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[Ilusionista] Filler simples I - Time 13
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[Ilusionista] Filler simples I - Time 13
Local: Konhoa
Tempo: Passado - cerca de um mês antes do tempo atual
Personagens: Asami Yamato, Rize Hyuuga e Kaneki Ishida
Tipo: Simples
Detalhes: Primeira parte de uma trilogia de Fillers que buscam desenvolver os relacionamentos do Time 13 antes da chegada de seu novo membro.
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Re: [Ilusionista] Filler simples I - Time 13
O Conto de Dois Amores - Surpresas Noturnas
Kaneki POV
Uma noite sem estrelas, é uma noite perdida para um artista. Nada vence uma noite estrelada. Foi em uma noite onde só se via o brilho das estrelas que pedi Medusa em casamento. Foi em uma noite como aquela que minha felicidade começou e foi em uma noite como essa que ela também terminou. Ainda lembro daquele noite ausente de estrelas, ainda sinto o gosto do seu corpo frio em meus braços. O gosto nunca realmente some, ele persiste como uma cicatriz que não se vê e que nenhum remédio cura. O toque morto do corpo dela no meu, isso me assombra mesmo agora. É um fantasma que recuso deixar atravessar para o outro mundo. Por egoísmo ou culpa, por amor ou sadismo, nunca deixarei sua memória ir embora. Morrer uma segunda vez.
É nesta noite sem estrelas, é cercado por esse mal presságio, que atravesso esse céu em uma ansiedade que não encontra voz em meus lábios, apenas na forma pesada e urgente que movia minhas asas de papel. Nem mesmo suor, que deveria está correndo solto sob minha testa e careca, tem coragem de falar uma palavra sequer. Ele sabia, todo o meu corpo sabia, que coisas assim somente me atrasariam. Já cheguei atrasado uma vez, e meu amor foi tirado de mim. Ainda que me doía lembrar disso, ainda que seja como mil lâminas entrando sadicamente lentas em meu coração, é a gasolina necessária para eu impulsionar minha velocidade de voo. Se eu me permitir atrasar por um segundo que seja, se eu me dar o luxo de suar e cansar, um banho de sangue será feito.
De face séria e olhos amarelos de lobo que não vacilam, não demorou para eu visualizar o objetivo. O cenário desse banquete de morte. Do alto, uma barreira roxa poderia ser vista ao seu redor. Ela tinha uma forma redonda e alcançava o céu sem nenhuma dificuldade. De minha outra vida eu conheço essa técnica, a Técnica do Domo Confinador. Eles a fizeram para aprisionar a besta lá dentro, para salvar o resto da cidade de sua desolação. Mas, sabe o que é o problema com bestas? Quando se sentem presas, sentem a corrente ao redor de seu pescoço, é ai que a fera realmente se torna perigosa - é ai que ela liberta todo seu poder apenas para manter seu gosto da liberdade intacto.
As asas batem, como se fossem um eco de uma tempestade. Uma tempestade que se camufla em minha face séria. Ao chegar no lugar, vejo o esquadrão de barreira de Konhoa se concentrando em manter o domo. Eles estavam suando frio, fazendo o seu melhor para manter tudo seu controle enquanto se embriagavam em um olhar focado falso. Dentro deles, na parte mais intima de sua alma, eles estão tremendo. Temendo o que pode sair de lá, o que lhe aguarda atrás dos portais da biblioteca.
- Deixem eu passar. - Eu dizia calmamente enquanto tocava o solo com delicadeza e via as asas de papel se desfazendo em um instante apenas. Andei de maneira casual até o líder do esquadrão, um homem de pele clara e meia idade. Seus olhos eram negros, do tom que se assemelha muito a cor do céu esta noite. Profundo e, ainda sim, vazio. Ele não presta atenção em mim, em meu rosto moreno chegando, ele não poderia. Mantinha a barreira ativa, dando cada gota de sua energia e atenção para isso. Mesmo assim, pelas suas feições rígidas, sei que ele não gostou de mim aqui. Engoliu a seco por um momento, arranhando a sua garganta e fazendo arder, sei que ele me reconheceu aqui. Reconheceu a minha fama que carrego como uma cruz para onde qualquer lugar que eu vá ou rosto novo que assumo.
