olhos de ébano) decapitou com uma de suas ofensivas e jogou para longe. Restava o suficiente de meu corpo para os fios negros que constroem a forma humanoide dessas máscaras serem o bastante para reconstrui-lo. Fio a fio, como um boneco de pano, as máscaras entravam em mim e desenhavam a metade do corpo que me faltava. Braços. Peito. Rosto. Lábios. Como um artesão, com suas próprias mãos, os fios negros fazem um novo receptáculo -  corpo - para mim. Os fios negros estavam sob meu comando, a mercê da vontade daquele que superou a própria morte em si.
- Acho que precisará disso, senhor. - Em um instante Ebern, o homem de cabelos dourados e olhos verdes dignos de uma floresta, surge ao meu lado. Seu tom de voz era respeitoso, quase servil, enquanto me entregava roupas para vestir meu corpo de fios negros nu. Me vestia de maneira rápida, eu tinha um compromisso a cumprir. Nada de minha vestimenta era diferente da que eu usava originalmente, o que estava sob meu corpo era muito mais do que um traje. Era um marca, um aviso, de que estão lidando com o Corvo Superior. Curioso, indagado por minha aparente pressa, o menino de cabelos loiros deixa escapar uma pergunta de seus lábios pálidos e gelados. - Qual o motivo da pressa meu senhor? Esse usuário da Liberação de Calor não vai a lugar nenhum por um bom tempo. Não há motivo de apressar o ritual.

- Há coisas mais importantes que o ritual e, de toda forma, ainda não chegou o tempo dele. Não, é outra coisa. Preciso conduzir o treinamento diário de Maquiavel e que tipo de pai eu seria se chegasse atrasado no treinamento de seu próprio filho? - Dizia calmante já todo vestido e dando as costas para Ebern. Ele não me respondeu mas, pude ouvi-lo engolir a seco o que acabei de dizer. Ele não vê Maquiavel com bons olhos, ele o inveja. Mas, não tenho tempo de ser o psicólogo deles.  Apenas começava a andar, calmamente e de maneira casual, para longe dessa cena de guerra e para direção a minha mansão. Como lembrança, palavras jogadas e arrastadas ao vento, deixava uma ultima ordem para Ebern. - O usuário da Liberação de Calor, como mesmo disse, ainda está vivo. Leve-o e prepare-o para o ritual. Faremos está noite, quando a lua estiver mais alta. Ah, claro, mande seus subordinados (por gentileza) limparem essa cena. Seria um desgaste desnecessário ter que explicar essa confusão para o Mizukage...  
...
       
Maquiavel POV

Parecia uma eternidade que eu não usava minhas pernas. Elas doíam como o inferno sempre que eu passo eu tinha que dar. Eu respirava fundo, sabia que o sofrimento é opcional. Meu foco estava no agora, na sala que já tinha visto meu sangue antes. As luzes, diferente de seu costume, estava acesa. Para meu azar silencioso, havia um novo turista a lidar em minhas terras.
Não, não era Asami. Era um adulto, com uma barba castanha mal feita. Seus olhos, tais como os meus, dispensavam emoções. Eram frios, suas mãos limpas não estavam. Éramos dois matadores na mesma sala... Perdoe pai, esqueci de o incluir na contagem. Você era nosso juiz, o carrasco que agia através de mim.  
Não desejo saber seu nome, tornará meu dever mais pesado de ser feito. Apenas o via tomar distância de mim, um arqueiro com três flechas em sua aljava, com três chances de me mandar para o outro mundo. Enquanto ajeitava o arco, coloquei uma venda vermelha em meus olhos. Apenas acatei ordens, apenas deixei a escuridão tomar conta. Sua voz pai, sua voz era a única coisa que arranhava sua casca.
- Um de vocês sairá morto daqui, o outro levará glória ao seu nome. Comecem!
Ele exclamava antes de se tornar mudo nesse cenário. Ainda podia ouvir seu coração embora, os dois corações que me observavam. Nenhum deles agitado, aquilo já era um ritual sagrado. Um treinamento, se preferir um nome mais leve. Toda criança tem que derramar sangue para se graduar aqui, comigo não serei diferente.
Ouço a primeira flecha cortar o ar, sua munição está se esgotando a cada segundo que deixamos passar. Sua respiração fora perfeita ao soltar, era um mestre em sua arte e, talvez, em outra vida, poderíamos ter uma conversa. Mas, nessa vida, só me resta mover meu corpo para direita e me esquivar.
Depois de tudo, depois dos corvos tentarem me matar, isso parece brincadeira de criança. Estou perto da parede, escuto a flecha entrar um pouco em seu metal. Eu teria um ou dois segundos de vantagem, um ou dois segundos para sujar minha lâmina com seu sangue. Porém, agora não era a hora. Apenas retirei, com cuidado, a flecha da parede e a segurei com firmeza.
Era a segunda chance dele. Um projétil ia contra mim, eu podia ouvir seu coração vacilar dessa vez. A ansiedade tomou conta de seu ser e o erro, como uma ardilosa serpente, aproveitou essa brecha. O que aconteceu em seguida fora fugaz, lancei sua própria flecha contra ele, as duas se chocaram e as duas, no centro de tudo, caíram.
Era esse o momento. Entretanto, meu corpo não ajudará. Era como uma máquina que precisava urgentemente de ajustes. Disparei-me em sua direção e saquei minha espada em um ato veloz. Podia ouvir sua respiração em dúvida, seus passos querendo ir mais para trás. Mas, tarde demais. Um corte e seu arco de madeira se desfaz em depois e, em um instante, minha lâmina está perante sua garganta.
- Mate-o, Jaavas. Dê a ele a honra de uma boa morte.
Ás vezes eu pensava que meu pai era um samurai disfarçado. Havia dúvida em mim, imagens de uma mulher dizendo suas moribundas palavras para mim enquanto - em uma cama luxuosa - seus olhos se fechavam e tinham a mim como o derradeiro brilho da vida que desesperadamente desejava capturar antes de alçar seu sono. Era o rosto de minha mãe, a ultima fotografia que eu tinha dele e isso me assombrava e me fazia hesitar. Naquele momento, naquele segundo eterno, a minha vida poderia se encerrar.  Então, voltando ao presente, recebi um chute antes que pudesse retornar a realidade, me encontrando com o chão frio que me apara. A flecha final na aljava do arqueiro era sacada e com suas próprias mãos teria minha garganta como alvo se uma espada, uma Katana, não tivesse o atravessado pelas costas. Mesmo fora de seu alcance, de seu beijo frio e metálico que pouco lembrava os lábios de minha mãe, eu sentia a sombra da morte me paquerando e por pouco não me levando com ela. Isso fazia meus ossos tremerem, o medo subir em minhas veias e o olhar de desgosto de meu pai me encarar antes de, com uma frase fria como a neve, acabar com toda essa cena como somente ele poderia terminar.
- Você não recebeu nem uma boa morte nem a glória. Mas, apesar de tudo, carrega meu nome.
Tirei a venda de meus olhos, tempo o suficiente para assistir ir embora.
...
A cor de meu clã é branco, queremos dizer que somos os mais puros de todos. Francamente, desde cedo, soube que isso era mentira. Deveríamos usar uma cor vermelha com orgulho pois, é ela que representa o tanto de  sangue que derramamos para chegar aqui na alta sociedade. Ainda estamos reconquistando influência, mas, os mais velhos ainda recordam de nosso nome.
Jaavas. Esse era um dia triste para qualquer um que carregue esse nome. Por isso, exclusivamente hoje, os tons de minha roupa mudaram. Eram escuros, indicava um luto que jamais iria sarar. Eu observava nosso retrato, antes disso se tornar nossa realidade. O sangue ainda era derramado sim, não éramos santos. Porém, até esse instante, algo além de crueldade e ganância nos unia.
O retrato estava perante mim, parecia algo de outro mundo. Meu pai estava sorridente, vestindo nosso tradicional traje branco com pingos de azul. Medalhas numerosas ocupavam o espaço de seu manto, todas polidas com esmero. Antes de minha existência, elas eram como sua prole, seu bebê. Um herói de guerra ele era, com o orgulho de seus atos estampado nas vestes.
Minha mãe se chamava Mai, era um nome ordinário para alguém que veio de uma família nobre. Pouco lembro sobre ela fora o fato de ser uma ninja talentosa e uma ótima mãe. Era tão letal com os outros quanto era boa comigo. No retrato ela também sorria ao lado de meu pai. Porquanto, de uma maneira mais tímida. Reservada.
Sobrava-me eu no centro, querendo desesperadamente imitar meu pai. Até minhas pequenas vestes eram clones, imitações baratas, das dele. Eu tinha meros quatro anos e, no auge de minha estupidez, ele era meu herói. Uma lágrima acanhada descia de meu rosto antes que o aroma forte de cigarro pudesse arruinar o momento. Ele prometeu parar com esse vício, e, por seis anos, conseguiu. Menos hoje, hoje não contava… Nunca contava.
- Chegou o momento de prestarmos as honras, não se atrase; filho.
Esse era o único dia que ele se permitia me chamar de filho, esse era o único dia que eu era permitido o chamar de King Jaavas.    
...
Era um dia nublado, nossos cabelos se molhavam. Meu pai, que se permitir fumar unicamente nesse dia, praguejava sobre como a natureza conspirava contra ele. Estamos no cemitério, desde que o regime sangrento voltou a vila, não se tem muito espaço para enterrar as pessoas. A maioria, na melhor das hipóteses, eram queimados. Isso quando não eram simplesmente descartados.
Ter um túmulo se tornou símbolo de riqueza. Apenas os melhores poderiam pagar para ter. Flores deixadas por entes queridos, eram murchas na chuva. Triste como a maioria só dar valor ao que tem, ao que pulsa com vida, quando perde. O Akagan, ao longo dos anos, abriu meus olhos quanto a isso. Mostrou-me como tudo está conectado.
Mesmo sendo um longo caminho, pai e filho não se falavam. Não havia nada a ser dito que nossos atos já não descem conta. Nossos passos eram lentos, esse momento não tinha pressa para ser feito. Ainda que na paz, em nossas costas, carregamos nossas lâminas. Uma mistura de tradição e cautela se misturavam no ar.
Porém, isso alterou-se. Nossas expressões deram adeus a neutralidade. Não para chorar sob uma lápide, não. A raiva nos consumia e as nossas lâminas, mesmo frias, sentiam, Haviam meia dúzia de ladrões de túmulos perante aos nossos. A audácia, que beirava a insanidade, movia seus atos. O destino deles fora selado no momento que nossos olhos se encontravam.
O caixão já haveria de ter sido desenterrado, as pás já foram deixadas de lado. Eles estavam felizes, banhados em ouro e joias antigas que lá repousavam. Todos carregavam espadas enferrujadas, tiradas, provavelmente, de algum samurai ancião que rodava por essas bandas. Mal nos percebiam, como o resto de meu clã, a ganância os consumia.
King puxará concomitante sua Katana com minha Tanto, era uma união improvável. Nossas lâminas, pela primeira vez em muito tempo, tinham um mesmo destino.
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Mensagem por Ilusionista Ter Nov 09, 2021 11:17 am

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Mensagem por Ilusionista Qui Nov 11, 2021 6:41 pm

União entre Pai e Filho: Peão e Sacrifício (Parte Dois)

Ebern POV
- Então, foi entregue sem nenhum contra tempo? como esperado. Transfiro seu pagamento em breve. - Desligo o celular de maneira súbita, não perco tempo com modos com aqueles que não são dignos. Em meus dedos pálidos e finos, o celular de metal toca minha pele sem pedir permissão. Guardo-o em meu bolso de maneira delicada, precisa como somente um rifle pode ser. Coloco-o minhas luvas brancas e me direciono a cama metálica que se encontra no centro dessa sala. Bem iluminada, diferente do resto da mansão, é aqui que preparo os sacrifícios que meu mestre faz para seu deus. O que posso dizer? Ajeito o corpo, o visto bem, para o momento que seu sangue será derramado pela ultima vez. Estou com um sorriso em meu rosto enquanto faço esses deveres. Afinal, você também não estaria se fizesse algo que gosta e ainda ganhar por isso? - Devia se sentir honrado, só os melhores são aceitos por ele. Os fracos, os ordinários, são dispensados. Brutalmente dispensados, sé é que me entende.  
Estava falando com o garoto inconscientes, eles e os cadáveres são os melhores para conversar, eles não entregam seus segredos e eu... Eu tenho um monte deles. Pego um lenço, um lenço trançado a mão pelo melhor artesão da vila, e começo a limpar seu rosto. Por um momento, uma careta escapa de minha face e a possui por alguns poucos instantes. Odeio quando o mestre faz um trabalho assim, esmurra seu inimigo até ele está a beira dos portais do céu ou inferno, é horrível para limpar. Deixar apresentado. Gemo em reclamação antes de continuar meu dever, limpar sua face e deixa-lá apresentável a um deus. Ele será minha melhor obra de arte.
- Ebern, continua com seu passatempo macabro não é? Qual foi o infeliz da vez?
Estava tão concentrado em meu dever que não ouvi ela se encostando na porta com suas pernas delicadamente cruzadas assim como seus braços. Era Izumi, uma garota de cabelos tom de rosa longo e uma veste vermelha. Sua face está séria para mim, seus olhos verdes não vacilavam em me encarar. Era quase como se estivesse me analisando de cabo a rabo. Será que ela ouviu minha ligação? Essa possibilidade, ainda que infama, me assusta. Deixa uma única gota rolar meu rosto e cair sob esse solo branco higienizado. Porém, em menos do que um segundo pode caber, volto a minha compostura de sempre. Severo, continuo cuidando do corpo enquanto, em palavras ausentes de emoção, indago a garota intrometida.
- O que está fazendo aqui, não deveria tá cuidando da célula em Konhoa? O senhor Jaavas não vai gostar de saber que saiu de seu posto. - Dizia, sem passar nada demais ainda que, admito, no fundo aquelas palavras era uma ameaça deliciosa a ela. Um aviso para não se meter onde não é chamada. Continuo limpando o rosto com o pano, cada dobra machucada merecia minha atenção. Merecia, por minhas mãos, alcançar a perfeição eterna.
- É o aniversário da senhora Jaavas, vi prestar meus pesares a King e principalmente Maquiavel... Sabe como ele fica vulnerável essa época do ano não? Que tipo de irmã eu seria se não estivesse em seu lado hoje?  - Ela sorri com a ponta dos lábios antes de me deixar. Eu, discreta, fecho meu punho livre em raiva assim que estou livre de seus olhos de águia.
...

