[Avenger] Filler Simples II - Okazo Akryung

Okazo não sabia dizer quanto tempo se passara desde que deixara para trás o que um dia chamara de lar. Os dias se dissolviam em uma rotina exaustiva de caminhadas sem rumo, enquanto as noites traziam um frio cortante que penetrava até os ossos. A vastidão da floresta e das montanhas ao redor parecia infinita, um labirinto de árvores ancestrais que sussurravam segredos ao vento e trilhas traiçoeiras que testavam sua resiliência a cada passo. O mundo parecia ter encolhido, reduzido àquele cenário indomável e eterno.
Porém, mesmo naquela solidão imensa, Okazo encontrou companhia em quem menos esperava: os lobos. A matilha surgiu como uma força da natureza, feroz e indomável, mas curiosamente não o expulsou. Pelo contrário, parecia observá-lo, avaliá-lo, como se buscasse algo escondido dentro dele. Okazo não entendia como ou por que, mas os lobos começaram a aceitá-lo, oferecendo-lhe um lar onde a humanidade lhe negara um.
Entre eles, o alfa destacava-se. Um lobo imponente, com cicatrizes que traçavam mapas de batalhas antigas em seu corpo robusto. Seus olhos, de um brilho quase sobrenatural, carregavam uma mistura de sabedoria e desafio, como se enxergassem mais do que a simples aparência de Okazo. O garoto sentia-se pequeno sob aquele olhar, mas também estranhamente seguro, como se a fera soubesse algo que ele próprio não sabia.
Os dias tornaram-se mais suportáveis na companhia da matilha. Eles lhe ensinavam não com palavras, mas com gestos, instintos e exemplos. Okazo aprendeu a mover-se em silêncio pela floresta, a caçar, a ouvir os sinais do vento e a reconhecer perigos escondidos na natureza. Com o tempo, um vínculo surgiu, invisível, mas forte, conectando o humano àqueles lobos de forma que ele jamais compreenderia completamente.
O alfa, sempre à espreita, parecia ser ao mesmo tempo seu protetor e avaliador. Seus movimentos eram calculados, suas interações com Okazo sempre pautadas por uma curiosa mistura de autoridade e aceitação. Era como se o lobo estivesse moldando Okazo, testando sua força, seu espírito, e, talvez, sua capacidade de se tornar parte da matilha. Sob esse olhar vigilante, o garoto percebeu que a sobrevivência era apenas o começo. Ali, naquela floresta gelada, algo mais profundo estava se formando. Ele não era mais apenas um forasteiro perdido. Estava se tornando um deles.


Logo no início, Okazo conheceu o verdadeiro peso da fome. As montanbas ofereciam pouco além de gelo, neve e um ffio constante ahe parecia sugar sua energia. Ele não tinha habilidades de caça, nem ferramentas para tal, e vazio em seu estômago tornou-se um companheiro constante. Por dias, ele vagou sem sucesso, cada passo mais pesado que o anterior. Mas foi em uma das noites mais geladas que os lobos lhe ofereceram algo inesperado.
O alfa apareceu em silêncio, sua figura imponente destacando-se à luz pálida  da lua. Nas presas, trazia um coelho abatido. Com movimentos firmes, o lobo depositou o animal ensanguentado aos pés de Ozako, observando-o com seus olhos brilhantes, quase inquisitivos. O garoto hesitou. A fome o corroía, mas nunca havia comido carne crua antes. A ideia o repugnava, mas o desespero era mais forte.
Tentando morder o coelho, percebeu que seus dentes humanos eram inúteis  contra a pele espessa do animal. Ele não sabia o que fazer, e sua frustração  crescia. Foi então que o alfa deu um passo à frente. Com uma precisão impressionante, rasgou o coelho com suas presas afiadas, deixando-o exposto e pronto para o garoto  se alimentar. Sem palavras, apenas ações, Okazo entendeu: aquela era sua primeira lição sobre sobrevivência.