- Não precisamos de ajuda de forasteiros, Konhoa resolve seus próprios problemas. - Ouvia-lo dizer de maneira áspera, afiada mesmo que sua voz não levantasse de tom. Ele me encarava por um bom segundo, deixando um pouco de ódio lhe escapar. Um ódio fervente, quente como somente o sol poderia e mesmo com todo seu poder, era tão apenas uma camuflagem. Uma camuflagem para seu medo com o desconhecido. Com o diferente. Bravo, achando-se corajoso, o ninja volta seus olhos confiantes para a barreira. Mesmo que estivesse suando horrores, mesmo se sua energia estivesse prestes a dar seu ultimo suspiro, ele ainda era escravo do seu próprio orgulho e preconceito. Sua derradeira fala, despretensiosa e insolente, só provará meu ponto. Colocará o derradeiro parafuso em são caixão. - Saia daqui, seu estrangeiro imundo. Não precisamos da sua gente.
Aquilo me atingia, me atingia forte como uma lança. Fazia tempo que não sentia isso, o preconceito vivo descanando minha pele sem fazer nenhuma cerimonia. É verdade, sou de outra terra... Talvez, eu seja de nenhuma delas, viajei tantos cantos desse mundo. E em todos eles deixei um rastro de vermelho para trás. Fecho o meu punho em raiva silenciosa, fecho-o com tanta força que suas palmas outrora morenas se tornavam um rio de vermelhidão. A raiva ecoava em minha alma, o senso de injustiça me afogava por um instante. Por um instante, um breve instante eterno, senti o assassino do Origami Negro pulsando em mim novamente. Querendo, como um animal faminto, encontrar qualquer brecha para vir se alimentar. Trazer a chuva de sangue novamente. Mas o contenho, o contenho em memória de Medusa e Kim... O contenho para o bem de todos.
Ainda sim, enquanto ando de maneira casual até os limites dessa barreira, um pouco dele (dessa outra face) escapa entre meus dedos. Meu Instinto Assassino é ativado, dando voz a todo o despontamento que sentia correndo minha carne até somente o osso restar. Eles sentiam medo dessa minha presença, tal medo eclipsava o temor que eles tinham pela besta para além desse santuário. Suas expressões se cortansiam em pleno horror. Seus ossos não apenas tremiam, eles petrificavam como se fossem uma estátua. Mortos em vida apenas para não terem que encarar a fonte desse terror. Eu, quem já fui. A face a qual escondo. Alguns pingos eu ouvia, o líder tão arrogante desde esquadrão, se mijava e afogava-se em seu próprio medo.
- Vou entrar, fiquem de prontidão senhores. - Dizia em uma mistura de calma e serenidade. Desativava o Instinto Assassino e os ouvia recuperar a sua respiração de imediato. Um leve, discreto e imoral, sorriso se fazia em meus lábios. Estava feliz secretamente por ter feito aquele homem engolir suas palavras a seco. Ainda existia crueldade em mim, independente do rosto e nome que eu escolhesse. Ela sempre estaria lá. Dormente. Esperando. Manipulo o Aço Negro em meu corpo, criando um bastão com ele e, em um movimento rápido, o choco graciosamente contra o domo. Ele é estável, frio e mesmo assim, quebrou com uma tacada. Quebrou como milhares de pequenos vidros sob esse solo assustada. Fiz um buraco, no tamanho de uma porta, com esse único golpe. Andei casualmente para além da barreira, para encontro dos portais arcaicos dessa biblioteca, enquanto soltava um punhado de palavras ao ar. Ordens. - Façam uma barreira melhor se dão valor as suas vidas, isso não será o suficiente para conter sua fúria. Sua dor.
...