Maquiavel POV

O embate parecia simples, não havia como bandidos de segunda vencerem mestres de esgrima: Um jovem que treina extensivamente de maneira diária e um homem mais velho, experiente na fina arte do assassinato. Nossas lâminas estavam alinhadas como poucas vezes no passado, a heresia feita contra nossa amada teria que ser paga com sangue.
Houve, porém, algo inesperado por assim dizer. As espadas de nossos oponentes, antes fraca e fragmentada, tornou-se conjunta por uma estranha energia. Ela fugia das amarras da natureza, era um intervenção humana. Logo suas lâminas eram banhadas de um azul profundo e escuro. Um sorriso, há medida que isso acontecia, se tornava macabro em suas faces.
- Samurais? Tenho muitos em minha conta… Fiquem parados aí, a morte virá através de mim.
Exclamava o que parecia ser o líder deles: um homem de meia idade, com cabelos castanhos e olhos claros. Suas vestes eram imundas, mal tratadas como antes parecia ser sua espada. Os tons que decidirá usar eram escuros, cômodos ao nosso luto. Bom para esconder o vermelho que seria derramado de ambos os lados.
Cautelosos ficamos, não sabíamos o que esperar de suas armas. Sua aparência nos enganava como a pele de serpente uma vez enganou o homem. Atacar primeiro era um luxo que, de maneira educada, dispensamos. Nossos olhos estavam juntos, analisando o que poderia acontecer; as possibilidades que cada movimento nesse xadrez delicado acarretavam. Jogávamos aqui, na forma de pai e filho, contra nosso cessar de existir.
- Não nos confunda, animal. Somos ninjas de corpo e alma. - Berrava meu pai embora, devo confessar, também me confundo com isso as vezes.
O líder do bando se irritava e, com sua espada, o ar ele cortará com violência. Seu sorriso havia de ter se tornado austero. Seus olhos nos filtravam, a vingança era sua pedra lascada. Não me interessa o que ele fez, o que o fez escolher esse túmulo para roubar em um dia de chuva. Entretanto, seu futuro, já fora escrito com minhas mãos.
- Se sou um animal como diz, serei o gato enquanto você, velho, será o rato gordo e inútil.
Mal termina o insulto e aponta sua lâmina em nosso direção e, quase como se fosse um canhão, dispara uma energia contra nossas cabeças. Houve uma explosão, alta e banal, impedida por um muro de terra que acabará, sob estes céus chuvosos, de ser invocado. King me salvaria do ataque. Eu já tinha visto usar essa técnica antes, nos inúmeros treinamentos em que ele me colocou e ainda tem a ousadia de chamar de "infância". Era a Parede do Estilo Terra, era esse é a técnica que me separou das chamas de uma morte iminente. A parede que meu pai fez, a parede que me deu ínfimos minutos de vida a mais, era longe de seu comum. Em seu centro, como uma marca orgulhosa bradada ao mundo, o desenho de um corvo se encontrava.       
...
- Ferramentas científicas, transforma até o mais estúpido dos animais em uma besta perigosa. É um ultraje.
Nossas costas se encontram no muro de terra, estávamos sentados. Ouvindo o som de muitas pequenas explosões batendo em nosso muro. Risos podiam ser ouvidos no fundo, um líder gargalhava sob sua aparente vantagem. Entretanto, a lâmina que tanto segurava e confiava, por fim esquentará.
Então, o silêncio por um instante reinou. Por dez segundos para ser mais exato, o tempo necessário para recarregar sua arma. Pouco sei de sua fonte de energia, talvez fosse o próprio sol mas, sei do que estava diante de mim. Uma pequena janela de tempo, o suficiente para me render suas cabeças.
- Você vai para a esquerda, eu pela direita. Cercamos o líder no final do movimento.
Sussurrava meu pai e eu, com um simples gesto de cabeça, indicava que eu acatará suas ordens. Era o que sempre acontecia e, por mais que eu odeio admitir, juntos éramos uma máquina. Eu, os músculos franzinos e ele, o cérebro com rugas. Apenas algo poderia nascer dessa união: sangue. Mas, te garanto, não será o nosso.
Meus olhos vermelhos ficavam e eu, em meu frenesi, poderia jurar algum desses bandidos indagar se esse era um “Sharingan de segunda” essa era uma piada velha, que até os corvos que lutavam contra eu e Asami em outrora usaram contra mim. Meus passos eram fugazes, porém, graciosos. Tais como os atos de minha curta lâmina estática.
Havia de ter ficado responsável por dois deles, um casal de jovens que não aparentava ter mais de cinco anos do que eu. Podia sentir o medo emanando de sua carne, suas mãos, trêmulas, teimaram de segurar a espada.  Se eles apenas a largassem na grama, seria muito mais rápido e indolor, seria muito mais cômodo.
Não, eles querem lutar. Eles vão em minha direção com suas espadas de energia, calor intenso vinha delas. Um calor, que se eu deixasse minha pele tocar, causaria graves queimaduras. Nas mãos de um mestre essa seria uma ferramenta mortal mas, nas mãos deles, isso não passava de uma brincadeira de criança.
Suspirei e, ao encarar seus olhos assustados, em um estado de paralisia através da Ilusão do Aprisionamento na Corda de Feijão os deixei. Posso imaginar eles querendo gritar e não podendo; imaginar sua carne se sentindo enlatada por vinhas invisíveis que não cessavam em nascer desse solo. Elas apertavam sua carne, sufocavam sua garganta até que todo seu ar fosse embora. Seus olhos, agora vermelhos de tão irritadas, estavam a mercê da natureza - ou melhor, de minha mente. Entretanto, seu sofrimento, não duraria muito tempo e, em par de movimentos sicronizados quase como uma dança, acertava o peito de cada um. Não profundo o suficiente para darem adeus a esse mundo porém, era o bastante para deixa-los inconscientes nesta grama. Mergulhados em seu próprio sangue. 
...
Diante do que restava deles eu estava, a alguns metros do líder deles e seu capanga remanescente. Tal como dizia o plano, havíamos o cercado. Meu pai, aquele que eu admirava, repousava no outro lado após, com um único corte frio e metódico, eliminar dois dos ladrões. Suas faces ainda se encontravam no chão, o ato foi tão veloz que parecia, por um único instante, que não tiveram tempo nem de se assustar apropriadamente.
O líder deles, o homem de olhos claros, me encarava. Um sorriso sem motivo passeava em seu rosto e sua Katana, antes gelada, como chamas esquentava. Do céu, os pingos de chuva que nela caem, evaporaram. Foi um golpe veloz, um flash de energia se formava em minha direção. Seu calor, iminente, recordava-me das chamas disparadas pelo Corvo Negro.
Foi imediato, o tempo de reação escapava de mim. O calor se aproximava e a carne queimará… Porém, não era desse que nos fala. King ficou entre mim e o ataque, dando suas costas para o disparo que sua roupa perfura. Apesar de tudo, sua expressão em nada se alterava. Nem um suspiro, nem um suor, apenas seus olhos frios me filtravam.
- Maquiavel, é sua chance. Prove a eles a virtude de vosso nome.  
Era severo mas, eu o deveria obedecer. No fim de tudo, era a única família que a mim vivo permanecia. Se sacrificou para me salvar, seu mero peão a descartar. A espada do líder ruiria em pedaços, sem energia havia ficado. Um corte rápido em seu peito foi feito e, embora vivo, minha Tanto tirou qualquer ameaça que ele poderia ser. Novamente falhei, meus dedos no cabo dessa espada suam - vacilam - em sua missão. Matá-lo, matar qualquer um deles, seria como trair a imagem e legado que tenho de minha mãe. Sujar minha lâmina de vermelho seria dar-lhes as costas, dilacerar o pouco de eco dela que minha alma possui. Que minha alma desesperadamente, como um infante, deseja manter.
O último capanga largará sua arma e corria desesperado. Deixei-o ir, tinha um pai para cuidar e servir. Ou assim acreditava. Quando dei por mim, ele estava casualmente de pé. Como se nada tivesse realmente acontecido, nem um corte sequer aquele ataque de energia presenteou sua carne ou convicção.  
- Você teima em deixar seus inimigos vivos, não percebe que quando os deixamos vivos corremos o risco de sermos alvos de sua vingança? Nessa linha de profissão filho, é matar ou ser morto. Escolha logo o que quer ser antes que outro faça essa escolha por você. - King, o Corvo Superior, estava me falando agora como pai. Meu pai. Seu rosto rígido, os olhos de ébano que ele divide comigo, não eram escuros o suficiente para esconder de mim o que ele sentia. E, por um instante esquecido no tempo, pude ver o que morava por trás de sua máscara. Era o receio de me perder, de eu ter meu nome em uma lápide cedo demais... O medo da perda. Ver isso, mesmo que por fugaz momento, fazia meu peito aquecer ao mesmo tempo que me assustava. Era muito novo, muito raro, Era uma tempestade em meu coração, uma que doía na mesma intensidade que me fazia sentir vivo. Era o amor de pai - ou, o mais próximo que King poderia conceber disso.
- Irei demonstrar mais uma vez como deve ser feito, preste atenção. - Suas palavras eram serenas, até amenas. Seus lábios se mexiam pouco, com cautela, como se estivesse fazendo seu melhor para que as palavras que desenhava ao vento fossem escutadas direitos. Nem nisso o Corvo admite erros. Mas, foi o próximo ato, que me convenceu que tudo era uma ilusão bem ensaiada. Não existe amor em seu coração, não mais. Talvez, nunca tivesse em primeiro lugar. Em seu lugar, no centro vazio de seu peito, só havia anseia pela violência e morte. Por uma perfeição assassina que vai além de qualquer carne ou sangue. A perfeição que ele deseja, a perfeição homicida que ele tanto procura, só será saciada quando todos forem feitos de fios e circuitos.  
Um movimento e King clava sua espada na cabeça daquele que deixei vivo por ultimo. Não foi uma cena bonita de se vez, enquanto sua lâmina se embriagava no vermelho, miolos do crânio de seu inimigo voavam aos quatro ventos. Partes de seu cérebro ficavam expostas, como se tudo aquilo fosse apenas uma demonstração de afeto ao deus da morte. Sua Katana desfilava, se aprofundando delicadamente na cabeço do homem que já está morto nessa altura do campeonato. O sangue que ela espichava encontrava minha face, a maculava sem fazer cerimônia. Sem pedir para entrar.
O vermelho de outro em minha face, não, era mais do que isso. O vermelho trazia consigo seus miolos, suas entranhas, que logo desciam para minhas roupas brancas - arrancando a força sua falsa imagem de pureza e trazendo, a luz cru, seu real rosto. O rosto de um clã homicida e astuto. Meu clã. Ainda sim, vivenciar a violência tão de perto - tão de camarote - faz meu estomago se revirar. Essa devia ser minha natureza, mas como um fracasso ambulante a traio. Meus lábios podem ser selados porém, a palavra que ele não da voz, escapa pelos meus dedos. Eles tremiam. Revelam a contradição dolorosa, cortante, que existe em minha alma. Essa é minha natureza entretanto, não a quero como minha. Não tenho tanto estomago para tal.
Olhar para meu próprio pai, executando um inimigo que já estava caído e de maneira tão brutal, fazia um gosto amargo subir pela garganta. Corta-la sem piedade até encontrar seu céu e se concentrar em minha boca. O gosto era terrível, parecia lixo, Era a punição do meu próprio corpo por mostrar fraqueza, por tentar ir contra os ensinamentos de meu pai, eu bem sei disso e aceito. O peito aperta com dor, o coração acelerada e meus lábios cospem o que eu comi essa manhã em minha frente. Eu vomito sob meus pés, não aguentando os horrores que se passam perante meus olhos de ébano. Enquanto isso, enquanto vomito mais e mais, uma vergonha dormente me sequestra. Vergonha por essa emoção que, como um tolo, demonstrei. Desculpe, pai.
- Eu poderia derrotar cada um deles sozinho, sabe disso. Não o fiz pois acreditava que esse poderia ser um momento pai e filho... Agora, vejo que estava enganado. Talvez você não mereça ser meu filho, carregar o nome Jaavas em seus ombros. Uma lástima, não? - King falava isso com uma calma assustadora, ainda que o teor de ameaça não vacilasse em nenhum momento. Pelo contrário, era bem real. Retirando sua espada do morto, ainda pingando e salivando sangue, ele encosta sua lâmina em meu pescoço. Sentia o metal gelado em minha carne quente, jovem, ponderando por um instante o que deveria fazer. Um instante que, para mim, mais parecia a eternidade. Paralisado estou, afogado em um medo silêncio, enquanto espero seu julgamento. Esperando para ver se meu senhor deixa eu continuar com minha cabeça entre os ombros. No fim, ele limpa rapidamente sua espada e a guarda antes de me dar mais uma ordem. Mais uma diretriz a seguir.   - Prove que sua mente valha alguma coisa, descubra o que houve aqui. Descubra o que está nas entrelinhas. Você tem cinco minutos.    
...
O cheiro de vomito, de restos, me assombrava a cada novo passo que eu dava vida. Me ajoelhei como um cavaleiro da tabula redunda sob o líder dele e comecei a observar. Mesmo sendo o líder deles, suas vestes eram baratas. Com muitos buracos costurados de mal jeito, era óbvio que eles não tinham muito dinheiro. Para garantir, com meus dedos pálidos e infantes, toquei em suas roupas com cuidado. Analisando a qualidade de seu tecido. Não era muito pois, só com essa pequena chuva, parecia se desfazer. Eles eram pobres, por isso quiseram dessorar o descanso de minha mãe. Monstros, não sou bondoso como a sacerdotisa, aquilo não me enchia de pena. Não. Aquilo me afogava em raiva ao ponto de meus punhos se fecharem e apertarem a si com tanta força que minhas palmas se encontram em vermelhidão agora.
A raiva é quente, aquece meu peito como não deveria. Acorda meu coração para que eu possa continuar essa investigação. Dando adeus ao corpo moribundo, munido de uma face séria e quase apática, presto minha atenção a arma que repousa em seu lado.  Toco o seu cabo, ele é de uma frieza digna de um cadáver mas, não posso negar, ele também é de uma beleza ímpar. Essa espada de energia foi bem desenhada, extremamente funcional. Não existem muitas empresas capaz de fazer tão bom trabalho. E, quando fazem, deixam sua marca, Uma forma de fazer quem vê-la, desejar comprá-la. Rastreando essa marca, rastreio de onde ela veio.
- Três minutos, Maquiavel. - King dizia calmamente enquanto sentava como um monge e parecia meditar em meio a toda essa violência recente. Suas palavras, embora rápidas e de existência fugaz, fazia meus ossos tremerem de ansiedade, Ecoarem o meu medo de não está a altura dele, do nome que carrego. Isso me deixa confuso, faz-me perder a razão no oceano de pensamentos que eu chamo de mente. Ainda sim, em meio as águas turvas da ansiedade, eu me controla. Eu tinha uma missão a completar, uma máquina constituída de carne e osso para ser.
Olhava o cabo da espada de energia de todos os ângulos e, apesar de ser desenhada ao nível de uma obra de arte, não a nenhuma marca de quem a fez em sua superfície metálica. Decido por um dos ensinamentos de meu pai em prática, "usar todas as ferramentas disponíveis em uma investigação", e acompanho meu corpo quando meus olhos se tornam repentinamente vermelhos idem ao sangue que tanto derrubei nessa vida. O Akagan estava ativo e, com ele, apliquei a visão de Raio - X no cabo dessa lâmina. Mesmo internamente, não havia resquícios de nenhuma marca. Como se elas fossem concebidas desde a fabrica assim. Como se fossem feitas com a intenção de não serem rastreáveis em primeiro lugar. Se isso veio de fábrica, significa que foi um trabalho longo e interno. Algo que necessita de inteligência para acontecer e muita.
Largo a espada no chão com cuidado, sabendo que o tempo corre contra mim. Levanto-me, já com meus olhos em seu tom escuro natural, e varro o cenário com eles. Há muito vermelho na grama, algumas gotas dele foi eu mesmo que derramei. Embora eu fosse muito covarde, muito fraco para terminar o meu trabalho. Penso no passado, revejo os fatos, os ataques desse esquadrão não tinham estratégia... Eram todos separados, sem tática. Não tem como serem a cabeça desse acontecimento. Eram meros peões no quadro maior, como eu próprio também era. Há mais pessoas envolvidas mas quais? quantas?
Escuto um ranger, um pequeno grito de lábios secos. Lábios que, em minha fraqueza nojenta, deixei vivos. Eu me aproximava deles, os via querendo alcançar a mão um do outro. Querendo deixar juntos esse mundo. Era romântico, eu acho e, por um momento, me flagro pensando se um dia eu teria uma conexão assim. Uma pessoa que eu quisesse ver uma ultima vez antes de partir para o outro mundo. Isso não passava de uma fantasia tola, infantil, minha. Esses luxos não me pertencem mais, talvez nunca tivessem pertencido em primeiro lugar. Foi vê-los se rastejando em seu sangue, lutarem para ficar juntos em sua finitude, que me trouxe mais um fato a torna. Eles mal sequer lutaram contra meu Genjutsu, nem tentaram dissipar, algo que se aprende na academia. Logo, eles nem eram ninjas de fatos. Provavelmente não teriam habilidades para roubarem as tecnologias que usam, muito menos apagarem os rastros de onde ela veio. Eles as receberam de alguém, aleguem de dentro da empresa que os fabricou.
- Eles tinham motivos para roubar a lápide, eram pobres e sem treinamento nesse mundo cão chamado Kiri. Mas, algo não se encaixa. Porque ter tanto trabalho de conseguir essas tecnologias para roubar apenas uma lápide? Com essas armas, ganhariam roubando mais um banco. A não ser que o roubo fosse um pretexto ou apenas um bônus, para seu real objetivo: nos eliminar, Quem fez isso, foi alguém ligado as poucas empresas que podem e tem meio de fazerem armas em massa. Essa pessoa é a real cabeça desse movimento e foi esperta o suficiente para apagar seus rastros. , - Tão absorto em meus pensamentos, começo a sussurrar o que penso para meus ouvidos solitários.  Não posso mentir, mesmo que minhas vestes estejam entre sangue e vomito, sentia orgulho da minha dedução e isso arrancou um pequeno sorriso de mim. Algo que certamente é raro de acontecer esses dias. Fui me virar animado para levar as novidades ao meu pai quando sinto sua espada fria novamente em meu pescoço e percebo sua presença diante de mim. Apenas poucos centímetros nos separavam e apenas um movimento separava também minha cabeça de deitar na grama ao lado. Logo entendi, tinha passado dos cincos minutos e agora, teria que pagar o preço por isso.  
- Você levou 5 minutos e trinta minutos... Passou do tempo, mas sua dedução foi boa. Perfeita, não... Quase perfeita. - King guarda sua lâmina e dar-me um de seus lenços para me limpar um pouco. Em seguida, como um professor, ele continuou seu discurso. Sua lição. A voz era metódica mas, no fundo, eu podia perceber um pouco de orgulho genuíno de mim nela. O mais próximo que ele pode emular disso em sua cabeça ao menos.   - Um detetive deve sempre se manter atualizado nas noticias de onde mora, seu raio de ação, assim conhecer suas ruas... Se lesse jornais com mais frequência, saberia que só há outras duas empresas que rivalizam conosco em tecnologia em Kiri. Qualquer uma delas pode ter fornecido o armamento, até mesmo a nossa. Isso diminui a lista de suspeitos consideravelmente.... Muito bem, assumo o assunto daqui. Porém, antes, temos algo mais importante a fazer 
...
No túmulo minha mãe King estava, era de noite e havia terminado de enterra-la uma vez mais. Ainda com seu terno coberto de terra, acendia finalmente um cigarro a luz de uma lua seca.
- Vamos filho, o ritual nos espera uma vez mais.

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Mensagem por Ilusionista Sáb Nov 13, 2021 12:55 pm

União entre Pai e Filho: O Ritual (Parte Final)



Maquiavel POV

A calmaria estava nos corredores desta casa, nobre como o sangue que corre em minhas veias. Quadros e mais quadros, geração após geração. Rostos felizes e de branco vestido. Esse era o corredor que registrava nossa história, o sangue que derramamos para essa riqueza alcançar era sempre oculta por roupas elegantes e olhares simpáticos. A mentira coloca os trajes da verdade e sai pela cidade às claras.
Hoje, qualquer sentimento que eu tenha isso, não tem valor. Eu ando e vejo que as pinturas seguem um padrão, algo que eles nem sabem de onde veio mas, chamam de tradição. O homem, sempre com nossas vestes características, posando ao lado de sua esposa que deveria, por lei, ser bela e de linhagem pura. Houve fugas a regra, rebeldes, que foram esquecidos por nossa história. A honra desses infelizes foi maculada e a morte, a morte, era a única forma de salvá-la.
Foi me passado que isso foi certo, sempre será o correto. No alvorecer de minha infância, não me cabia questionar. Era melhor só aceitar. Os desenrolados eram enterrados em uma parte separada do cemitério, em uma parte destruída pelas lavas e corvos que ali habitavam. Aos quatro anos, no dia que conheço como hoje, foi a primeira vez que o visitava. Aqueles que tiveram sua alma jogada ao abismo, aqueles que nem o nome merecia ser mencionado.
Ainda me recordo de eu e meu pai, de preto sob uma chuva que se recusava a cessar. Nada, sua vida, iria a arrancar. Meus cabelos estavam molhados, o óculos que eu tanto usava por luxúria, pouco me servia. Sabia que queria ir embora, não queria gastar o meu tempo com os vivos olhando lápides carentes e com datas apagadas pelo tempo sem piedade.
- Não ouse sair sem meu comando, não ouse respirar sem uma ordem eu dar… Maquiavel, todos esses são seus parentes e seus nomes, seu bem mais precioso, de nada valeu contra o tempo.  - Sua voz era austera e seu olhar, frio, não se dava o trabalho nem de me encarar - O Esquecimento, ele é o destino mais cruel... Melhor ser visto como maligno do que como um esquecido.      
A memória se perdia em meus pensamentos, a realidade me urgia novamente.
...
O cheiro de peixe invadia minhas narinas, era saboroso comer algo que fugia da minha dieta de vitaminas. Esse era o bem, o único bem, que acontecia esse dia. Entretanto, silêncio nós fazíamos, nenhuma palavra tinha coragem de escapar de nossos lábios frios. Apenas uma sílaba e a heresia correria solta nessa casa.
Minhas mãos estavam unidas, uma reza muda se fazia. Ou, pelo menos, assim deveria. Eu preferia gastar esses poucos minutos de liberdade recordando de algo que jamais retornaria. Minha mãe, minha felicidade… A felicidade desta casa morta, entregue aos abutres que lá aguardava. Um dia nossos corpos iam apodrecer esse chão, o mesmo que estou sentado agora, será seu reino.
Poucas coisas embora, eu tinha para me apegar. Poucos momentos existiam e aqueles que essa sorte tinham logo, eram levados pelos ventos do outono. Às vezes eu me pegava fantasiado como uma criança de quatro anos, imaginando que ela estaria aqui ao lado. Que o calor que eu sentia não seria da carne em meus lábios mas, de suas mãos me tocando.
Será que ela gostaria do que me tornei? Do que nós tornamos?
- Maquiavel, coma. Não iremos quebrar esse ritual depois de sete anos sem falha, sem erro.
Minha macabra paz tinha hora marcada. Eu o observo, sua boca pálida já estava cheia. Nossas faces eram irritantemente semelhantes, um reflexo de um espelho quebrado. Eu queria dizer o quanto isso me consumia porém, nenhuma palavra nascia e o silêncio se mantia. De maneira cortês, aceno com minha cabeça em vergonha.
Dou uma mordida em um pedaço desse peixe, o seu calor reconfortante bate em meus lábios. Um dos poucos que eu sentia desde sua morte, desde sua derradeira respiração… Mãe. O destino deveria ter poupado você, o levado em seu lugar. Queria que não estivessem aqui, ajoelhados ao chão e diante de uma mesa de madeira, sendo encarados pelo olhar de nosso retrato de família. Éramos muito orgulhosos para admitir, portanto, era um placebo… Uma tentativa tola de negar sua ida permanente.
Esses olhos frios jamais se igualará aos teus. Em meio ao pensamento, em meio a mordidas sem sentimento, via meu pai se lavar e, de voz muda, chorar. Ás lágrimas desciam de seu rosto de maneira acanhada, quase como se sua mera existência fosse um crime a ser castigado. Ali está, por menos de um minuto, a casca dura de meu pai quebrada e com ela nascia as palavras, os fatos, que me foram proibidos.
- Filho, sua mãe era uma ninja mortal porém, seu sangue não era digno de nosso nome. Ainda sim, casei com ela… Ainda sim, matei aqueles que estavam em nosso caminho. - Sua voz não vacilava, apesar dos sentimentos, o tom era quase tão frio quanto a pele de um cadáver. - É melhor vencer pela abundância, pelo extremo, do que pecar por ser leve demais.
Depois de me filtrar, de forma fugaz, com seu olhar ele não ficaria para assistir minha reação, minha confusão. Apenas me presenteava com uma ordem enquanto sai, em passos lentos, do corredor.
- Encontre-me na sala de treinamento em dois minutos.  
...
Houve uma dança de lâminas na escuridão, nossas espadas se batiam de maneira suave quase disfarçando que essa interação tinha a morte como princípio e epílogo. Aquilo havia certa beleza, certo esmero que se perdeu nessa revolução da ciência. Aos poucos, a arte; a magia, estava se perdendo para a tecnologia.
- O que achou da senhorita Yamato? - Diz King enquanto pressionava sua Katana contra minha Tanto, sua força era tamanha que minhas mãos começavam a arder… A doer.
- Esperta, servirá aos planos. - Rebato seus golpes com precisão, a espada escorre, aos poucos, de meus dedos - Vai ser simples conseguir a amizade dela e, com paciência, ela verá a nossa causa com bons olhos.