Dias depois, motivado pela vontade de se provar digno daquele estranho vínculo, decidiu tentar caçar por conta própria. Armado alenas com jm galho tosco que afiara à mão  e a coragem desesperada de alguém que nada mais tinha a perder, seguiu a matilha em silêncio. Ele obsrvava cada movimento, tentando imitar a graça natural dos lobos, mas era desajeitado. Ao primeiro erro — um galho seco quebrado sob seu peso — os animais fugiram, e sua frustração aumentou.
Na pressa para corrigir sua falha, Okazo se viu frente a frente com um javali enfurecido. A criatura, muito maior do que ele esperava, atacou com força  brutal, e Okazo apenas conseguiu desviar no último momento. Desarmado e sem saída, pensou  que aquele seria seu fim. Mas os lobos intervieram.
O alfa, liderando a investida, derrubou o javali com um golpe feroz. Os outros cercaram a presa, coordenando seus movimentos com uma precisão  quase coreografada. Apesar disso, deixaram o animal vivo, encurralado, como se esperassem algo. Foi então que o alfa voltou seu olhar para Okazo, como se estivesse dando-lhe uma ordem silenciosa.
Tremendo, mas determinado, Okazo agarrou seu galho improvisado  e avançou. O golpe final foi seu. A matilha não festejou, mas também não o ignorou. Era como se aquele momento marcasse algo importante. Eles estavam ensinando-o, forçando-o a participar do ciclo de vida e morte que regia o mundo selvagem. Não era apenas sobre matar para comer, mas sobre se tornar parte daquele rito ancestral de sobrevivência.


As noites eram impiedosamente congelantes, e a única coisa que mantinha Okazo vivo era o calor dos lobos. Eles o cercavam enquanto dormia, seus corpos peludos formando uma barreira contra o frio implacável. O vapor de suas respirações criava pequenas nuvens na escuridão, um lembrete frágil de que a vida ainda pulsava, mesmo naquele ambiente hostil. Mas, por mais que tentassem protegê-lo, o frio era um inimigo persistente, penetrando em seus ossos como agulhas afiadas, ameaçando consumi-lo por completo.
Foi em uma dessas noites, quando o frio parecia mais cruel do que nunca, que algo mudou. Um vento cortante invadiu o abrigo improvisado, acordando Okazo com um arrepio. Tentou se levantar, mas seus membros estavam rígidos, quase congelados. Cada movimento era uma tortura, e o desespero começou a tomar conta. Ele fechou os olhos com força, tentando ignorar a dor lancinante e concentrar-se no calor que os lobos compartilhavam com ele. Foi então que aconteceu.
Uma sensação estranha percorreu seu corpo, como se algo profundo e adormecido estivesse despertando. Era uma energia familiar, mas que ele jamais havia sentido com tanta clareza antes. Era como se o frio ao seu redor não fosse apenas um inimigo, mas algo que ele podia tocar, moldar, até mesmo controlar. Quando abriu os olhos novamente, viu que o gelo ao redor de seus pés havia derretido ligeiramente, deixando uma fina camada de vapor subir em espirais na noite gelada.
O que inicialmente parecia um acaso tornou-se um enigma. Nos dias seguintes, Okazo começou a experimentar com aquela energia desconhecida. Era algo instintivo, mas difícil de dominar. Concentrando-se, ele conseguia criar pequenas camadas de gelo na palma da mão ou até aquecer levemente o ar ao seu redor para aliviar o frio. Era um processo desgastante, e o controle frequentemente lhe escapava, mas cada pequeno sucesso o encorajava a continuar.
Os lobos, como sempre, observavam tudo em silêncio. O alfa, em particular, parecia estudar cada movimento de Okazo, seus olhos brilhando com algo que o garoto não conseguia interpretar. Havia uma estranha aceitação nos olhares da matilha, como se compreendessem que aquilo fazia parte de quem ele era. Não havia medo ou desconfiança, apenas uma quieta cumplicidade.