- Não... Não... Não! - Acordava com o grito de minha filha Rize, o desespero ecoava em seus lábios de tom moreno. Eu havia dormido encima de minhas pesquisas novamente, na minha mesa pessoal no laboratório novamente. Tive um sonho, a volta de uma memória sangrenta. Com muitas mortes nela. Única. Ela ainda remexe meu estomago, deixa um gosto amargo em minha boca. Eu devia está meio sonolento, entregue as moscas porém, o grito de Rize, me despertava. Mais do que isso, despertava o instinto paterno em mim. Mesmo depois de tanto tempo, tantas falhas, ele ainda reside em mim. Irônico não? Sob a melodia angustiando de seus gritos, meu coração apertava... Não, ele sufocava, enquanto afastava minha cadeira ao longe e ia ao seu socorro imediato.Eu tinha muitos inimigos da época de mercenário, muitos que adorariam queimar sua carne ou esfola-la somente par mim torturar. Somente para me fazer por pecados de um passado que jamais será esquecido. Apenas enterrado. Será que eles finalmente me encontraram?! As imagens do que podiam fazer com ela, com minha filha, emergiam e tomavam minha mente em uma dor que nenhuma palavra é capaz de cabê-la em sua totalidade. Senti uma corrente de emoções sob minha garganta, apertando cada vez mais forte a medida que os segundos se davam. Ela deixava meu pescoço vermelho, pulsando, enquanto roubava o ar de meus pulmões. A ansiedade me matava aos poucos, me engolia, enquanto eu apenas podia acelerar o passo. Atravessar minha própria angustia.
Meus ouvidos treinados por massacres e guerras, sabiam que seus gritos vinham da cozinha. Delicadamente, mesmo que os dedos estivesse suando de antecipação, movia uma faca negra (uma kunai) entre meus dedos com habilidade. Segurando-a com força, me preparando para o pior, chego em sua porta. O portal de onde os gritos vinheram. Ele era bem desenhado, conservado, em uma madeira que foi feita a mão. Pela mão de um verdadeiro artista, a minha. Ansioso, com um olhar sério que esconde o lobo aflito que sou por trás de minha íris amarelada agora. Com um chute bem colocado, bati nessa porta sem pensar, colocando-o a baixo com um único golpe preciso. Estava agressivo, como um animal pego em uma emboscada e, ainda sim, só é capaz de pensar em salvar sua própria cria. Sou um egoísta, uma assassino egoísta.
Eu somente via água, água até meus joelhos por todos os cantos. Minha mente, funcionando a mil, já acreditava saber o que aconteceria. Um de meus inimigos do passado, não importa o nome do desgraçado, chegou a ela primeiro. A memória de acordar e de encontrar Kim morta em meus braços... Por minha própria lâmina, me atingiu no peito como uma furação. Deixando-o do inverso, todo machucado. Fico paralisando, suando todas as lágrimas que meus olhos amarelos não tem coragem de derramar. Em desespero, lago minha kunai. A escuto bater na água, se afogar e, por um momento, queria me afogar com ela. Apenas dormir, deixar tudo desaparecer. A dor, a angustia. Tudo.
- Merda! esse era meu único vestido descente... Não posso sair com ela com os trapos de sempre. - Escute-a iluminando a situação e também acalmando meu coração. Um suspiro de alívio escapou de meus lábios. Ela segurava seu vestido verde simples, um que trabalhou horrores para conseguir apenas para essa ocasião, ao lado de uma máquina de lavar quebrada; O vestido estava destruído, logo nessa noite que significava tanto para ela. Mesmo chateada, de fala insolente para ocultar sua tristeza com o fato, ela conseguiu tempo para se preocupar verdadeiramente comigo. De uma forma meio carinhosa, meio surpresa, ela assistia meu semblante ainda aflito pelo mal entendido e se aproximou de mim com carinho. Perplexa com o que estava havendo. - Kaneki, tudo bem? Parece que viu um fantasma.
- Tudo... Me acompanhe, tenho a solução do seu problema Rize. - Dizia ao notar sua preocupação verdadeira na voz, eu não a queria a deixar angustiada. Então, apenas sorri discretamente e mudei de assunto.
...