- Como pretende fazer isso se nem sua arma confia em você?
Uma batida e a minha Tanto escapa de minhas mãos. Eu estava cansado, muitas coisas aconteceram nos pequenos minutos que se davam. Meu corpo se esgota, faz o possível para escapar dos gostos da lâmina de meu pai. Ele podia não mostrar, sua face era velha demais para o trair porém, a raiva e tristeza governava o fio afiado de sua espada.
Com um gesto e ele faz seus corvos apagarem a luz dessa sala, tornando-a uma verdadeira sala escura. Meus olhos vermelhos podiam sentir a vida de meu pai pulsando de seu corpo. Seu coração já não era mais sereno, era uma pura tormenta. Ele andava lentamente, sua lâmina desejava ser banhado de sangue novamente...De sangue de seu próprio clã.
Se ele realmente desejava, eu morto estaria. Mal teria tempo de aplicar essa ilusão. Ele via vinhas nascerem da terra e, mesmo assim, de nada fazia. Não os tentava dissipar, não buscava correr. Apenas era como se deixasse envolver por ela, sentia-a apertando seus braços e pernas e, no fim dessa ópera, recusava-se a ecoar uma palavra.
Ao alto, nesse instante, estava. Sua Katana já haveria de tê-lo deixado. Estava caída aos meus pés e, por um segundo, a vitória também.
Entretanto, um ilusionista pode ser vítima de seus próprios feitiços. Ironia há de me cercava e, em um mero momento, os papéis se inverteram. Ele, King, estava aos pés de sua espada e eu, o jovem tolo, sufocado pelas vinhas que eu tanto confiei em primeiro lugar. Por um sutil minuto as sentir apertando meu pescoço com tamanha força que, através de sua raiva, poderia se tornar seu mais novo cadáver em exposição.
- Arranje truques novos, criança.. - Pronunciava ele enquanto recuperava sua Katana com esmero e serenidade Ele me via cercada pelas cordas, com um misto de decepção e previsibilidade em seu olhar. Ele brincava contra o ar com sua lâmina, quando tivesse matando o tempo enquanto esperava minha reação. Ele desenhava movimentos lindos com sua espada, inumanamente precisos. A medida que ele os fazia, os concebia nesse mundo, as vinhas que ele jogou contra mim apertavam minhas mãos até que suas palmas fossem tomadas e afogadas por uma vermelhidão sem fim. Uma dor que fazia ranger meus dentes também a acompanhavam. Entretanto, nada se compara a vinha em torno de meu pescoço: ela apertava minha carne com tanto gosto que o ar começa a escapar de meus pulmões e minha visão se tornar turva. Estava sufocando, a beira das portas da morte. Do esquecimento que ele tanto me advertiu.  - Se livre disso por conta própria, garoto ou será enterrado aonde só os abutres se importam. Se livre disso ou morra.
De visão turva, mal poderia dizer que estou vendo meu algoz realmente, apenas um borrão distorcido. Era quase como se eu estivesse sem óculos, só que muito pior. As palavras que ele disse, elas pareciam muito concertas. Não havia mentira nelas, nem pingos doces de eufemismo. King iria me descartar ali mesmo, como um peão entre tantos outros. Enquanto as cordas roíam meus pulsos até somente carne viva restar, posso lhe garantir, saber essa verdade (tomar conta da sua insignificância perante seu pai) doía mil vezes mais. Era uma agonia, uma angustia, que vai para além da pele e nenhum remédio pode acalmar. Era como ter lança permanentemente fincada em seu coração.
King não se importava em saber como eu estava, se eu sentisse raiva ou tristeza não fazia diferença, as duas são boas gasolinas para te manter vivo ele diria. Pessoalmente, eu sentia um pouco dos dois. Sentia o gosto agridoce que eles traziam esses lábios que lutavam por um ar que nunca os veria como seu destino. King apenas comandava suas vinhas com um gesto banal de sua mão, fazendo-as cortar cada vez mais fundo meu pescoço e jorrar sangue diante esse chão imaculado. Meu sangue. A perda dele estava se dando em rápida velocidade, o vermelho não perdia chance de criar sua pequena poça (seu pequeno reino) em baixo de mim. Sentia ela indo embora, meu sangue, ralando de meu pescoço quente para um solo frio e sem vida. Com ele, com seu adeus, a minha consciência estava para fazer as malas. Era hora de adormecer, o derradeiro adormecer.
Sufocado, estrangulado pelas cordas da natureza, meus pulmões ardiam em seu próprio sofrimento e angustia lutando para sobreviver. Lutando para conseguir um mero segundo de ar a mais, um mero instante  nessa terra a mais. Porém, cansado e ardendo como só o inferno pode se comparar, eles cessaram. Nesse momento, eu já estava na escuridão completa. Na corda bamba entre o mundo dos vivos e dos mortos. No primeiro segundo nesse abismo havia paz, a dor não mais existia. Era sedutor ficar lá, em um canto no universo onde a voz de King não me assombrassem. Poderia ser eu lá, talvez, até livre... Bastava não ir contra a maré, aceitar meu destino. Era errado querer isso? Querer ser humano... Apenas humano.
Porém, algo impediu que meu corpo cansado e traumatizado fosse puxado por ela. Era a minha mãe. Estava sorrindo para mim mesmo que ao meu redor só houvesse escuridão. Vê-la devia me encher, me embriagar, da mais pura alegria. Mas não era isso que acontecia. Eu virava meu rosto em vergonha, recusando a encará-la. Estava sendo consumido pela dúvida de que ela pode não gostar o que me tornei. No que me tornei, nessa coisa. A dúvida me consumia como um ácido que corroía tudo de dentro para fora. Mai, entretanto, tocou-me com seus dedos amenos e olhou meus olhos... Sorri, me deixando um ultimo lembrete. Um ultimo pedido ela me fazia.
- Não desista, ainda há muito para viver... Nem tudo é escuridão, prometo. Apenas lute, meu querido filho.  
Essas palavras me acordaram, como se fosse uma adrenalina aplicada diretamente em meu coração, estava aqui novamente. As vinhas ainda doíam, ainda me sufocavam e me tinham como refém, porém agora minha alma se recusava a se ajoelhar. Uma determinação incomum queimava em chamas que tomavam meu corpo como se fossem um só. As palavras da minha mãe ecoavam em meu crânio, me dava a gasolina necessária para o próximo ato. A confiança. Meus dentes seguram meus lábios, os mastigando como uma besta selvagem. Mastigando-os com cada vez mais força, peso, até que um pedaço de um dos lábios é arrancando com meus dentes e cuspido a toda. A dor era tanta, me fazia gritar até minhas cordas vocais se desgastarem e arderem. Porém, a dor fazia seu papel, me livrava dessa ilusão.          
- É o suficiente. - King dizia secamente enquanto me acompanhava com seus olhos de ébano ágeis cair no chão, me contorcendo de dor e choque.- Se gostou tanto dela, ficará feliz em saber que, na reunião que estive com o clã Yamato, prometemos um ao outro... A influência deles ajudará em nossa missão.
- Tudo bem. - Dizia timidamente enquanto, aos poucos, minha ilusão se desfazia. Marcas de agressão, cicatrizes, na pele repousaram.
A porta se abria e meu pai me abandonaria. Deixava-me em silêncio, ciente que isso, essa tal liberdade, nunca havia me visitado.

...

Eu disse ao meu pai que estava tudo bem, tudo vale pelo sucesso de nossa cruzada, era isso que ele me dizia sempre que o tempo era gentil e o permitia colocar-me para dormir. Um homem como ele, um homem que não se deixará curvar pelas areias do tempo, pouco de sua atenção tinha para me oferecer. Eu entendia, entendia como apenas seu próprio sangue poderia. Mas, no cintilar da lua, a verdade há de se rebater por além de suas amarras.
Sentado estou, desfrutando do melhor que o dinheiro pode alcançar. Aqui, em Kiri, o nome de meu clã vale mais do que meus próprios atos. Minhas escolhas. A cama que toca as nuvens, o espaço exageradamente grande de meu quarto, eu não tinha nada pelo que reclamar. Inferno, só de pensar nisso eu deveria está queimando sob a luz de uma fogueira agora. No desfecho das estrelas, nada era o suficiente. Nada poderia silenciar minha cabeça.
A cama onde estou, tem lençóis da cor de minhas vestes de clérigo e partilha da mesma hipocrisia visual. Está amarrado a mesma mentira, a uma dita pureza que nasceu de fogo e sangue. Ilusão. Era isso que sou no fim do dia, um mestre na arte do engano perdido em suas próprias histórias. Trágico pois, justamente quando mais precisava, a máscara tratou de se quebrar em mil pedaços. Fragmentos. Fragmentos pequenos demais para tocar e escassos demais para uma fita adesiva qualquer salvar.
Quem estou tentando enganar? Minhas palavras, meu “Tudo Bem” pouco se importava com meu pai. Ao desfecho do dia, sobrava elas o ingrato dever de me confortar. Convencer a mim mesmo. Minhas mãos estão ociosas, perdidas nas ondas de seu próprio suor. Eu era bem teimoso, cheio de vontades que morreria antes de admitir. Essa era apenas mais uma delas, uma estúpida o suficiente para bater sua carne contra as correntes.
Diante de meu silêncio, de meus lábios que se recusam a viver, o meu olhar se abre para uma rebeldia fugaz. Um instante que câmera alguma podia capturar, confinar. Sentia algo rolando pelo meu rosto, um toque áspero em meio a uma face sem vida. Um segundo que me dizia está vivo. Era uma lágrima, uma pequena gota que chovia e colocava minhas correntes em xeque. Coçando em minhas amarras, ousava em escapar pelos buracos em branco.
A garganta queima, ainda que obediente a sua mordaça, ela doía e sentia como meu coração deveria mas não podia. Desde que me entendo como gente, desejo era apenas uma palavra entre muitas no dicionário. Banal. Mesmo assim, a casca dura não esconde suas raízes confusas. O suor, o batimento louco, denunciava a heresia que caminhava livre em minha carne. Dedos meus estavam apertado meu crânio, querendo sufocar a voz que nem ao menos sabia que existia. O desejo, o instinto, que me traia.  
- Desculpe, pai… Desculpe por ser uma desgraça ao vosso nome.

- Céus, tanta auto piedade para uma pessoa só. - Izumi, em suas vestes vermelhas e cabelo rosa longa, dizia essas palavras com com um sorriso zombeteiro em seu rosto. Seus olhos brilhavam, sempre esperando que eu ficasse sem jeito. Ela adorava isso. Não, não de uma forma maldosa. Nos crescemos sob o mesmo teto por um tempo, acho que ela nos ver como uma espécie de irmãos. Mais precisamente, Izumi seria como minha irmã mais velha. Aquela que tira sarro de você sempre que a chance surge mas, na verdade, ti ama. Raramente reajo as provocações dela, entretanto, foi diferente dessa vez. Nem a olhei, apenas estava assistindo o chão. Parado, revendo tudo que recentemente aconteceu nesse dia, revendo até não ter espaço para mais nada na minha mente. Mergulhando nisso, de olhar vidrado, a garota preocupada começa dar alguns passos em minha direção. - Você não é uma vergonha para seu nome... É um menino inteligente, o próximo Itachi em Ilusões. Para de ser bobo, irmão. Você é demais.  
Ela esboça um sorriso, sei que ela está falando o que acredita ser verdade. Isso aquece meu coração, só não o bastante. Acho que nunca será o bastante. Tenho um vazio desde que minha mãe morreu, um vazio que constante fatia meu peito mesmo no silêncio e na solidão absoluta. Agora, depois de quase morto em um treinamento qualquer, tenho uma visão de minha mãe. Isso não pode ser real, pode? Estou confusão, minha cabeça dói de tanto devaneio. Estou afogado, sufocado mais uma vez mas, não por vinhas... Não. Por pensamentos, por mim próprio em demasia. Os olhos de verdes de Izumi são astutos, ela logo percebe minha dor e, no segundo seguinte, senta eu meu lado na cama. Eu prefiro a solidão, mas ela é teimosa demais para me escutar. Não me deixaria sozinho, custe o que custar, ela ficará ao meu lado.
- Você é médica, Izumi. Pessoas em experiência de quase morte podem ter visões daquilo que já se foi, certo? - Falava, de meu jeito travado, sussurrando, alguns acham estranhos. Ela também acha, mas já está acostumada. Antes que eu me desse conta, ela já estava colocando as mãos delicadamente (e com extrema precisão) em meu rosto e, quando elas assumem uma cor esverdeada idem ao de seus olhos, a parte do lábio que machuquei se cicatriza. Sou tomado por uma agonia, uma dualidade, em meus pensamentos. Detesto essa proximidade humana, não a suporto mas, ao mesmo tempo, seu toque - seus dedos em meu rosto - são quentes. Quase lembram a mamãe e isso, isso, me traz boas lembranças.
- Que pergunta mais especifica... King anda pegando pesado nos treinos né? Mas sim, quando morremos ou estamos em uma experiência de quase morte, nosso cérebro é enchido com a mesma substância que "faz" os sonhos. Ao morreremos, todos vamos sonhar. Sonhar como nunca antes. - Izumi termina o serviço de me curar, de cuidar de mim mesmo quando não peço. Antes de se levantar, ela bagunça meu cabelo gentilmente com uma de suas mãos e deixa uma mensagem gentil para meus ouvidos engolidos em solidão. - Cientificamente, garanto que foi só um sonho mas, se a duvida persistir, fale da experiência com seu pai... Ninguém entende de vida e morte melhor que ele. Essa é a verdade.  
Izumi dar um soco leve em meu ombro, um soco de disperdida, antes de sorrir uma ultima vez e sair. Me deixando sozinho com meus pensamentos mais uma vez.
...

King POV

- Então, a criança Yamato não respondeu tão bem… Ela tentou tirar a própria vida, tola a não perceber o favor que lhe foi feito. Avisei mestre, apostar suas moedas neles era uma perda de tempo. - Ebern, o jovem de cabelos dourados, era educado como um bom peão. Uma peça submersa em sua própria inveja, sufocada por suas ambições rasas. A voz podia ser sedosa, ímpar como um cavaleiro de outra era mas, isso não passava de uma armadura bem polida. Reluzente. - Se eles falharem, estou aqui para aceitar o preço. Fazer o sacrifício seria uma honra; meu senhor.
- Ela ainda é uma flor no seu princípio, não importa se aquele “culto ao Demônio” a caçou por toda vida… Ainda é escrava de seus desejos, de sua emoção fugaz. Uma existência longe de sua grandeza. - Exclamava sem rodeios, frio como apenas uma cadáver podia ousar a se fazer. De maneira delicada, ponho o telefone a descansar em seu próprio canto. Meu olhar, negro como ébano, encarava “meu Corvo” de uma forma mista entre terror e serenidade. Porém, para os mais sábios, uma fina camada de ira se vestia na sombra de minha íris. - Tenha paciência, o peso de ser o futuro da casa não cabe em seus ombros. De fato, eles sairiam quebrados… Um conselho, não se iluda achando o contrário. Te criei para ser um corvo e estou há receber mais um tolo.
- Perdoe-me mestre, estou em devaneio intenso esses dias… - Ele se ajoelhava diante meu olhar, uma cabeça baixa que sonhava em acender meu tolo. Já tinha visto como ele, matei todos que fizeram frente. Sutil, minha atenção estava voltado a um amuleto triangular repousado na mesa ao lado. A hora se aproximava, a voz Dele haveria de me clamar logo. - Não é cruel demais, promete-los tão cedo um ao outro? Definir seus dias antes que tenham chance de experimentar o gosto de está vivo? Não parece que estou diante do homem que travou uma carnificina em nome de sua amada.
- Amor… O que entende disso, Ebern? Para você e para aquele que carrega meu sangue, não passava de uma palavra que ilustra as melhores poesias do mundo. - Anunciava no tom frio de sempre, não perdendo tempo em desgastar meu olhar com esse servo. Meus dedos, porém, são traiçoeiros. Espertos, sufocam o amuleto como se o amanhã fosse apenas um sonho. Um devaneio. Desesperados em um instante perdido, falavam aquilo de mais proibido existia. - Estou dando Maquiavel a chance de sentir aquilo que um dia descansou em meus braços, aquilo que está além do bem e do mal. Você… Você está fadado ao sonho eterno, sem nunca poder provar desse doce néctar. Sinto muito.
Ouço algo se quebrado e um par de olhos vermelhos correndo ao abraço da noite. O jovem cavaleiro de cabelos dourados sorria de canto de boca, divertindo-se com a sombra de um futuro que se aproximava sem fazer cerimônia. Apenas observei a porta, um pouco aberta, se fechar diante do desejo da natureza. Um vento fria nascia contra meus cabelos, o emissário da promessa.
- Será que ele ouviu muito? Seu filho pode ser bastante “rebelde” uma vez ou outra… Pergunto se pegou muito leve com ele, alteza. - Ebern se voltava a mim, havia um misto de provocação e esperança em suas breves, mas eternas, palavras. Ter ele ao lado é o mesmo que ter um cobra em seu ouvido, a todo momento existe o perigo da mordida. Entretanto, não posso negar, era justamente esse perigo que me mantém vivo.
- Por favor, feche a porta… Já adiei muito o Ritual, Ele não gosta disso. - Sorrio discretamente antes de colocar o amuleto formado por um circulo e dentro dele um triangulo investido em meu pescoço.      
...