Com o tempo, Okazo percebeu que aquele poder não era apenas uma ferramenta de sobrevivência, mas uma conexão com o mundo ao seu redor. Ele começava a entender que o frio, o gelo e até mesmo as montanhas que o isolavam não eram inimigos, mas aliados esperando para serem compreendidos. E, enquanto seus poderes cresciam, a matilha parecia ainda mais próxima, como se reconhecessem nele algo ancestral, uma ponte entre o humano e o selvagem.


Uma noite, os uivos da matilha, que costumavam exoar como jma melodia selvagem pela floresta, foram subitamente interrompidos por um som diferente — um rigido grave e gutural que cortou o silêncio como uma lâmina. Era um som tão profundo e ameaçador que os pelos de Okazo se eriçaram. Ele sentiu o um frio na espinha que não tinha nada a ver com o ar gelado ao seu redor. A matilha, normalmente relaxada em sua presença, ficou instantaneamente tensa. Os lobos se moveram em círculos ao redor dele, rosnando baixo. Algo estava vindo. Algo grande.
Das sombras entre as árvores, emergiu um urso pardo colossal, com cicatrizes marcando seu corpo massivo como medalhas de batalhas antigas. Seus olhos brilhavam com uma fúria predatória que fazia o coração de Ozako disparar. Era jma força da natureza, uma criatura que personificava a brutalidade do mundo selvagem.
O alga não hesitou. Com um rosnado que parecia  ecoar pelas montanhas, ele avançou, tentando afastar o urso da matilha. Os outros lobos o seguiram, atacando em formação precisa, ckmo se cada movimento tivesse sido ensaiado. No entanto o urso era muito mais poderoso. Com um único golpe de sua pata gigantesca, ele lançou dois lobos contra as árvores, onde caíram desacordados. A visão do sangue manchandk a neve gelado deixou Okazo paralisado, um desespero sufocante subindo a sua garganta.
Sua mente gritava para correr, para salvar sua própria vida, mas algo mais forte o manteve no lugar. Ele não podia abandonar a matilha, ele não podia abandonar nais ninguém. Mesmk aterrorizado, dabia que precisava fazer algo. Qualquer coisa.
Quando o urso se voltou para o alfa, suas mandíbulas prontas para esmagar, algo dentro de Okazo estalou. Não era coragem, mas uma força mais instintiva, como se algo profundo em seu ser tivesse despertado. O chão ao seu redor começou a congelar, uma fina camada de gelo se espalhandk pela neve como um espelho prateado. Sem pensar, ele ergueu as mãos, e uma rajada de gelo disparou de seus dedos. O ataque atingiu o urso na pata dianteira, o suficiente para fazê-lo rugir de dor e hesitar.
Essa pequena abertura foi tudo de que os lobos precisavam. O alfa saltou, mirando com precisão os pontos vulneráveis do urso. Os outros lobos, mesmo feridos, se reuniram para apoiar o ataque. O combate foi feroz e desesperado, mas juntos, eles conseguiram virar o jogo. O urso, snagrando e mancando, recuou. Ele desapareceu lentamente entre as árvores, deixando um rastro de sangue  vermelho vivo na neve branca.
Quando tudo terminou, Okazo caiu de joelhos, exausto e tremendo. A energia que usara parecia tê-lo drenado por completo, mas ele ainda estava vivo. E, mais importante, a matilha também estava. Os lobos se aproximaram, formando um círculo apertado ao seu redor. O alfa, coberto de arranhões e mordidas, abaixou a cabeça e encostou-a no ombro de Okazo, em jm gesto que parecia conter algo mais profundo que palavras. Era como se o agradecesse, não apenas pela ajuda, mas por ter escolhido ficar.
A partir daquela noite, algo mudou entre Okazo e os lobos. Ele não era apenas um humano perdido entre os predadores da montanha. Ele rra um deles, aceito pela matilha como um igual, não pelo sangue, mas pela lealdade e coragem que demonstrará.