Estava no antigo quarto de Medusa. No nosso antigo quarto. Eu não entrava aqui a bastante tempo. Não consigo, são muitas memórias. Claro, são memórias boas mas, não importava sua natureza, elas me lembravam de meu fracasso com ela. De que eu a deixei no momento que mais precisou por causa de minha maldita pesquisa. Maldita obsessão. Isso me corroía por dentro, se alimentava das minhas entranhas lentamente. Sadicamente, Já me roubou tantos noites de sono e me roubará, com razão, tantas outras a mais. Eu estava diante de seu guarda roupa, passei meus dedos delicadamente sob sua superfície. Ela era lisa, suave porém firme, com outrora foi sua mestra. Meu amor. O construí como um dos meus muitos presentes a ela... Lembro dela te gostado e isso, por um instante logo afogado, faz meus lábios desenharem um sorriso. Sentir o calor de minha vida de outrora, seu calor. Abri o guarda roupa, suas roupas estavam pegando poeira. Eu não as limpava há tempos, fui descuidado com sua memória e isso pesava ainda mais meus ombros. Fazia-me olhar com auto reprovação enquanto passava os dedos delicadamente entre as vestes. O derradeiro deles, o ultimo de sua imensa fileira, deve servir. É um vestido verde com detalhes brancos. O mesmo que ela usava quando nos conhecemos. Ela era linda nele, tão elegante e mesmo assim, tão humana. Tão bela. O tirei de seu canto com cuidado, com esmero, quase como se fosse um objeto sagrado. Até por que, para mim, era. Meu olhar brilhava ao encara-lo, em um misto de saudade e dor pelos dias que nunca voltaram. Anote, um dia, esse contraste ainda irá me devorar de dentro para fora. Acabar comigo.
- Use esse vestido, deve ser do seu tamanho... Era o mesmo que Medusa usou quando nos conhecemos. Sei que os olhos dela se deleitará ao vê-la nele. Uma peça única. - Dizia esticando gentilmente meu braço para ela pegar a peça, antes claro, tratei de limpa-la com meus dedos de maneira delicada. De forma quase devota e religiosa. Apesar de Rize acha-lo lindo, de precisar dele para hoje a noite, algo fazia ela hesitar. a ideia de que ela não estaria a altura de Medusa a assombrava, a noção de que não merecia essas vestes quebrava ela por dentro silenciosamente. Atrás de sua face de deboche, estava imersa em uma angustia momentânea que parecia paquerar a eternidade. Vendo isso, me posicionei na sua altura ao me ajoelhar e, de maneira serena mas segura, repousar minha mão em seu ombro. Querendo conforta-la, livra-la dessas mentiras que ela mesma criou. - Medusa sentiria honrada se você o usasse... Para todos os sentidos, ela a via como sua filha e isso, somente isso, era o que bastava para ela. Que você fosse a filha para ela e ela ser sua mãe. Só não esqueça que tá de castigo pelo que fez ao monumento dos hokages essa semana tá? Volte antes das dez
- Obrigado, Kaneki, pelas palavras. - Ela abria um sorriso longo e me abraçava de repente, me pegando despreparado. A abraço de volta, profundamente. Aproveitando cada segundo desse momento. Jurando, silenciosamente, que nada me faria perder isso. Perdê-la. Em seguida, ela correu animada com o vestido para seu quarto e eu apenas a observei com um sorriso bobo em meus lábios e um coração aquecido por além de meu peito. Enquanto ela se distanciava, em passos rápidos e rebeldes, me maravilhando com o quanto ela cresceu rápido. Debochada, mas com carinho, ela me deixa um recardo antes de sair de vez por essa porta. Me encarando por instantes, deixando que eu mergulhe na alegria que tão poucas vezes conheceria seu olhos. Alegria que ela merecia. - Sobre o castigo... não prometo nada, velhote.
Asami POV
Estava a noite, as estrelas já estavam altas e brilhantes nesse céu escuro e, de maneira particular, fria. O vento, entretanto, estava suave. Atravessando a janela com paciência e tocando minha pele com uma gentileza que ela, raramente, sentia. Ele não tinha segundas intenções em seu toque e tampouco desejos maldosos. Era apenas a natureza, me dando boas vindas depois de dias presa num hospital, trancafiada em uma cama gelada.