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Mensagem por Ilusionista Qua Nov 17, 2021 11:35 am

O Conto de Dois Amores - Surpresas Noturnas

Kaneki POV

Uma noite sem estrelas, é uma noite perdida para um artista. Nada vence uma noite estrelada. Foi em uma noite onde só se via o brilho das estrelas que pedi Medusa em casamento. Foi em uma noite como aquela que minha felicidade começou e foi em uma noite como essa que ela também terminou. Ainda lembro daquele noite ausente de estrelas, ainda sinto o gosto do seu corpo frio em meus braços. O gosto nunca realmente some, ele persiste como uma cicatriz que não se vê e que nenhum remédio cura. O toque morto do corpo dela no meu, isso me assombra mesmo agora. É um fantasma que recuso deixar atravessar para o outro mundo. Por egoísmo ou culpa, por amor ou sadismo, nunca deixarei sua memória ir embora. Morrer uma segunda vez.
É nesta noite sem estrelas, é cercado por esse mal presságio, que atravesso esse céu em uma ansiedade que não encontra voz em meus lábios, apenas na forma pesada e urgente que movia minhas asas de papel. Nem mesmo suor, que deveria está correndo solto sob minha testa e careca, tem coragem de falar uma palavra sequer. Ele sabia, todo o meu corpo sabia, que coisas assim somente me atrasariam. Já cheguei atrasado uma vez, e meu amor foi tirado de mim. Ainda que me doía lembrar disso, ainda que seja como mil lâminas entrando sadicamente lentas em meu coração, é a gasolina necessária para eu impulsionar minha velocidade de voo. Se eu me permitir atrasar por um segundo que seja, se eu me dar o luxo de suar e cansar, um banho de sangue será feito.    
De face séria e olhos amarelos de lobo que não vacilam, não demorou para eu visualizar o objetivo. O cenário desse banquete de morte. Do alto, uma barreira roxa poderia ser vista ao seu redor. Ela tinha uma forma redonda e alcançava o céu sem nenhuma dificuldade. De minha outra vida eu conheço essa técnica, a Técnica do Domo Confinador. Eles a fizeram para aprisionar a besta lá dentro, para salvar o resto da cidade de sua desolação.  Mas, sabe o que é o problema com bestas? Quando se sentem presas, sentem a corrente ao redor de seu pescoço, é ai que a fera realmente se torna perigosa - é ai que ela liberta todo seu poder apenas para manter seu gosto da liberdade intacto.
As asas batem, como se fossem um eco de uma tempestade. Uma tempestade que se camufla em minha face séria. Ao chegar no lugar, vejo o esquadrão de barreira de Konhoa se concentrando em manter o domo. Eles estavam suando frio, fazendo o seu melhor para manter tudo seu controle enquanto se embriagavam em um olhar focado falso. Dentro deles, na parte mais intima de sua alma, eles estão tremendo. Temendo o que pode sair de lá, o que lhe aguarda atrás dos portais da biblioteca.  
- Deixem eu passar. - Eu dizia calmamente enquanto tocava o solo com delicadeza e via as asas de papel se desfazendo em um instante apenas. Andei de maneira casual até o líder do esquadrão, um homem de pele clara e meia idade. Seus olhos eram negros, do tom que se assemelha muito a cor do céu esta noite. Profundo e, ainda sim, vazio. Ele não presta atenção em mim, em meu rosto moreno chegando, ele não poderia. Mantinha a barreira ativa, dando cada gota de sua energia e atenção para isso. Mesmo assim, pelas suas feições rígidas, sei que ele não gostou de mim aqui.  Engoliu a seco por um momento, arranhando a sua garganta e fazendo arder, sei que ele me reconheceu aqui. Reconheceu a minha fama que carrego como uma cruz para onde qualquer lugar que eu vá ou rosto novo que assumo.
- Não precisamos de ajuda de forasteiros, Konhoa resolve seus próprios problemas.   - Ouvia-lo dizer de maneira áspera, afiada mesmo que sua voz não levantasse de tom. Ele me encarava por um bom segundo, deixando um pouco de ódio lhe escapar. Um ódio fervente, quente como somente o sol poderia e mesmo com todo seu poder, era tão apenas uma camuflagem. Uma camuflagem para seu medo com o desconhecido. Com o diferente. Bravo, achando-se corajoso, o ninja volta seus olhos confiantes para a barreira. Mesmo que estivesse suando horrores, mesmo se sua energia estivesse prestes a dar seu ultimo suspiro, ele ainda era escravo do seu próprio orgulho e preconceito. Sua derradeira fala, despretensiosa e insolente, só provará meu ponto. Colocará o derradeiro parafuso em são caixão. - Saia daqui, seu estrangeiro imundo. Não precisamos da sua gente.
Aquilo me atingia, me atingia forte como uma lança. Fazia tempo que não sentia isso, o preconceito vivo descanando minha pele sem fazer nenhuma cerimonia. É verdade, sou de outra terra... Talvez, eu seja de nenhuma delas, viajei tantos cantos desse mundo. E em todos eles deixei um rastro de vermelho para trás. Fecho o meu punho em raiva silenciosa, fecho-o com tanta força que suas palmas outrora morenas se tornavam um rio de vermelhidão. A raiva ecoava em minha alma, o senso de injustiça me afogava por um instante. Por um instante, um breve instante eterno, senti o assassino do Origami Negro pulsando em mim novamente. Querendo, como um animal faminto, encontrar qualquer brecha para vir se alimentar. Trazer a chuva de sangue novamente. Mas o contenho, o contenho em memória de Medusa e Kim... O contenho para o bem de todos.
Ainda sim, enquanto ando de maneira casual até os limites dessa barreira, um pouco dele (dessa outra face) escapa entre meus dedos. Meu Instinto Assassino é ativado, dando voz a todo o despontamento que sentia correndo minha carne até somente o osso restar. Eles sentiam medo dessa minha presença, tal medo eclipsava o temor que eles tinham pela besta para além desse santuário. Suas expressões se cortansiam em pleno horror. Seus ossos não apenas tremiam, eles petrificavam como se fossem uma estátua. Mortos em vida apenas para não terem que encarar a fonte desse terror. Eu, quem já fui. A face a qual escondo. Alguns pingos eu ouvia, o líder tão arrogante desde esquadrão, se mijava e afogava-se em seu próprio medo.
- Vou entrar, fiquem de prontidão senhores. - Dizia em uma mistura de calma e serenidade. Desativava o Instinto Assassino e os ouvia recuperar a sua respiração de imediato. Um leve, discreto e imoral, sorriso se fazia em meus lábios. Estava feliz secretamente por ter feito aquele homem engolir suas palavras a seco. Ainda existia crueldade em mim, independente do rosto e nome que eu escolhesse. Ela sempre estaria lá. Dormente. Esperando. Manipulo o Aço Negro em meu corpo, criando um bastão com ele e, em um movimento rápido, o choco graciosamente contra o domo. Ele é estável, frio e mesmo assim, quebrou com uma tacada. Quebrou como milhares de pequenos vidros sob esse solo assustada. Fiz um buraco, no tamanho de uma porta, com esse único golpe. Andei casualmente para além da barreira, para encontro dos portais arcaicos dessa biblioteca, enquanto soltava um punhado de palavras ao ar. Ordens. - Façam uma barreira melhor se dão valor as suas vidas, isso não será o suficiente para conter sua fúria. Sua dor.
...
- Não... Não... Não! - Acordava com o grito de minha filha Rize, o desespero ecoava em seus lábios de tom moreno. Eu havia dormido encima de minhas pesquisas novamente, na minha mesa pessoal no laboratório novamente. Tive um sonho, a volta de uma memória sangrenta. Com muitas mortes nela. Única. Ela ainda remexe meu estomago, deixa um gosto amargo em minha boca. Eu devia está meio sonolento, entregue as moscas porém, o grito de Rize, me despertava. Mais do que isso, despertava o instinto paterno em mim.  Mesmo depois de tanto tempo, tantas falhas, ele ainda reside em mim. Irônico não? Sob a melodia angustiando de seus gritos, meu coração apertava... Não, ele sufocava, enquanto afastava minha cadeira ao longe e ia ao seu socorro imediato.
Eu tinha muitos inimigos da época de mercenário, muitos que adorariam queimar sua carne ou esfola-la somente par mim torturar. Somente para me fazer por pecados de um passado que jamais será esquecido. Apenas enterrado. Será que eles finalmente me encontraram?! As imagens do que podiam fazer com ela, com minha filha, emergiam e tomavam minha mente em uma dor que nenhuma palavra é capaz de cabê-la em sua totalidade. Senti uma corrente de emoções sob minha garganta, apertando cada vez mais forte a medida que os segundos se davam. Ela deixava meu pescoço vermelho, pulsando, enquanto roubava o ar de meus pulmões. A ansiedade me matava aos poucos, me engolia, enquanto eu apenas podia acelerar o passo. Atravessar minha própria angustia.  
Meus ouvidos treinados por massacres e guerras, sabiam que seus gritos vinham da cozinha. Delicadamente, mesmo que os dedos estivesse suando de antecipação, movia uma faca negra (uma kunai) entre meus dedos com habilidade. Segurando-a com força, me preparando para o pior, chego em sua porta. O portal de onde os gritos vinheram. Ele era bem desenhado, conservado, em uma madeira que foi feita a mão. Pela mão de um verdadeiro artista, a minha. Ansioso, com um olhar sério que esconde o lobo aflito que sou por trás de minha íris amarelada agora. Com um chute bem colocado, bati nessa porta sem pensar, colocando-o a baixo com um único golpe preciso. Estava agressivo, como um animal pego em uma emboscada e, ainda sim, só é capaz de pensar em salvar sua própria cria. Sou um egoísta, uma assassino egoísta.
Eu somente via água, água até meus joelhos por todos os cantos. Minha mente, funcionando a mil, já acreditava saber o que aconteceria. Um de meus inimigos do passado, não importa o nome do desgraçado, chegou a ela primeiro. A memória de acordar e de encontrar Kim morta em meus braços... Por minha própria lâmina, me atingiu no peito como uma furação. Deixando-o do inverso, todo machucado. Fico paralisando, suando todas as lágrimas que meus olhos amarelos não tem coragem de derramar. Em desespero, lago minha kunai. A escuto bater na água, se afogar e, por um momento, queria me afogar com ela. Apenas dormir, deixar tudo desaparecer. A dor, a angustia. Tudo.
- Merda! esse era meu único vestido descente... Não posso sair com ela com os trapos de sempre. - Escute-a iluminando a situação e também acalmando meu coração. Um suspiro de alívio escapou de meus lábios. Ela segurava seu vestido verde simples, um que trabalhou horrores para conseguir apenas para essa ocasião, ao lado de uma máquina de lavar quebrada; O vestido estava destruído, logo nessa noite que significava tanto para ela. Mesmo chateada, de fala insolente para ocultar sua tristeza com o fato, ela conseguiu tempo para se preocupar verdadeiramente comigo. De uma forma meio carinhosa, meio surpresa, ela assistia meu semblante ainda aflito pelo mal entendido e se aproximou de mim com carinho. Perplexa com o que estava havendo. - Kaneki, tudo bem? Parece que viu um fantasma.
- Tudo... Me acompanhe, tenho a solução do seu problema Rize. - Dizia ao notar sua preocupação verdadeira na voz, eu não a queria a deixar angustiada. Então, apenas sorri discretamente e mudei de assunto.
...
Estava no antigo quarto de Medusa. No nosso antigo quarto. Eu não entrava aqui a bastante tempo. Não consigo, são muitas memórias. Claro, são memórias boas mas, não importava sua natureza, elas me lembravam de meu fracasso com ela. De que eu a deixei no momento que mais precisou por causa de minha maldita pesquisa. Maldita obsessão. Isso me corroía por dentro, se alimentava das minhas entranhas lentamente. Sadicamente, Já me roubou tantos noites de sono e me roubará, com razão, tantas outras a mais. Eu estava diante de seu guarda roupa, passei meus dedos delicadamente sob sua superfície. Ela era lisa, suave porém firme, com outrora foi sua mestra. Meu amor. O construí como um dos meus muitos presentes a ela... Lembro dela te gostado e isso, por um instante logo afogado, faz meus lábios desenharem um sorriso. Sentir o calor de minha vida de outrora, seu calor.     
Abri o guarda roupa, suas roupas estavam pegando poeira. Eu não as limpava há tempos, fui descuidado com sua memória e isso pesava ainda mais meus ombros. Fazia-me olhar com auto reprovação enquanto passava os dedos delicadamente entre as vestes. O derradeiro deles, o ultimo de sua imensa fileira, deve servir. É um vestido verde com detalhes brancos. O mesmo que ela usava quando nos conhecemos. Ela era linda nele, tão elegante e mesmo assim, tão humana. Tão bela. O tirei de seu canto com cuidado, com esmero, quase como se fosse um objeto sagrado. Até por que, para mim, era. Meu olhar brilhava ao encara-lo, em um misto de saudade e dor pelos dias que nunca voltaram. Anote, um dia, esse contraste ainda irá me devorar de dentro para fora. Acabar comigo.
- Use esse vestido, deve ser do seu tamanho... Era o mesmo que Medusa usou quando nos conhecemos. Sei que os olhos dela se deleitará ao vê-la nele. Uma peça única. - Dizia esticando gentilmente meu braço para ela pegar a peça, antes claro, tratei de limpa-la com meus dedos de maneira delicada. De forma quase devota e religiosa. Apesar de Rize acha-lo lindo, de precisar dele para hoje a noite, algo fazia ela hesitar. a ideia de que ela não estaria a altura de Medusa a assombrava, a noção de que não merecia essas vestes quebrava ela por dentro silenciosamente. Atrás de sua face de deboche, estava imersa em uma angustia momentânea que parecia paquerar a eternidade. Vendo isso, me posicionei na sua altura ao me ajoelhar e, de maneira serena mas segura, repousar minha mão em seu ombro. Querendo conforta-la, livra-la dessas mentiras que ela mesma criou.  - Medusa sentiria honrada se você o usasse... Para todos os sentidos, ela a via como sua filha e isso, somente isso, era o que bastava para ela. Que você fosse a filha para ela e ela ser sua mãe. Só não esqueça que tá de castigo pelo que fez ao monumento dos hokages essa semana tá? Volte antes das dez
- Obrigado, Kaneki, pelas palavras. - Ela abria um sorriso longo e me abraçava de repente, me pegando despreparado. A abraço de volta, profundamente. Aproveitando cada segundo desse momento. Jurando, silenciosamente, que nada me faria perder isso. Perdê-la. Em seguida, ela correu animada com o vestido para seu quarto e eu apenas a observei com um sorriso bobo em meus lábios e um coração aquecido por além de meu peito. Enquanto ela se distanciava, em passos rápidos e rebeldes, me maravilhando com o quanto ela cresceu rápido. Debochada, mas com carinho, ela me deixa um recardo antes de sair de vez por essa porta. Me encarando por instantes, deixando que eu mergulhe na alegria que  tão poucas vezes conheceria seu olhos. Alegria que ela merecia.  - Sobre o castigo... não prometo nada, velhote.

Asami POV

Estava a noite, as estrelas já estavam altas e brilhantes nesse céu escuro e, de maneira particular, fria. O vento, entretanto, estava suave. Atravessando a janela com paciência e tocando minha pele com uma gentileza que ela, raramente, sentia. Ele não tinha segundas intenções em seu toque e tampouco desejos maldosos. Era apenas a natureza, me dando boas vindas depois de dias presa num hospital, trancafiada em uma cama gelada.
Havia uma certa inocência nele, um sentimento que não era mútuo as outras faces que aqui repousam. Observo meu redor, varro a cena que o olhar espirituoso de sempre. Existia muitas conversas alheias, assuntos que entediam meus ouvidos infantes com uma facilidade tremenda. Entre mordidas vorazes e bebedeiras ansiosas, alguma coisa, entretanto, se salvava.  
Podia ver um grupo de ninjas, um time como aquele que, um dia, fiz parte. Eles estavam em uma mesa próxima, cansados da realidade que lhes foi imposta. Cansados do mundo onde nasceram. Eram espertos o suficiente para não deixar esse sentimento escapar de seus lábios, deixava a bebida, o vício, preencher os buracos. Algo os assustava, o ar daqui não era imaculado de seus medos e receios.
Todos sentiam, poucos admitiam. Os desaparecimentos estavam no coração de todos e, ainda sim, nenhuma boca os dizia. Fingiam que nada acontecia na esperança da negação se tornar sua realidade - sua verdade. Tolos eles eram, comiam sushi da melhor qualidade e bebiam vinho arcaico pela remota chance - pela remota esperança - de se agarrar em uma normalidade há muito esquecida. Perdida.
Mas, olho para baixo, para a mesa que está diante de meus sentidos. Vejo um prato escasso, com restos de uma comida devorada. Eu não sou muito diferente deles. Afogando minhas mágoas em futilidades, nas pequenas mentiras que tanto odeio e, ainda sim, às uso como um samurai usa uma espada. Os talheres repousavam no prato, tal como uma dama, meus modos continuavam impecáveis.
- Não fala tanto desde que saiu do hospital, Asami. Cortaram sua língua lá, foi?
Perante a mim aquela que, talvez, fosse minha melhor amiga, Rize. A Hyuuga com um sonho. Seus olhos de mar sorriam enquanto sua boca, cheia como sempre, temia em formar palavras. Toda a cena tinha um ar nojento, um ar que era deveras proibido de onde vim. Porém, isso não me impediu de sorrir e de, no percurso, um leve e acanhado riso nascer de meus lábios.
- Sendo justa, você nem me visitou lá… Quem mais deve explicações aqui é você, ó de olhos azulados como o mar. - Havia um humor em minhas palavras enquanto apontava o meu dedo para sua boca cheia, uma inocência que me fora negada nesses últimos dias ressurgia das cinzas. Era como uma fênix, sorrindo enquanto todos estavam em meio a tristeza. A rebeldia diante da multidão.
- Não olha para mim, o Sensei proibiu visitas… Devia estar brava com o Kaneki isso sim.
Aquilo fez meus olhos despertarem em surpresa, por um instante minha boca se encontrava sem palavras em seu arsenal. Podia-se ver a cor violeta opaco em minha irís com perfeição, era como uma flor assustada com seu próprio desabrochar. Demorou um pouco para cair a ficha, para ser puxada, uma vez mais, para a terra firme. O sorriso, antes firme e bem vivido, dava seu adeus seco a sua plateia cativa.
Rize engoliu tudo que comia, fazia força para tudo descer por sua garganta como deveria. A gula era seu pecado. Mas, ele não se resumia a esse prato. A esse desejo incensante. Ela sempre queria mais, desejava mais. O prestígio era algo que a fazia correr atrás, ser a cadela que perseguia os carros da rodovia. Lambia seus dedos atrás de restos, se agarrando aos sonhos com tudo que tinha… E, mais importante, com aquilo que ainda não possuía.
Olhos assustados a vigiavam, os mesmos que outrora me paqueraram. O dinheiro não os comprova modos, não os dava de bônus educação. As pessoas das outras mesas, uma vez ou outra, encaravam minha amiga como se fosse uma aberração: um monstro esperando ser apreciado através de uma fina vitrine de vidro. Aquele pensamento fez meu sangue ferver.
- O que aconteceu para ter acabado no hospital? Tudo parece está sendo guardado em sigilo, o Kaneki não me disse nada… Aquele velho.
Um sorriso corria pelos lábios da jovem de olhar azul, idem a noite que sempre permeia o céu com suas estrelas. Ela bebia um pouco de suco, o pouco que restava de sua taça rica em detalhes. Entretanto, a paz que reinava em sua face logo iria acabar. Não era meu anseio, tentava fingir uma alegria genuína. Mais ela me conhecia bem demais para cair em meus truques de atriz chinfrim.      
Olhava para baixo, para o prato vazio que repousa diante de mim. Meus ossos tremem, mais o frio não os assombrava. Havia um medo em meu rosto, um receio que teimava a ficar exposto. O sangue em minhas veias não estava mais quente, o veneno gelado que o legado que o Sino trás corria em minhas veias. O calor da vida era sugado de minha pele, de minha carne cobiçada.
A boca se perdia em palavras que nunca nasciam, algo incomum para alguém como eu. Uma mulher que vive em meio a mentiras e sua própria lábia ardente. Aquele dia na biblioteca era o rei de meus pensamentos, me deixava longe dos prazeres da vida… Dos bons momentos que eu possuía. Minhas mãos, brancas e dignas de um cadáver, ao centro da mesa ficariam.
- Eu estou aqui para você, por você pequena sacerdotisa. - Sussurrava Rize apenas para mim enquanto suas duas mãos se enrolavam com as minhas.
Eu sorria brevemente, olhava para ela como se o tempo perdesse seu significado como mortal. Meu medo, antes rei, era evaporado aos poucos. Transformava-se em uma sombra novamente. A lua, pela janela, era vista em seu ponto mais alto. Ela era a rainha daquele instante, nossa vela particular: nosso relógio.
- Eu sei... Mas, sem querer dispensar sua companhia, não está passando da meia noite não?
Aquilo estava me deixando envergonhada embora, suas palavras ferveram o meu sangue aterrorizado. Meus lábios, outrora tristes, se abriram e o sol, antes esfriado, voltava a brilhar de maneira intensa. Precisava mudar de assunto rápido, arranjar uma desculpa que venha a calhar. Estragar o momento. Por sorte, sou perita nisso.  
- Droga, está muito tarde e eu ainda estou de castigo. Se eu não chegar até as dez, Kaneki vai me matar! hora de fugir pela porta da esquerda!
...

Rize POV

Era muito tarde, a lua me traiu mais uma vez. Seria tão bom que o dia tivesse mais de 24 horas para variar. Com ela, a garota de cabelos cor de pimenta, a noite parece se desenrolar em meio a sua própria ansiedade. Mau sobra tempo para aproveitar os momentos, cada segundo tímido com ela. O preço valia a pena, mesmo que o sangue escorresse da minha pele por isso.
Um sorriso roubava meus lábios com esse exagero descarado. Para olhos alheios, posso ser um aberração. Entretanto, isso não valia para eles. Jamais. Posso sentir isso abraçando minha carne de maneira gentil, através da veste que costuraram especialmente para mim. Um presente breve, simples e, ainda sim, significativo.
A veste era tradicional, um vestido longo verde com algumas parte brancas Sua cor era meio escura embora, no melhor estilo gótico. Deixaria muitas mulheres da minha idade com inveja, até parecia que eu era da nobreza. O meu sonho, minha ambição pulsante, era a mesma que, naquele momento, desfazia o sorriso em minha face. O sonho não poderia está tão longe da realidade. O fato de parecer algo tão rico, tão longe de meu mundo, era porque esse traje era de Medusa quanto jovem. Era bom usa-lo, mesmo que não pareça comigo, parece que ela está comigo nesse momento importante. Abraçando-me como uma boa mãe faria, apoiando-me mesmo nas ansiedades mais fúteis. Nos encontros.
- Pronta para voltar para as missões? Estamos de molho desde que você teve suas “férias”, mocinha.
Anunciava isso com um humor que transbordava em minhas poucas palavras. Queria arrancar um riso dela, detesta-lá ver minha melhor amiga assim. Perdida em pensamentos. Porém, admito, aquilo também era para fugir do mundo real que me assombrava: do real que eu era obrigada a encarar todo dia de manhã. Acordar como uma serva, servir esses covardes que não fizeram nada para está no topo. Crianças que desconhecem o verdadeiro sofrimento.
Mas, minha tentativa foi em vão. Na verdade, parecia ter piorado tudo. Asami se retraia, fechava seus braços ao redor de seu peito e os massageava sem nada dizer. Parecia um cadáver que teimava a andar. Não era ela, não era a Asami que eu conheci. Ela olhava para baixo como um peixe vidrado, ignorando as casas vazias ao seu lado. Estávamos no Complexo Residencial nessa altura do campeonato, a algumas quadras da minha casa.
- Então, vai trazer aquele seu amigo quatro olhos que me falou para o time? Adoraria surrar o pessoal de Kiri qualquer dia desses.              
Odiava falar dele, por mais que eu não o conhecesse por além das histórias que a Asami me contava, ou melhor, me enchia em nossas saídas. Kiri tem uma história negra pintava em vermelho, não eram confiáveis. Eu podia manter um leve sorriso para a sacerdotisa do lado de fora mas, a verdade, é que minhas entranhas estavam se remoendo por dentro com a chance de trabalhar com ele, a possibilidade dele trair, como o resto de sua laia, minha bem quista amiga.
Entretanto, devo dar o braço a torcer, falar dele acendia uma velha chama nela. Uma pitada de nostalgia que eu não posso explicar, um sentimento que, nas sombras, eu invejo. Isso roubava um riso discreto dela, uma faceta de luz perante este cenário fúnebre. Por mais que, no interior, meus sentimentos gritassem o contrário, sua discreta e fugaz alegria era mais do que o suficiente para mim.
Pude vê-la melhor, a admirar melhor. Enquanto passeávamos por essas ruas desertas, sem um pingo de gente, a escuridão não nos assustava. Não enquanto ficássemos juntas. Para a mulher que estava acostumada a realeza, suas roupas despertavam curiosidade por sua aparente simplicidade. Era um vestido vermelho, elegante mas claramente barato. Era uma roupa que ela comprou para este encontro. Uma veste que era irmã de seus cabelos de fogo e que a destacava do resto dessa paisagem morta. Uma pequena obra de arte feita em carne e osso.
- Ele é uma boa adição, o talento encontrava uma vez a cada geração quando se trata de ilusões… Inteligente e, bem, um pouco robótico…
Sua mão direita, e branca como neve, faz um esforço medíocre em impedir um acanhado riso de nascer. Deveria ser alguma piada interna deles ou algo do tipo. Francamente, estou aliava por ela não ter começado com as histórias mais uma vez. Suspiros, sem meu consentimento, escapavam de meus lábios. Transformavam em ato aquilo que eu já tinha a ousadia de pensar.
Os olhos violeta e azulados se cruzam mais uma vez, a luz dela voltou. Mesmo que por apenas um breve momento, a velha Asami dava as caras. Dividimos algumas risadas doces, íntimas. Nossos passos eram lentos, rebeldes perante a finitude do próprio tempo. O desejo de sermos imortais crescia, ainda que ninguém dizia. Nem a sacerdotisa tinha coragem de cometer essa heresia.    
- Bom, pelo menos, ele pode substituir o último traidor...
Sentia que ela estava próxima de dar vida ao seus lábios, ela não cansava de defendê-lo. Era de sua natureza, preservar a esperança quando a escuridão batia em nossas portas de maneira ansiosa. Aquilo me fazia soltar um acanhado suspiro e minha boca dançar em um discreto sorriso. Eu podia odiar isso, achar muito irritante. Entretanto, no fundo, não poderia deixar de admirar sua inocência rara.
Olhei para ela, esperando o inevitável, nossas longas noites juntas não deixava eu pensar o contrário. Porém, isso foi negado diante do mundo real. Contemplava sua face pálida, quase como se fosse uma obra de arte pintada com esmero. Um misto de emoções inundava sua expressão, a dúvida se tornava sua amiga mais íntima. Algo estava tirando seu precioso sono sob as estrelas, algo não dito.
- Bem, crianças, não deviam está dormindo em suas camas agora? Ao menos, tenho uma boa notícia, seus pais não irão as colocar de castigo… Afinal, não estarão vivas para tal. - Anunciava uma voz masculina severa diante de nos duas.
Asami estava ao meu lado, seu olhar violeta estava vidrado. Assustado. Apenas posso imaginar o sangue dela fervendo, desesperado para fugir. Longe de mim culpa-lá, a hipocrisia é um pecado que deixo reservado para a nobreza. Ansiava dizer algo a ela, algo que a libertasse desse desespero. Entretanto, minhas palavras eram todas covardes, mergulhadas no medo que essa voz causa.
A presença desse homem me assustava, o dono das últimas palavras que tiveram coragem de passear nessa rua deserta. Meus ossos gemiam e os ombros, antes fortes e firmes, se entregavam ao receio de não ver o sol nascer. O desejo desse homem era bem claro, sua fala foi apenas mais um cumprimento sádico, ele era um assassino que pouco ligava se sua conta já transbordava em vermelho... Para ele, algo me dizia, que quanto mais pingasse melhor.
Perante nós estava a morte, eu podia sentir isso descendo seco em minha garganta. Diferente do que os adultos contavam, ela era feita de carne. Sua pele era branca, digna de um cadáver que se recusava a morrer. Os olhos, quase como uma brincadeira interna, eram mestres de um verde profundo, de uma natureza que não estava lá para ser domada ou admirada. Ele era como a natureza, tomando o que era seu por direito.
Um misto de sentimentos fazia meu coração bater em desespero. Minhas pernas suplicavam para eu cair fora dali e, ainda sim, meus olhos teimam em ficar, em observar. Havia um sorriso se revelando nessa face estranha, os dentes brancos como o céu faziam sua abertura para o mundo. O céu deles, entretanto, eram carregados de nuvens repletas de malícia.
O vento passeava por minha pele, suspiros que moviam meu cabelo com uma delicadeza ímpar. A marca em minha testa, o lembrete de minha posição nessa terra, se mostrava entre brechas. Minha vergonha exposta ao mundo, o desenho daquilo que foi escrito antes mesmo de eu me dar conta dessa mera existência. Mais uma injustiça, somada a conta que já transborda em meus braços, nos braços de qualquer um que se chame de Deus.
- Pela tradição, você tem que me enfrentar e salvar esse infeliz… Se fizer um bom trabalho, deixo você partir para um lugar melhor antes da sua amiga bonita ai.
Riso borbulhante de sarcasmo tomava conta de seus lábios. Seu olhar parecia ter um gosto particular por mim, como se fosse a refeição mais saborosa posta a mesa. Posso ver seus músculos definidos através de sua veste preta, o pouco de suor que se atraveu a cair neles fazia essa cena flertar com a ideia de ser uma pintura. Era como está em um museu pela última vez, admirando aqueles que sobreviveram aos ecos da história. Queria ser um deles.
Sou uma arqueira, devia ser capaz de sacar uma flecha e acertar seu olho antes que mais um suspiro arrogante escapasse de sua boca. Porém, isso não acontecia. Os braços me traiam em sua covardia. Pesados estavam, uma cruz cada um deles tinha como fardo. O medo fazia bem seu trabalho até aqui, me mantinha viva… Viva para sonhar outro dia. Não, eu não podia deixar a Asami assim, sozinha.
Surgia uma confusão em minha mente, uma que meus lábios não podiam combater com piadas maldosas e confiança embriagada. Entretanto, eu estaria mentindo se falasse que apenas isso acontecia nesse instante. Observando um dos ombros do homem que repousava diante de mim, uma pequena criança se revelava. Tinha cabelos loiros tratados com esmero, com luxos que muitos partiram deste mundo sem conhecer. A face desse infante era suave, ausente de cicatrizes… Ausente de dor. O veneno da nobreza corria em suas veias, seu destino era claro como o sol que ainda não nasceu.
- Foda-se o sistema, você levar ele será um bem danado para mim… Menos um no caminho de meu sonho, menos um senhor de escravos nesse planeta.
O ar denso havia cedido sua cadeira para um sentimento mais ameno a medida que as risadas desse desconhecido passeavam de ponta a ponta pelo seu rosto. O olhar esverdeado, a natureza indomável dentro dele, permitiu-se ser surpreendida pelo tempo de uma breve brisa passar por seus cabelos de ébano. Podia ser uma ignorante diante de seu nome, de suas causas e, ainda sim, sentia que nossas raízes eram próximas. Semelhantes.
Súbito foi este instante, o segundo que suas mãos descansavam em meu ombro. Podia sentir seus calos, suas cicatrizes passeando por toda sua carne. A surpresa me dominou, ainda que meus lábios se calou. Apenas precisei piscar e, há centímetros de mim, seu corpo estava. Perto assim, na mira de um abraço, meu receio por ele virava coisa do passado.
Esse homem com um nome que ainda não chegou em minha boca, me olhava diferente. Minha cor ou reputação, não o assustavam, não o faziam cuspir palavras de ódio. De fato, por trás de seus olhos verdes, uma admiração morava. Podia sentir sua respiração em meu pescoço, o frio de minha barriga subir quente por minha garganta. A essa altura, sussurros massageavam meu ouvido.
- Percebo seu potencial, eu também fui assim… Esquecido. Modifiquei meu corpo para ter poder, ser notado, mas você… Você recebeu o dom de deuses. Venha comigo e seja alguém... Por sinal, pode me chame de Han.
Han tirava sua camisa, mostrando os músculos que eu já admirava de longe. Agora, eles estavam perto de mim, posso sentir seu calor ansiando por um passeio de meus dedos. E, foi isso que aconteceu. Cada uma das mãos andou sobre seu tórax, tirou uma lasca de seu peito sarado. Nenhuma pessoa sã me deixaria chegar tão longe, me aventurar por terras tão íntimas. Isso é um pecado para uma aberração como eu, um monstro como eu.  
Fascinante é como eu descreveria essa viagem, meus sentidos se perdiam em meio a meros segundos. Sua carne era tão vívida, eu arranhava suas cicatrizes entre surtos de paixão súbita. Senti seus braços me enrolando, os pelos de seu peito acomodando minha face pálida. O calor que muitos negam, poucos prometem e, ainda sim, sob o luar, ninguém entrega.
Ele me distanciou com um toque brusco em meu ombro, ainda que fosse mais gentil que a maioria. Seu rosto virou e seus olhos verdes, outrora brilhantes, careciam de coragem para me encarar. O ar ameno que nos cercava faleceu e apenas a frieza do mundo restou para nos abraçar. Eu o entendia, escapar era seu desejo. Uma ânsia que fazia seu sangue ferver. Porém, o segurei, em seu braço meus dedos enrolei.
- Não corra, não funcionou para mim. Duvido que para você seja diferente.
Eu não tinha dom com as palavras, isso era com Asami. Foi apenas uma pequena frase e, ainda sim, o fez parar por um o instante. Pensar por um minuto entre ir ou ficar, entre encarar ou correr. Han, em resposta, apenas arrancou um pedaço de seu rosto, arrancou como se não fosse nada além de um acessório banal. Sua máscara caiu e, em seu lugar, metal e engrenagens nasceram.
O que estava diante de mim nem ao menos era humano, aquele que me abraçou nem ao menos tem braços de verdade. No princípio, a surpresa escapava das amarras da minha indiferença. Porém, como o vento dessa noite, ele não durou muito. Mesmo albino, meu olhar deixou escapar um brilho e minhas mãos, cheias de histórias para contar, tocou a parte gelada de seu rosto, o verdadeiro homem por trás da maquiagem.
- Me tornei um homem robô, essa coisa que está diante de uma garota bonita como você, para mudar o mundo… Mas, nem sempre o preço vale a pena.
- Alguém precisa pagar o preço para se ter a justiça nesse mundo, a justiça vem de nossas mãos. - Declaro enquanto passo os dedos por seu rosto delicadamente.
Han olha para longe, eu demoro um pouco para saber o motivo.          
...
Asami POV

Eu podia ouvir as declarações ao meu lado, esse tal de Han e Rize estavam conectados. Tirando sua camisa e a colocando aos cuidados do vento, ela descansou a alguns metros dessa cena. Aquilo parecia amor, o abraço dele a viciava em algo raro em sua existência como serva. Mas, quem estou tentando enganar? Isso é uma pedra preciosa para todos onde o coração ainda bate.
Posso ter cabelos ruivos como o sol que dorme ao alto, olhos violeta que atrai devotos indesejados. A sacerdotisa deve ser perfeita, sorrir diante a escuridão. Entretanto, nenhum deles conta o preço de viver. Poderes vem com um peso, uma responsabilidade que me assombra quando coloco minha cabeça no travesseiro. Toda essa energia e apenas consigo admirados aos meus pés, amantes? apenas moram em sonhos de infância.
Quando esse cara arranca literalmente parte de sua pele, a vejo cair perto de meus pés. Parece tão verdadeira, real e, ainda sim, é uma mentira velada. Aquilo mexe com minhas entranhas mais íntimas, faz eu suar frio. O Sino em minha orelha parece vivo, lutando para se soltar, lutando para me manter com vida. Um esforço nobre, um pedaço de minhas raízes que nunca vão embora.
Tinha receio de sentir o veneno da serpente mais uma vez em minhas veias, como se tivesse corrompendo minha natureza aos poucos. Ele queria me levar para longe do real, para mais perto do mundo de pesadelos. Isso me assustava mais do que o homem robô que descansa ao meu lado, eu não queria voltar para a biblioteca: para onde minha vida esteve na corda bamba. Sinto ela oscilando, flertando com o abismo sem fim.
Era monstruoso ver minha amiga tocando o rosto desse estranho, como se fossem amigos há muito tempo. Era um breve romance que, como eu, estava pobre e envenenado. Ainda sim, não encontrava forças para fazer algo. Meus lábios estavam selados por um medo que me era um velho conhecido. Era o mesmo que tinha me deixado de molho no hospital, uma borboleta sozinha no escuro com suas bolhas.
Porém, no horizonte distante, uma criança estava deitada e submersa em seus próprio mundo de sonhos. Ele era estava tão calmo, deveras inocente. Não parecia que todos a sua volta queriam sua morte, apenas nascer foi seu crime… Foi o seu motivo. Rize pode odiar se eu falar isso em voz alta, mas eles têm mais em comum do que sua cabeça teimosa possa admitir.        
Asami, você pode não estar mais na terra dos demônios e tampouco ser a mesma, mas você ainda carrega o título de sacerdotisa. Onde há morte, leve vida. Onde há trevas leve a luz. Esse é seu dever, um sonho pelo qual vale a pena morrer. Enxergar um infante jogado ao solo, as pragas que consomem esse mundo, fazem meu sangue ferver e as pernas, mais uma vez, se mover.
Chame de audácia, chame de estupidez… Chame como quiser. Corri contra o vento, o deixei balançar meu cabelo. Deixei minha amiga para trás por uma vida que me é estranha, que nunca fez nada por mim. Os pés eram rápidos, embriagados de uma adrenalina bem vinda. O coração batia e, certamente, o veneno aproveitaria a chance: faria o seu reino em breve.
Cutuquei o tigre com uma vara cura, sentia seu olhar verde de tigre me capturando de longe. Carente de surpresa, apenas um pequeno riso caminha até meus ouvidos. Não olhei para trás, não deixarei que ele se alimente de minha cara assustada uma vez mais. Vidrada eu estava, a cada respiração curta eu buscava refúgio em meu intuito. Em meu arcaico senso de certo e errada, em um título sem valor em uma era tão acinzentada.
Asami, você pode não estar mais na terra dos demônios e tampouco ser a mesma, mas você ainda carrega o título de sacerdotisa. Onde há morte, leve vida. Onde há trevas leve a luz. Esse é seu dever, um sonho pelo qual vale a pena morrer. Enxergar um infante jogado ao solo, as pragas que consomem esse mundo, fazem meu sangue ferver e as pernas, mais uma vez, se mover.
Chame de audácia, chame de estupidez… Chame como quiser. Corri contra o vento, o deixei balançar meu cabelo. Deixei minha amiga para trás por uma vida que me é estranha, que nunca fez nada por mim. Os pés eram rápidos, embriagados de uma adrenalina bem vinda. O coração batia e, certamente, o veneno aproveitaria a chance: faria o seu reino em breve.
Cutuquei o tigre com uma vara cura, sentia seu olhar verde de tigre me capturando de longe. Carente de surpresa, apenas um pequeno riso caminha até meus ouvidos. Não olhei para trás, não deixarei que ele se alimente de minha cara assustada uma vez mais. Vidrada eu estava, a cada respiração curta eu buscava refúgio em meu intuito. Em meu arcaico senso de certo e errado, em um título sem valor em uma era tão acinzentada.
Olhos violeta, os mesmos que tenho desde o nascimento. Meu maior dom, minha ruína declarada. Eles são tão jovens quanto à existência que busco colocar em braços seguros. Entretanto, não se engane: Mentiras, vermelho derramado, tudo eles enxergaram. O pior que nosso povo tem a oferecer eles têm gravado em sua pele. Palavras suaves cheias de segundas intenções, facas lambuzadas de sangue amigo. Ainda sim, não dei os ombros para eles, não me tornei um deles.
Senti um peso em meus ossos, as costas berravam em uma dor que meus lábios não conseguiam esconder. Havia recebido um suco de Han, seu punho mal estava cerrado quando tudo aconteceu. Gritei, engoli meu próprio orgulho mais de uma vez. Não era mais eu, não era mais a kunoichi forte que se encontrava por além dessa carne passageira. Sou novamente a garotinha do papai, precisando de servos ao seu lado, precisando de proteção. Aquilo me dava raiva, aquilo fazia meu coração explodir e, ainda sim, não deixava de ser uma verdade.    
- Aparentemente, sua beleza não se espelha em seu cérebro... Uma pena, isso poderia ter sido mais divertido sabe? Digno de meu tempo e, para sua sorte, não tenho mais muito dele... Apenas relaxe.
A dor ainda teimava em escapar de minha boca, gemidos de um socorro carente de ouvidos para alcançar. Os joelhos estavam sujos, feridos pelo baque súbito contra esse solo solitário. Isso não é um lugar digno para suas derradeiras palavras fazer de moradia. Sou destinada a mais, tenho um demônio real para parar. Nem o súditos deles foram capazes de cortar meus pulsos, fazer meu sangue jorrar na banheira e, com você, não será diferente.  
Meus olhos violeta varrem a cena, percebem que, como minha carne, eles estão ardendo. Deitados, sem forças para transformar minha determinação em realidade. A visão é um sentido que começa a me trair, se curvando à medida que minhas costelas quebradas vem às claras. Pode ser apenas um par delas e, ainda sim, lágrimas de angústia descem meu belo rosto. Mais uma cicatriz para a lista.
Penso em correr, por um instante se render ao instinto de sobrevivência, trair que eu era. Porém, as pernas não deixavam mais. Minha garganta queimava de dentro para fora, como se uma chama despertasse no meio de seu seio. O sangue, aos poucos, era cuspido por além de meus lábios. Estavam gelados, se transformando em um cadáver. Abandonando o calor que, uma vez, carinhosamente os abraçava.
Acabei por fazer o mesmo, fechar os olhos e navegar no escuro. Os segundos se passavam e o coração mais lento estava. Ele não aguentava mais, apenas queria dormir. Assim, eu poderia sonhar com o amor real, com um mundo onde sombras e o mal sejam só um mito. Aos poucos, meus sentidos aceitavam o meu anseio e, para o mundo, eles ofereciam seu adeus definitivo.
Mas, sempre há um “mas”... Senti dedos embrulhado uma de minhas mãos, dedos que nadavam nas ondas do desespero. Mesmo que de maneira tímida, abri meus olhos e, então, naquele segundo congelado no tempo, eu vi. Perto de mim, olhos albinos inocentes fizeram, de mim, a moradia de sua esperança rebelde. A voz era fraca, mas brilhava tanto quanto seus cabelos dourados.
Um sussurro nasceu, e com ele, minha alma também.  
- Por favor, eles farão coisas horríveis com meus olhos… Me darão um destino pior que a morte.  
A cabeça estava tonta, algum órgão interno deve está perdido. Sinto o gosto de ferro em minha boca, o gosto de uma morte que se aproxima. Ainda sim, meus lábios teimam em sorrir diante da criança. Podia não saber seu nome, mas admirando seus olhos brancos, os sonhos que ele carregava, era o suficiente para pequenas palavras escaparem do selo de medo e desespero. Eu voltei, por meros instantes, ser eu mesma mais uma vez,
- Vai ficar tudo bem, da próxima vez que acordar, estarei te comprando um sorvete.
Esperança, é isso que move meus ossos enquanto esse infante volta para seu mundo dos sonhos. Um pequeno riso, um fugaz riso, nasce de seus lábios antes de perder os sentidos. Apertei sua mão novamente, sentindo o terror dele indo embora. Essas palavras, por mais tolas que fossem, foram capazes de acalmar seu coração agitado. Meu olhar brilhou antes de retornar para a realidade.
Levantei-me com dificuldade, cuspindo sangue para todo lado. Não dei a satisfação de mais um grito saindo do forno, apenas um sorriso meio louco domava minha expressão. Estava em pé, diante daquele que queria ceifar minha vida. Sentia um sadismo emanando dele, um sentimento de diversão perante toda essa violência. Não era muito diferente dos homens que conheci. Era só mais um na minha longa lista.
- Han… Posso te chamar assim? Acontece que para conseguir essa criança terá que pisar em cima de mim. Muitos tentaram isso e poderia pedir umas dicas a eles… Se ainda estivessem vivos.
Exclamava aos quatro ventos, ainda que o sangue tivesse mergulhado minha própria língua em um mar de vermelhidão. Rize, minha amiga, apenas há de observar. Seu olhar, tão vivo e rebelde no passado, parecia ter sido domado. Toda a sua fúria, inquietação foi embriagada por uma falsa sensação de paz. Armas podem ferir muitas pessoas, mas são palavras, meras palavras, que iniciam uma guerra.
O homem apenas sorria de maneira discreta, balançando seus cabelos negros contra o vento. Por um instante, calou-se e, sua mente, navegou por outros mares. Entretanto, seus passos, não cessavam. Aos poucos, sua carne e a minha se aproximavam. Seu rosto, tão jovem quanto o meu, era um reino de malícia. Mas, havia algo além, algo que se perdia entre os metros que nos separavam. O abismo entre viver e morrer.
Sua mão era veloz, quase não o acompanhava enquanto fazia o selo do tigre. Era apenas uma imagem, uma cena que demorou meio segundo para ser feito. Ainda sim, fazia meu estômago se revirar e um frio pela espinha passear. Dei um passo para trás, por mais que meu olhar não se perdesse no oceano do receio. Às vezes, sentir um pouco de medo é a coisa mais sábia a se fazer,
- Bravo, bravo… Estou morrendo de medo da ameaça de uma criança que se acha ninja. Para ser uma ninja, uma de verdade, deve-se sacrificar algo… Você, por outro lado, deve ter tido tudo na vida… Garotos, pessoas, aos seus pés… Sim, conheço seu tipo muito bem.
Han sentia sua garganta queimar e seus pulmões, aos poucos, entravam em sua derradeira erupção. O ar, mesmo que por fugazes segundos, se tornava uma joia preciosa e rara. Era como se estivesse sendo consumida pela mesma boca que outrora rompeu o silêncio. Fogo nascia entre seus dentes brancos, perfeitos como as estrelas que me vigiam. Um velho amigo salta nesse tabuleiro de xadrez, um que tem a face de um dragão.
Não era a primeira vez que um dragão ansiava por queimar minha carne. Há muitos anos, diante dessas mesmas estrelas, as chamas assumiram essa forma contra mim. Tal como antes, o Sino ferveu meu sangue primeiro que essa brisa quente. A energia pulsava como se, em meu peito, morasse dois corações. Entretanto, contrariando meus instintos, eu disse que hoje não. Acabou-se os dias de me esconder atrás de seu escudo, de sua cortina rosada.
Estava suando, pouco a pouco meus vão vacilando. Minha testa tinha sua própria chuva para chamar de sua. Aos trancos e barrancos, água gelada saia dessa garganta em desespero e, em pequenos passos, se desenhava em um jato constante perante as chamas que flertavam contra meus ossos cansados. Pude sentir o gosto de sangue em meus lábios, a tosse vermelha não cessava. A paz viria até mim, de um jeito ou outro.
- Técnica de Selamento: Esfera de Contenção, é isso ai. Do que adianta tantas chamas, se elas mal aguentam um segundo contra mim?
Havia risos saindo de minha boca, risos tardios enquanto o fogo era circulado pelas etiquetas de selamento que voavam até próximo de suas chamas e, em um movimento preciso, criam uma barreira em torno delas. Selando-as. Gotas atingem o solo mas, nem todas eram de tom incolor. De meus lábios, um presente a mãe terra, o meu sangue era cuspido de maneira violeta. Os pulmões, tão infantes, lutavam pelo ar que os era negado. Podia não ser matemática nata porém, até eu, sabia que o desfecho batia em meus portais.
A visão, o sentido que nos permite ver beleza no mundo, lentamente se torna turva. Diante de mim, um sorriso macabro estava exposto. Seus olhos verdes, inconfundíveis, filtrava os meus por instantes que miravam na eternidade. Talvez, se perguntando se eles teriam um apetitoso preço do mercado negro. Estava faminto e, mais um lanchinho, não era uma ideia ruim. Um corpo saudável e jovem pode valer muito hoje em dia, sei bem disso.
- Isso é uma técnica de alto nível, meus parabéns. Merece um prêmio e sabe quem é a melhor para o definir? A bela e perigosa menina ao meu lado.  
Sinto algo perfura minha perna, o sangue pintava minha carne de maneira quase imediata. Meus olhos, agora brincando entre o mundo real e de doces sonhos, não sabiam certo o que tinha acontecido. Toda a cena estava lenta, mesmo minha queda, parecia está presa no eterno até, finalmente, acontecer. O baque ao solo acordou meus ouvidos, desesperados com o pouco que lhes era oferecido.
Estava de joelhos, mergulhada em uma poça de meu próprio sangue. Desejando, ainda que em vão, que tudo isso não passasse de uma ilusão, de uma brincadeira do veneno que assombra minhas veias. Pouco posso sentir de minhas pernas, elas estavam dormentes e rebeldes. Tudo era em vão pois, perante a mim, só a realidade fazia sua morada.
Havia uma flecha de energia travada em uma de minhas pernas, a mesma que me forçou a cair. Meus olhos, mesmo tontos, reconheciam a face daquela que dividiu tantas noites ao meu lado. Seus passos eram lentos, pareciam saborear a extensão de todo momento com uma calma assustadora. Eu podia a ouvir bater nas poças de água, nas poças de meu próprio sangue.
- Rize, somos amigas… Tem algo errado com você, deixe-me ajuda-lá…
As palavras saiam entre a vida e a morte, entre tosses de sangue que pareciam dispensar uma pausa. Meus ouvidos, talvez a única coisa ainda acordada a essa altura, percebia ela preparar seu arco com a mestria. Seus dedos, seus delicados dedos, perdiam um pouco de seu tempo escolhendo a flecha perfeita para a ocasião. Era o tempo de uma brisa, esse era o tempo de minha última vida.
- Diga-me, como é não ser a preferida?! A escolhida do baile, a princesa que todos rodeiam? Diga-me!... Como está na sombra ao menos uma vez? Não ter tudo que deseja na ponta de seus dedos?... Pois é, é frio não é sacerdotisa? Bem vinda ao meu mundo.
Uma flecha cortava o ar em direção ao meu peito.

Fim da Parte Um


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Mensagem por Ilusionista Seg Dez 13, 2021 7:29 pm

A União entre Olhos Distintos - O Ontem dos Olhares (Parte Um)


Maquiavel POV

O vento era frio, não gozava de liberdade. Tentava escapar por qualquer brecha, por qualquer janela, mas, não passava de um devaneio. Isso, temos em comum. Luz era algo raro aqui, muito mais valiosa que qualquer esmeralda. O breu não me assustará mais, ele praticamente me adotou. O cenário era, em si, neutro. Propositalmente sem vida. Uma jaula com paredes de metal, um quarto de treinamento para chamar de meu.
Apenas meus olhos brilhavam no escuro, como gotas de sangue presentes em uma pintura gótica. Posso ouvir seus passos, a batida de um coração que não vacila. Porém, isso me foi uma súbita surpresa, eu não sabia que ele possuía um. Sua lâmina bate no ar, como se quisesse que eu o tirasse o gosto do primeiro ataque. Estava ansiosa, berrando para ver mais uma gota de vermelho cair em sua lâmina.
Choques houveram, minha pele quase sentiu o frio toque da espada, quase deu a ela o que tanto desejava. Entretanto, fui mais rápido, fui como o vento que - como eu - estava preso aqui. Ele queria liberdade e eu, eu, só queria acabar com isso. Minha Tanto estava firme, anos de prática me presentearam com isso: Um pedaço de metal morto, especializado em uma única coisa. Assassinar.
- Quero ouvir seu instinto. - ele declara - que ouvir seu orgulho pela família Jaavas passar pela lâmina.    
A ventania, antes minha amiga, traiu-me. Pude sentir seus impulsos cortantes em minha pele, afiadas como as melhores facas de Kiri estava. Pequenos cortes em meu braço foram uma lembrança, um adendo do que poderia acontecer quase eu baixasse a guarda novamente. Nessa família, o erro é o prenúncio da morte. O erro nos afasta da única coisa que realmente importa: glória.
Trocamos mais alguns lances no escuro, literalmente éramos samurais cegos nesse momento. As espadas entravam em colisão, somente o suor para ainda nos lembrar que somos humanos. Meu sangue batia o chão, pintando esse quarto escuro com um pouco de vida, com uma lembrança constante de que somos mortais.
Respirei fundo, assim, essa dança não terminaria nunca. Descansei minha arma a colocando no chão, perante meus pés. Podia ouvir seu riso, seu sussurro dizendo o quanto eu era medíocre. Suas palavras não me afetam...Não mais. Seu coração acelerou e, como uma locomotiva, se aproximava de mim. Sua espada mirava meu peito protegido por uma camisa branca simples, porém, elegante.
Mas, eu ousei desaparecer de frente aos seus olhos. Sua lâmina não se alimentou de nada além de ar. Um breve sorriso veio ao seu rosto quando percebeu que vinhas pressionavam sua carne, ainda que nenhum grito escapava de seus lábios. Uma ilusão fora feita por mim, aos dez anos, consegui o que a maioria dos Shinobis ver na televisão.
- Basta Maquiavel, basta.
As luzes se acenderam e meu mestre, meu pai, estava ao chão. A mão se encontrava na garganta como se precisasse, com urgência, de oxigênio. Sua fiel Katana estava ao chão, ainda banhada com meu sangue infante. Meus olhos, antes vermelhos, assumem a cor preta costumeira.
- Você podia ter me matado… Você deveria. Por isso que nunca irá a academia. Nunca trará glória ao nosso nome.  
Dizia cada palavra lentamente em meu ouvido como se desejasse ter certeza que eu entenderia o significado de cada letra dita. Não olhava em seus olhos, apenas abaixava a cabeça e ia embora. Sua face austera sempre teve outros planos para mim e, o que virá em seguida, é apenas mais um.  
...
Estava cansado, a chuva constante, me alegrava. Eu podia ver os aldeões, protegendo sua mercadoria da chuva. Os olhos eram escravos do chão, seria um crime olhar torto para uma pessoa com meu nome. Meu pai, aquele que apenas desejava ser chamado de Senhor, vestiu nosso fardamento próprio. Um traje branco com alguns, poucos, detalhes azulados. Para minha infelicidade, nossos rostos eram donos de uma semelhança que não poderia ser negada.
O Akagan, meu dom, ele queria que sempre estivesse ativo, ele queria saber o limite exato de meu corpo e mente. Eu ouvia os pensamentos de todos, não sabia controlar. Cada garoto que passasse, cada ninja que acabará de retornar de uma operação, eu podia ouvi suas vozes mesmo que seus lábios, como eu confirmei várias vezes, estivessem fechados.
Não posso mostrar a emoção, a dor que me faz revirar por dentro. Os pensamentos meus que se confundia com pensamentos teus, de outras pessoas que - possivelmente - não duraria mais uma semana nesse governo sangrento. Apenas me resta fechar minha face, mostrar uma frieza que não é digna de mim.
Aos poucos eu só via crianças no caminho, seus pensamentos não eram puros como se podia esperar. A sobrevivência aqui cobrou seu preço. Estávamos perto da academia, uma cerimônia de sangue já deve se encontrar em seu crepúsculo, a graduação ninja só aceita o melhor. O que melhor derramar o sangue de seus próprios amigos.    
...
O corredor da academia estava deserto e, na única sala aberta, os cadáveres ainda estão sendo retirados, colocados em sacos. Seus nomes já não mais importavam, todos se tornavam números agora. Dígitos perdidos na lista dos fracassados. Nem mesmo aquele que os levará, ou pelo menos, o que restará de seus corpos parecia se importar. Um paraíso macabro.
Um garoto se aproximava de mim, um par de anos mais novo. Suas vestes eram completas de sangue, de sangue dos outros. Tinha um tímido sorriso em seu rosto, ele podia não admitir em voz alta, mas, gostará do que fez. Gostará de cada cabeça que cortou, gostará de todos os pescoços que enfocou. Faria tudo de novo se pudesse, se deixassem.
- Você é o próximo? Garoto dos olhos anormais.
Ajeitava os óculos, podia ler seus pensamentos mesmo que esse fosse o último item da minha lista de desejos. As crianças correndo, aos mãos cruas que as batia, tudo isso era motivo de comemoração para ele. Até as últimas palavras, ele se lembrava de cada uma delas perfeitamente, cada reza não atendida. Cada promessa quebrada, sonhos cortados por sua lâmina cega.  Aquilo me enjoava, aquilo me acordaria a noite.
- Ele é o melhor para capturar a jovem Asami na vila da folha, dizem que ela tem o poder de ver o futuro… Uma sacerdotisa será útil para os planos da família.
O pequeno assassino sorriu ao ver meu pai, provavelmente, era o ídolo dele. Todos que apoiavam esse governo ou o amavam ou o temiam - geralmente, por experiência, é o último. Talvez, só talvez, por isso sua face - outrora confiante - não escondia seu surpreso ao sentir a espada de meu pai perfurar-se sua barriga, banhando-se com o sangue de um igual.
- Por isso, a honra deve ser de meu filho. Pois, ao invés de a matar e comprar um cientista para dissecar seus olhos, ela pode ser nossa amiga. Sua. - Dizia ele enquanto batia o sangue de sua espada - A filha dos Yamato passará as férias aqui, enquanto seus pais estarão resolvendo coisas da política. Sua Missão: Se aproximar dela, conseguir sua confiança a qualquer custo.
Como eu disse, é só mais uma entre tantas. O sono começa a me ninar e como todos os corpos a minha volto, vou ao chão involuntariamente. Meus olhos deixaram sua vermelhidão para trás, o sono, um breve placebo, é o que me traz.

Asami POV


A cama que estou é macia, posso sentir seus lençóis claros agasalhando minha pele quase albina. Aquilo me arrancava um tímido riso, o som de uma alegria nua e crua que não precisa se preocupar em ficar bem para as câmeras. De fato, essa era uma jóia rara que escapulia de meus dedos, um luxo que nem mesmo uma alta sacerdotisa pode desfrutar.
Fazia frio aqui, era a primeira vez que o sentia caminhando por minha pele, me lembrando que sou eu a intrusa nessas terras. A invasora. Meu pé toca sua terra, um chão gelado e sem alma me esperava. Podia-se ver que seu exterior, sua maquiagem, era linda. Cheio de desenhos e formas que só conhecem um propósito: maravilhar olhos alheios, distrai-me da verdade.  
Sinto um peso em minha barriga, uma leve dormência na região que me fazia o favor de lembrar que estou viva. Era meu acompanhante até o sono chegar até mim, um convite para outro mundo. Era um pequeno livro, um dos poucos presentes sinceros que ganhei nessa minha existência. Era de meu pai e, se algum tolo aventura-se para o desbravar, um simples bilhete lhe aguardava. A tinta, escura como o céu de onde vim, estava em seus últimos dias de vida.

Este livro é para minha única herdeira de sangue, a minha única filha e, no futuro, a primeira kunoichi  sacerdotisa de seu clã. Aproveite esse exemplar que, um dia, passou por mim de A Lenda de um Ninja Destemido... Com amor, seu pai.

Uma lágrima, uma teimosa lágrima, desce em meu rosto: toca, de maneira efêmera, minha pele antes de desaparecer ante meus olhos infantes. A tinta, a mesma que mantinha essa mensagem na velha e amarelada contra capa, parece compartilhar o meu mesmo destino, a mão inevitável do esquecimento. Dou mais alguns anos, apenas alguns poucos anos, para essas palavras se tornarem um mero borrão nessa escrita de cabeceira.
Um sorriso discreto, uma raridade, eu o esboçava em meus lábios enquanto, de maneira carinhosa, colocava meu presente de lado. Ele podia descansar na minha cama agora, ao meio do luxo, junto de meus outros sonhos mortos. Ambições fugazes de uma criança com uma infância perfeita: uma burguesa que, onde ia, seu trono de ouro a seguiria.
- Asami, o ensaio acontece daqui a quinze minutos… Tome o seu café antes que esfrie.
Essa era minha mãe, uma mulher de negócios - como ela mesma anuncia aos ventos a cada chance velada que tem. Ainda que a porta de meu quadro fosse grossa, de uma qualidade que meu olhar é incapaz de contrariar e, ainda sim, sua voz é como um estouro nos portões de meus ouvidos virgens. Sei que, em seu seio, a um consolo que poucas vezes o mundo existirá. Entretanto, ainda tenho doze anos e, no fundo, só sei gritar.
- Porra, mãe. Eu não pedi para ser um manequim feito de 24 horas por dia!  
Eram raras as ocasiões que solto minha língua dessa forma, de uma maneira tão chula. Nesta altura, eu já estava alguns poucos metros da porta que nos separava: da porta que me separa do fardo inevitável. A responsabilidade. Nos segundos, acanhados segundos, que nasceram o silêncio fazia seu reino. Parecia que eu tive a palavra derradeira, o melhor prêmio do momento. O sangue fervia e, na mesma dança, meus punhos se trancaram  em si.
A garganta queimava, a saliva era a moeda a ser paga. Meus cabelos ruivos se encontram em um caos só, longe da lei e ordem que estão acostumados a seguir. Não seguem por medo e, tampouco, por sua legítima vontade. Não, o que move é algo mais íntimo, algo mais selvagem: algo que tem seu princípio e desfecho de seu próprio umbigo. Estou falando do desejo, da gasolina para esse velho e acabado carro que chamamos de vida.
Houve passos, os únicos com audácia o suficiente para quebrar o pacto de mudez. Eles eram discretos, quase como uma sombra qualquer porém, nada os podia negar de existir. Aquilo me fez engolir a seco meu orgulho mesquinho, me fez suar frio como só ela sabia fazer. Os instantes que ela demorava para subir, o espaço entre um degrau e o outro, era ali que o demônio fazia sua moradia: era ali que minha súbita ansiedade há de descansar.
Começo a pensar em palavras, em desculpas esfarrapadas, tudo valia se fosse para, da fivela de seu cinto, escapar. Entretanto, era eu o meu mais perverso traidor. Entre os segundos que me restavam, aquelas pequenas brechas de tempo que fazia-se de barganha, de nada me serviam em seu desfecho pois, no fechar das cortinas, boas ideias não moravam mais em minha cachola.
O silêncio fez seu retorno mas, desta vez, era apenas uma visita breve. Uma visita que ascendia a calmaria antes da tormenta. Os passos cessaram mas, a essa altura, dúvida alguma me restava: estávamos, literalmente, a um palmo de distância. A porta de madeira, desenhada em um mar de esmero, era a única coisa que separava nossos olhares. Podiam até ser divergentes em seu tom, mas eram idênticos em sua alma.
- Não levante sua voz para mim, eu lhe dei vida… Acima de tudo, eu lhe dei um motivo para se levantar todo dia.
Minha mãe clamava, eu podia ouvir seu sentimento suprimido, preso em um gaiola e lutando para sair. Podia até a imaginar atrás desta porta com seus braços cruzados e uma cara austera me esperando ansiosamente. Seus olhos, tais como os meus, não dariam o braço a torcer. Teimosia, em nossa família, deve ser um gene dominante. Um pequeno sorriso se faz na ponta de meus lábios, como se gostasse daquilo: como se gostasse da quebra de braço.
- Corta essa, você não me deu nada… Você me ordenou, isso é completamente diferente.
Meus ânimos estavam mais pacíficos, agora era o momento de jogar uma partida de xadrez humano. Ou assim, com toda essa postura maquiavélica, eu queria me fantasiar. A mudez durou menos dessa vez, ela era uma passageira que nem, ao menos, teve tempo de sentar no trem. Mesmo sem ver seu rosto, mesmo com apenas seus leves suspiros a disposição, pude sentir sua testa franzir e, com ela, a gaiola se abrir.
- Talvez, você fosse muito pequena para entender o motivo de fugimos… Quem sabe, eu tenha mesmo falhado em sua criação mas…
- Pare, não sou mais uma criança para acreditar em seus contos de fadas. - a interrompi, o tom de minhas palavras me era estranho, demasiadamente cheio de crueza. - Pare de mentir para mim, ou melhor, pare de mentir para si própria; é patético.
- Você sabe que o demônio é real, acredita que todo mundo: todo o seu povo estaria mentindo? - Pude apreciar o toque de cinismo em suas últimas palavras, uma arrogância ausente de qualquer resquício de vergonha - Seu pai é a prova viva do que digo, o cadáver dele não é o suficiente para encerrar sua rebeldia digna da adolescência.
- Não ouse usar ele como seu escudo… - nesse breve momento, aponto o meu dedo para a frente: como se fosse para seu rosto escondido, sua expressão incrédula. -  o Demônio está morto, destruído. São vocês que continuam presas em contos de outro mundo, na esperança egoísta de terem algum propósito uma vez mais… Seja franca consigo mesma, você queria os Olhos Violeta… Queria ser como eu!
A garganta arde com o grito que nasceu de meus, outrora serenos, lábios. Minha testa franzida se encontravam, faziam par com meus punhos cerrados. Meu coração estava agitado, com pressa para ter algum significado. O sangue estava fervendo, marcando sua presença em minhas veias saltadas. Havia uma sopa de emoções cozinhando no meu estômago, brigando para ver que sairá primeiro. Ver que, nesse inferno, vai governar.
- Só não esqueça que, no fim do dia, sou eu que te dou um teto para morar, quatro paredes para você berrar o quanto desejar. - Minha mãe me respondia, quase podia a sentir cruzando os braços, determinada a ter o ponto final. - Não acredito que seu pai desistiu dos sonhos por quem está perante a mim… Essa criança mimada não mereceu seu sacrifício supremo.
- Ele não morreu por mim! Ele não se foi por minha causa… Não se iluda, foram Homens que fizeram isso conosco e não, deuses.
A doce Asami, aquela que vive diante das câmeras, mandou um adeus desde que esse instante se fez. Inflamada, tal como seus fios de cabelo, em chamas estava seu coração. Ainda que aquilo me fizesse dor, fizesse minha mão suplicar por um carinho que nunca vêm, meus punhos se jogavam contra a parede mais próxima. Eles se contraem em uma imediata reação, tremendo por um sofrimento que passeia livres pelos meus braços. O grito, a súplica velada, é o anseio de seus ouvidos que nunca será saciado.
- Se quer colocar a culpa em alguém, se quer culpar algo… Culpe esses malditos olhos pois, desde que me entende como gente nesse mundo, eles só veem desgraça.
Meus joelhos caem, um baque momentâneo ganha vida. Minhas mãos tocam o chão, passeiam por seus muitos caminhos. A maioria, senão todos, viveram mais do que eu e, ainda sim, duvido que tenha visto mais mortes do que eu. Uma lágrima, uma lágrima coberta de estigma, corre pelo meu rosto pálido: para um rosto tão acostumado com sorrisos falsos que a verdade - o sentir - tornar-se seu maior receio.
- Um dia verá o que vejo… Verá o dom que reside em sua alma pura, sua missão nesse mundo. - Dizia minha mãe, mais suave depois de alguns bons instantes calada. - Filha, a algo que posso fazer para aliviar seus ombros?
- Isso é o pior mãe... A morte é a única corrida que sempre vamos perder, então, por qual motivo se dar o trabalho de correr?    

Fim da Parte Um
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Mensagem por Ilusionista Seg Dez 20, 2021 7:00 pm

A União entre Olhos Distintos - O Primeiro Encontro (Parte Dois)

Maquiavel POV


Estou na sala escura mais uma vez, as gotas de sangue de ontem ainda se encontram pintando esse chão. Por baixo da extensa mangá que estou usando, os cortes que sofri ainda ardem. Lembrando-me de mais um encontro caloroso entre pai e filho que eu tive. Sua lâmina gostará do sabor de minha carne porém, hoje, especialmente hoje, ela não estará no cardápio.  
Não, hoje a tortura será diferente. Se desenhava como uma cena clara perante essa escuridão. Posso ouvir os gritos perdendo força, os joelhos ralados querendo escapar. Fariam de tudo para a morte evitar. Entretanto, para seu azar, a morte não aceitaria um não como resposta hoje. Hoje era o dia do julgamento dessas almas infantes, o julgamento dos alunos da acadêmia.
Alguns seguravam espadas, outros tentava a sorte com estrelas de metal mas, no fim, o resultado era o mesmo; o destino não poderia ser contrariado. Ainda com suas lâminas limpas, os seus corpos  frios jaziam no solo, com seus últimos sussurros espalhados pelo vento. Havia, nesse mar de vermelhidão, apenas um sobrevivente. Um ser que, desde tenra idade, fora ensinado que isso era o certo; que ser um matador era uma missão nobre.
A criança era um par de anos mais nova do que eu, sorridente estava. Sua espada, uma belíssima katana, estava suja com o sangue daqueles que ele considerava como fracos e a vergonha da aldeia. Era difícil esquecer seu rosto, delicado demais para ser de um assassino e inocente demais para carregar tantos pecados em seu ombro.  
Eu estava em pé, a última alma viva entre esses cadáveres jovens. Uma lâmina perfura meu estômago e, ainda sim, os lábios se mantiveram calados. Estava olho a olho com o assassino, com aquele que me acabará de encerrar a vida. Meu corpo caia no chão, um pouco agradecido por tudo que acontecia.
Mas, era só uma ilusão. Vivi muitas e posso dizer, ainda que como novo nesse corpo, que a realidade sempre é pior. Um rápido selo de mão e algumas palavras acanhadas que saiam de minha boca era o suficiente para me livrar dessa armadilha. Ele fora astuto embora, astuto e cruel, sabia que, independente de qual fosse a imagem que vi na cabeça do menino, aquela coisa iria me marcar por uma breve mas, intensa, eternidade.
O sorriso dessa criança perante meus olhos escuros é o último a desaparecer, seu sangue se unirá com muitos que, assim como ele, tiveram seu fim nas mãos de seu ídolo - meu pai.
- Está progredindo na arte das ilusões, Maquiavel. Porquanto, podia ter sido melhor… Muito melhor se não relutava em usar seus olhos verdadeiros.
A voz de meu pai era serena de um lado e dura do outro. As luzes do quarto deserto se acenderam e ele, em toda sua glória, estava em minha frente. Podia notar uma certa inquietação em sua face, uma certa preocupação que, obviamente, não me tinha com seu alvo.
- Hoje resolverei negócios com a família Yamato. Servirá de guarda e guia para a filha deles, uma sacerdotisa. Note meu rebento, se ela cair em mãos erradas seria um desastre político para a aldeia e, mais importante, para nossos planos.
...

Asami POV


Era mais um dia em frente as câmeras, era mais um terço de minha vida enfeitada com um belo sorriso falso. Os flashes constantes não me tiram mais do ar, é como um segundo sol para essa que nos fala. Há muitas palavras, muitos ecos que caminham até meus ouvidos imaculados. Elogios amargos, críticas doces e segundas intenções que fazem da gentileza sua morada. Pouco de novo realmente havia, eram as mesmas marionetes em um palco de cores diferentes.
Fugia da realeza, de ter súditos em meus pés mas, a realeza não fugia de mim. Eu tinha um fraco por luxo, pelo poder que ele representa. Talvez, fosse por isso que aceitava de bom grado esses trabalhos. Afasta-me do sonho sim, mas com um sabor que valia a pena ter entre meus lábios. Sentia-me que não precisava me provar a ninguém enquanto vestia isso ou aquilo, tinha o fácil sabor controle correndo como louco pela minha boca. Não sou tola, sabia que isso não passava de uma mentira. Uma doce anestesia.
Quando dizem que sua vida é a mercê de seu destino, de seus olhos violeta desde que nasceu, você faz coisas idiotas para provar que estão errados: para se convencer que aquilo era tudo menos a verdade. Sabia da ciência por trás dessas palavras, as minúcias de minha vontade e, ainda sim, estou aqui dando vida a mais um papel entre tantos outros. Já tive tantos nomes, tantas casas, que mais um não fará diferença. Só quero sentir no fim.
A imagem que dou é aquilo que esses olhos mortos, essas câmeras, tanto anseiam. O toque da perfeição, o vislumbre da estrela que me tornei. Meus cabelos, raros como diamante, lembram o sol que nos oferece o dom da vida. Irônico, seus fios são intensos e alinhados com muito esmero. Longos, se recusam a ficar em quatro paredes. Ditando o vento, alça por além de meus ombros delicados. Emoldura, de maneira sublime, meu rosto.
- Só mais algumas fotos, Asami… Será a modelo número um de Kiri se tudo correr bem. - Vou sorrindo, sorrindo como me ensinam a fazer. Sorrindo para sobreviver. Essa não é minha ambição, não é o que meu coração deseja. Mas, estou enganando quem? Isso e nada são sinônimos em minha cabeça. O fotógrafo, absoluto em suas cenas, continuava seus flashes sem fim. No que lhe diz respeito, só existo por essa lente. - Não se atrase de novo, certo? Não quero lhe dar sermão uma terceira vez essa semana...
- Você é muito gentil… - Declarou ao vento meus lábios, a verdade não podia está mais distante deles. A expressão em meu rosto era amena, digna da mais perfeita boneca que se pode encontrar em uma prateleira. Aos olhos externos, curiosos como o inferno, eu era a dama que todos almejam ter em seu colo. Ótima para uma foto. Porém, atrás da cortina, minha história era outra. Eu odiava isso, a mentira que visto todo dia em nome de um amanhã que nunca chega. - O pagamento, ele precisa ser feito hoje. Esse era o acordo… Longe de mim achar que um lorde como o senhor foge de sua própria palavra. Mas, sabe como é, não se pode confiar no cara com a câmera esses dias.
- Claro, Claro… A mídia mente. Já vai ser transferido para sua conta ou, melhor, para a de sua mãe. Ainda não é uma mulher Asami, falta muito para seu florescer. - Tirando o apetrecho de sua face, posso vê-lo bem pela primeira vez. Ele sorria, ainda que de canto, para mim como se fosse capturar seu próximo prêmio e expor em sua parede. Ele deve ter um museu, um altar para enfeitar com almas que são como eu. Um caçador era sua essência, sempre com fome. Sempre com um desejo a mais para saciar. Hoje esse desejo tinha meu nome nele. - Você tem tanto potencial criança, saia da sombra da mamãe… Vou fazer valer a pena. Uma vida de luxo, uma existência sem correntes. O sonho de todos, não?
Mais um vez eu era o centro desse palco, a estrela impaciente com seu próprio brilho. A roupa que cobre minha pele é uma boa mentira do que sou, a melhor cortina que uma garota teria a sorte de ter entre seus dedos. A beleza é uma palavra que todos anseiam, seja em si ou no outro. Ainda que vasta demais para uma só letra, uma só prisão, o mundo a quer assim. Sendo uma única palavra, uma única definição que amarra destinos e põem no canto o livre arbítrio. Esse mundo, esse sorriso falso, queimou minha infância com gosto.
Comecei a desenhar passos delicados, livres para se chocarem com a realidade fria que mantém viva meus dias na alta sociedade. Eu sorria enquanto fazia o caminho, um entre tantos logo perdem seu significado para mim. Outros o veem, o desejam para si, sem saber que ele não passa de um fantasma bem maquiado. Sobrevivência, essa é a desculpa que nos ombros carrego. A mentira para eu dormir abraçada a noite, uma só para chamar de minha.
Viver fugindo, correndo com o nome para mudar a cada nova esquina vista. Ser modelo é o trabalho perfeito para mim. Sempre trocando de roupa, sempre sendo a cobra ansiando há mudar de pele. Desta vez, um vestido azul escuro guardava minha carne macia do frio, me impedia de sair do salto alto de realeza. Uma princesa sem reino perdida em uma terra distante. A pele de animal morto passeia no horizonte de meu ombro, um casaco felpudo.
- Meu bom senhor, como posso dizer isso? Ou você para com os “negócios” ou eu darei uma de “destino” com você… Sim? - Parei no cameraman, dizendo as palavras de maneira suave em seus ouvidos. Aquilo era um sussurro, leve como o “vale felicidade” que estampa meu rosto. Ainda sim, em meio ao teatro, a verdade desfaz seu nó. Uma raiva, ainda que feita de uma bela miragem, pulsa em minhas veias. - Isso não vale só para mim, é por todas as almas inocentes que engordam sua conta.  
Aquela falando era uma estranha no espelho, um reflexo em mil fragmentos espalhados sob o chão. As palavras, sussurros em seu ouvido, era a minha vontade em sua forma mais pura. Liberdade deveria ser assim, não? Mesmo assim, algo faz meu estômago revirar e meu sangue, o meu pobre eu, se viciar. O homem corria assustado, decidido não arriscar suas palavras comigo. O terror fugia de si mesmo, ia além de sua carne de segunda e fedia digno de um esgoto. Agarrava a sua câmera, a gasolina de sua perversão, como se nela o preço de sua alma repousava.
Demorou um pouco, alguns instantes, para perceber o sino “falando” comigo, querendo emergir e tornar-me sua marionete predileta. A aura que me abraçou, por um segundo ou dois, é tão quente quanto a estrela que nunca poderia tocar ou ser. A energia, em seu tom rosado, era única e, ainda sim, tão familiar. Era meu segundo coração, pulsando comigo desde então. Seu poder, ainda que de braços com o medo, tinha um gosto que há de renegar meus lábios. O sabor de voar sem uma gaiola encontrar.
Um sorriso descia até minha boca mas, enganado ele era. Doce já não era a palavra que iria cair em seus braços. Serenos porém, livres da sanidade. Os dentes brancos estavam lá, servindo-se de ser como a neve para um outono distante. Presas pareciam, o riso de um vampiro era seu epílogo. Belos e perversos, o reflexo de uma sacerdotisa em um espelho distorcido. Assustado o animal correu, nunca esquecerá essa imagem. Tornei-me uma pintura em seus pesadelos.
- Eu acho que meu mestre está ficando gagá, você não parece a criança “boazinha” e sacerdotisa pura que ele me descreveu… Parece interessante. - Surgia uma voz, um lembrete de não me perder em minha própria loucura. Aquilo me assustou horrores, fez minha espinha arder de frio mas, uma atriz que se preze, jamais derrama sua maquiagem no palco. Amena, apenas me virava e assistia um jovem de cabelos dourados capturar minha atenção.
-  Desculpe, minha agenda está cheia… Quem é você? - Ria de maneira leve, querendo parecer mais uma ovelha na fazenda. Mas, algo me dizia que a verdade já sussurrou em seu ouvido há tempos. Ele não era como os outros, minha imagem não lhe arranca sorrisos falsos. Pelo contrário, seu olhar esverdeado como jade, transmitia algo que há muito se perdeu nessas cortinas. Sinceridade. - Se quer ver algum trabalho, minha mãe logo vai chegar. Não faço nenhum acordo sem ela.
- Agenda cheia, sério? Acabou de fazer seu terceiro chefe no mês molhar as calças… Sua mãe não vai gostar, está ficando muito na cara. Como dizem, os anjos são piores que os demônios… - O estranho apenas me olhava, um certo desdém vinha de seu semblante esguio e alto.  De fato, ele precisava se curvar para falávamos no mesmo patamar. Ao menos, parecia me tratar como igual. Alguém vai além da pura propaganda, além de ser uma “boneca perfeita” - Certo, esse aí usava suas prediletas para vender órgãos e umas “particularidades” a mais… Entretanto, estou gastando saliva em vão, já sabia disso.  

- Não mato nenhum deles mas, não vou ficar calado quando alguém precisa de mim… Se você se cala diante do mal, você também é o mal. - Digo, minha postura amena abria espaço para uma outra pessoa. Uma que não teme ser vista pelo que é, uma que deseja isso com todas as forças. Meu olhar violeta tinha um brilho, minhas veias se embriagam na adrenalina. Estou surfando em minhas emoções. - Um adulto e uma criança de doze anos sozinhos… O que acha que acontece se eu gritar? Começa a falar.
- Ok, Ok, você é uma peste astuta né? Meu nome é Ebern e sou o mensageiro da família Jaavas. - Num gesto simples, casual, ele tira de suas vestes uma carta e entrega em meus dedos. Educado, sem segundas intenções. Ainda sério, se distanciava um pouco de mim. Respeito é a palavra que assombra sua cabeça. - Sua mãe já foi informada, ela terá uma reunião com o meu senhor e, bem, ele convida Asami para um passeio pela vila.
- Falar de mim em terceira pessoa? Não, obrigado… Vejo que ainda estão resolvendo muito as coisas em minhas costas, não serei uma moeda de troca. - Pronuncio, um pouco irritante mas, sem perder a postura. Mexia em meus cabelos, nos fios de fogo do destino, de maneira discreta. Era o meu remédio pessoal contra ansiedade. - Você me tratou bem e agradeço porém, não tenho motivo para achar que sua palavra tenha algum valor.
- Gostei de você, é uma pena que terá que aguentar o filho mimado e chato de meu mestre em seu turismo… Maquiavel, um quatro olhos metido. - Ebern riria, pela primeira vez o vejo esboçar um sentimento. Uma prova de que estou falando com algo de carne e osso. Suas vestes, brancas e bem tratadas, escondem um esquisito senso de humor. - Maquiavel, Maquiavel… Tão tolo, ele perde todo pássaro que colocam pra ele guardar... Não vai ser nada de outro mundo ele perder mais um.
A última frase foi um sussurro, ao mesmo tempo tão íntimo e tão distante para mim. Eu sorria de maneira sutil, amena mas, nada mais podia fazer. Aquela que me botou nesse inferno havia chegado.
- Asami, parece que o King Jaavas já se adiantou com você… Muitos criados ele tem, não deve conseguir fazer nada sozinho...

...

Minha mãe separou um vestido vermelho longo, deixou-o para mim nesta vasta cama que agora passo os olhos. Era bonito, muito chique. Lembrava-me das vestimentas que conheceram meu pequeno corpo nos dias de glória dos bailes do País dos Demônios. Nunca pensei que olharia essa outrora com nostalgia, odiava ser a boneca de luxo de todo mundo. Sentia-me vazia, como se não controlasse minhas próprias cordas. Porém, agora que conheci a vida de perseguições sem fim, aqueles dias enfeitados e falsos não pareciam tão ruins.
Naquela época eu podia dormir sem a dúvida se o amanhã existiria para mim pairando sob a cabeça, naqueles anos meu pai ainda pertencia a terra dos vivos. Desde que fui abduzida pelo Culto de Moryõ, a paz me parece uma doce e impossível ilusão. Vivendo correndo, fugindo, não é tão divertido quanto os livros fazem parecer. Nesse punhado de anos sem casa adotei tantos nomes que quase esqueci qual era o meu único verdadeiro. Minha própria identidade.
Tocando o vestido pude sentir o quanto era macio, fino. Muito melhor do que a maioria dos travesseiros que conheci desde que me esbarrei com a escuridão. Por um momento, um breve instante no tempo, levantei na minha caótica mente a possibilidade de aceitar o abraço de Kiri sem lutar. Eu estaria segura, viveria no luxo todos os dias. Nunca mais teria que me conformar com um travesseiro de pedras, não. Era assim como uma sacerdotisa deveria viver.
Largo o vestido, o jogando no chão ao longe. A tentação passa. Não foi por isso que meu pai se sacrificou, não foi por uma princesa de porcelana ou uma moeda de troca elegante. Ele deu sua vida para que Asami pudesse viver, não a sacerdotisa. Poderia ter tudo mas esse Jaavas não é diferente dos anciões de meu longínquo País. Ver-me como um objeto, uma forma de alcançar mais poder. A partir de hoje, no testemunho dessa noite ausente de estrelas, escreveria meu próprio destino.
Finalmente viveria.
Abaixo-me, pegando atrás de uma tábua de madeira e revelando um pequeno saco de moedas surrado. Todas as minhas economias estão aqui, o suficiente para virar a página. Recomeçar em meus próprios termos. Um sorriso que misturava malícia e esperança se fazia em meus finos lábios pálidos enquanto eu guardava o pequeno pacote. Um pouco de ansiedade assombra meu coração, o acelera. Para um pássaro que viveu todos os seus dias na gaiola, a brasa da liberdade o assusta. Aterroriza.
- Desculpe mãe, Jaavas… ou destino. A sacerdotisa Escarlate tem outros planos.
Saio do quarto, coloco a máscara. Jogarei um pouco mais esse nojento xadrez de mentiras e intenções ocultas se isso significar meu sonho alcançar.


Maquiavel POV


Era uma manhã, por mais estranho que pareça, com um tímido sol a mostra. Basicamente, eu e ela tínhamos o mesmo comportamento. As palavras não queriam escapar da minha boca e eu não as culpo, faria o mesmo no lugar delas. Apenas observava o chão, torcendo com todas as minhas força que, ao meu lado, a sacerdotisa não tenha dúvidas em sua mente.  
Tirando esse fato incômodo, estávamos indo bem. Dançando a doce música do silêncio. A cada esquina tinha um vendedor querendo empurrar algo para ela, incentivar seu lado capitalista. Alguns, mais ousados, comentavam sobre a beleza exótica  da garota. E, por mais que eu não me atrevesse a dizer o mesmo, era obrigado a concordar.
Fios ruivos intensos realmente são raros por essas bandas e seu rosto delicado e, simultaneamente, forte era uma mistura bem vinda. Suas vestes eram modestas, ainda mais para uma sacerdotisa. Uma camisa azul escuro e calça jeans, era algo que dispensava a tradição; algo que meus odiaram se ela não fosse tão importante. Tão perigosa.
Entretanto, nada disso se comparava aos seus olhos. A chance de ter essa cor é uma em um milhão. Um violeta opaco, discreto e, mesmo assim, desperta a curiosidade de quem os observa por muito tempo. Para minha desgraça, eu me flagrei fazendo isso uma ou duas vezes  durante o passeio. Meu pai me puniria por isso, por essa fugaz distração mas, por minha sorte, ela era diferente.
- Quer saber se as lendas são verdadeiras não é? Pergunta logo, pois, não temos o dia todo… Você quer saber se eu vejo o futuro.
Sua voz era delicada, até mesmo, um pouco sonora. Não poderia tirar seu mérito por essa dedução. Apenas acenei minha cabeça, o respeito movia esse ato. Um senso de cavalheirismo antiquado. Os meus pais diriam que, categoricamente, os bons modos são uma boa forma de começar a manipulação, uma boa forma de causar uma boa impressão.
- Desculpe o desapontar, é mentira. Na verdade, é uma questão complicada que envolve minha alma...  
Nossa primeira conversa, se é que posso chamar isso de conversa, foi interrompida por penas vindo do céu, penas brancas como as de um anjo. As pessoas a nossa volta caiam ao chão, deliciosamente caindo em um sono não programado. Eu queria escapar dessa realidade mas, esse luxo fora  tirado de mim. Técnica do Templo de Nirvana, esse é o nome da culpada. Libertei-me facilmente das garras dessa ilusão e, antes que meus lábios pudessem se mexer para a avisar, a jovem Asami ela já caia em seu encanto.
A segurava antes que o solo a conhecesse, o solo frio e áspero que nossos pés são obrigados a tocar. Fisicamente, meus músculos são frágeis. Lutam para manter seu peso, regem seus dentes, em um esforço tremendo enquanto colocam seu corpo para descansar gentilmente nesse chão que em nada há merecia. A sacerdotisa estava em paz, de fato, mais parecia que as penas que voaram outrora sob nos viam de suas asas ocultas. As asas de um verdadeiro anjo de cabelos avermelhados. De fato, meu treinamento falha nesse sentindo. A programação peca enquanto me perco, em um instante que beira ao eterno, em seu belo e tão sereno rosto... Enquanto me perco filtrando seu brilhante e vivido olhar violeta com meus próprios olhos negro sem vida. Ela era estranho mas, contra meus instintos mais primordiais, era um estranho que me atrai. Uma sensação estranha, assustadora, que logo me torna seu refém mais devoto. Via nela a calmaria e, ao mesmo tempo, a aventura de uma vida que foi me negado desde que abrir os olhos neste mundo.
- Obrigado... Você tem que me ensinar esse truque qualquer dia. - Ouvia ela, com um sorriso de canto de boca fugaz mas que estava claramente se divertindo, depois de acorda-la da ilusão com o uso da Dissipação de Genjutsu nela. Faria de maneira educada, acanhada e tímida, enquanto tocava com meus dois dedos em seu pescoço quente e aconchegante quanto apenas um sol poderia sonhar em ser. Um pouco sem jeito, ofereci minha mão para ajuda-la a levantar e assim aconteceu. Cavalheiro sempre, mas sem experiência com toque humano, rapidamente se tornou claro para os olhos perspicazes de Asami que aquilo me fazia me sentir meio deslocado. Confuso. Sentindo empatia por isso, a dor que eu sentia, a sacerdotisa tentou me arrancar um sorriso, brincando comigo para que me sinta melhor. E, admito, por um momento que logo foi esquecido através das areias do tempo, foi exatamente o que aconteceu. Meu peito sentiu um calor reconfortante enquanto assistia seu pequeno e fugaz sorriso nascer. - Sabe, podia ter me acordado um ou dois minutos depois né? Estava tendo um bom sonho e tal. Eles são meio raros em pessoas como eu.  
- Teremos  Problemas… -  Eu disse cortando nossa conversa, ignorando que os bons sonhos parecem um tesouro que nos dois não temos muitos. Quem diria que temos algo em comum? Porém, ainda que conversar com ela é estranhamente tentador, algo em meus sentindos treinados dizia que nosso infortúnio estava longe de acabar. E, bem, mais uma precisão acertada minha.
...
O barulho do sino balançando, algo tão simples e que, por gerações diversas, fora protegido com sangue de inocentes. Esse era o sino em sua orelha, o sagrado brinco da sacerdotisa. Somente boatos de seu poder passaram por essas orelhas que nos falam, isso, até esse exato instante. As chamas nos consome, olho para frente e percebo o cheiro de corpos queimados, de crianças torradas.
Ainda não entenderia a origem de tamanho destruição, apenas um vasto tiro de fogo ardente ia em minha direção. O tempo não estará do meu lado e meu braço, bem me dera, estava machucado. Meus vermelhos adormecidos, eu não o segundo necessário para esquivar dessas chamas.
Calor, eu apenas sentirá o calor. Mas, não do fogo diante de mim. Não. O calor vinha de seu corpo ao meu lado, o escudo rosado de energia que me separa, gentilmente, da morte encarnada em um dragão de fogo. Seus cabelos, ruivos por natureza, se confundiam com as brasas adventas do cenário. Aos poucos, o fogo parou de respirar e, como presente, cadáveres na rua deixará.  
- Atrás de nós dois, garoto. - Dizia o anjo que acabará de me poupar, literalmente do inferno.
Por instinto me virei e pela mão da sorte saquei minha espada, o metal mais confiável que eu tive a chance de conhecer. Akagan acordou, mesmo que esse não era meu desejo primordial. Pude ver as estrelas ninjas indo contra mim, uma dezena delas, que tinha - como eu - apenas um desejo: Silêncio, o meu silêncio. Como um dançarino, porém, move minha lâmina e bloqueio todas as suas investidas.
Ou, assim, um tolo como eu pensará.
O vermelho escorria de meu ombro esquerdo, as gotas purificavam esse solo maldito. A espada, que tanto eu confiava, tombou ao chão no fraquejo de minha mão. Os joelhos, seguindo essa música, não demoraria para se juntar a eles. Era tão mais fácil se acabasse assim, como mais um corpo estirado na estrada.
E, por um momento, eu achava que tivesse acabado assim. Sabia que, lá no fundo, isso evitaria muitos pecados em minha vida, muitos erros nesse mundo quebrado. Mas, o destino nunca joga com as carta que queremos. A vida ainda pulsava em mim, assim como pulsava na garota ao meu lado. Asami Yamato, aquela que tem sua história escrita em pergaminhos. Um verdadeiro demônio para seguir.
Porém, essas não era a única vida que eu sentirá. Se fosse, isso terminaria em um jantar político entre nossas famílias. Não, essa me fora uma ignorância negada. Estávamos cercados, homens com máscaras de corvo branco e negro -  Um toque, certamente, sádico de que escreverá essa história. Suas vestes, contracenando com as minhas, era uma totalidade que brincava com o cinza, com a linha pecado ou dádiva.  
- Jaavas, você pode ser morto logo, não se preocupe. Os olhos violeta da garota, ao contrário, terão um destino mais divertido. Sua aldeia vai agradecer seu péssimo trabalho quando, ela, em chamas, arder.
Dizia um deles, não sem bem qual. Agora, pouco seus berros me importava. Trincava os dentes, sufocava o grito quando a estrela ninja, em um movimento singular, é arrancada de minha carne. O sangue descia e com ela, a promessa fugaz de uma vida serena. Eu queria acreditar que meu pai nos uniu, eu e Asami, por algo além de um turismo barato. Uma missão a mais em sua folha de pagamento. Porém, não…
Era justamente isso, mais uma missão. Mais uma narrativa entre viver ou morrer. Eu escolho o último.
Com minha mão boa guardo minha espada e, em seguida, sentindo suas costas nas minhas, entrelaço nossas mãos. Uma bomba de fumaça, minha desta vez, nos dar o tempo suficiente para correr. Posso ouvir nossos corações bater juntos mas, lhe garanto, essa não será a ultima vez.

Fim da Parte Dois
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