Havia uma certa inocência nele, um sentimento que não era mútuo as outras faces que aqui repousam. Observo meu redor, varro a cena que o olhar espirituoso de sempre. Existia muitas conversas alheias, assuntos que entediam meus ouvidos infantes com uma facilidade tremenda. Entre mordidas vorazes e bebedeiras ansiosas, alguma coisa, entretanto, se salvava.
Podia ver um grupo de ninjas, um time como aquele que, um dia, fiz parte. Eles estavam em uma mesa próxima, cansados da realidade que lhes foi imposta. Cansados do mundo onde nasceram. Eram espertos o suficiente para não deixar esse sentimento escapar de seus lábios, deixava a bebida, o vício, preencher os buracos. Algo os assustava, o ar daqui não era imaculado de seus medos e receios.
Todos sentiam, poucos admitiam. Os desaparecimentos estavam no coração de todos e, ainda sim, nenhuma boca os dizia. Fingiam que nada acontecia na esperança da negação se tornar sua realidade - sua verdade. Tolos eles eram, comiam sushi da melhor qualidade e bebiam vinho arcaico pela remota chance - pela remota esperança - de se agarrar em uma normalidade há muito esquecida. Perdida.
Mas, olho para baixo, para a mesa que está diante de meus sentidos. Vejo um prato escasso, com restos de uma comida devorada. Eu não sou muito diferente deles. Afogando minhas mágoas em futilidades, nas pequenas mentiras que tanto odeio e, ainda sim, às uso como um samurai usa uma espada. Os talheres repousavam no prato, tal como uma dama, meus modos continuavam impecáveis.
- Não fala tanto desde que saiu do hospital, Asami. Cortaram sua língua lá, foi?
Perante a mim aquela que, talvez, fosse minha melhor amiga, Rize. A Hyuuga com um sonho. Seus olhos de mar sorriam enquanto sua boca, cheia como sempre, temia em formar palavras. Toda a cena tinha um ar nojento, um ar que era deveras proibido de onde vim. Porém, isso não me impediu de sorrir e de, no percurso, um leve e acanhado riso nascer de meus lábios.
- Sendo justa, você nem me visitou lá… Quem mais deve explicações aqui é você, ó de olhos azulados como o mar. - Havia um humor em minhas palavras enquanto apontava o meu dedo para sua boca cheia, uma inocência que me fora negada nesses últimos dias ressurgia das cinzas. Era como uma fênix, sorrindo enquanto todos estavam em meio a tristeza. A rebeldia diante da multidão.
- Não olha para mim, o Sensei proibiu visitas… Devia estar brava com o Kaneki isso sim.
Aquilo fez meus olhos despertarem em surpresa, por um instante minha boca se encontrava sem palavras em seu arsenal. Podia-se ver a cor violeta opaco em minha irís com perfeição, era como uma flor assustada com seu próprio desabrochar. Demorou um pouco para cair a ficha, para ser puxada, uma vez mais, para a terra firme. O sorriso, antes firme e bem vivido, dava seu adeus seco a sua plateia cativa.
Rize engoliu tudo que comia, fazia força para tudo descer por sua garganta como deveria. A gula era seu pecado. Mas, ele não se resumia a esse prato. A esse desejo incensante. Ela sempre queria mais, desejava mais. O prestígio era algo que a fazia correr atrás, ser a cadela que perseguia os carros da rodovia. Lambia seus dedos atrás de restos, se agarrando aos sonhos com tudo que tinha… E, mais importante, com aquilo que ainda não possuía.
Olhos assustados a vigiavam, os mesmos que outrora me paqueraram. O dinheiro não os comprova modos, não os dava de bônus educação. As pessoas das outras mesas, uma vez ou outra, encaravam minha amiga como se fosse uma aberração: um monstro esperando ser apreciado através de uma fina vitrine de vidro. Aquele pensamento fez meu sangue ferver.
- O que aconteceu para ter acabado no hospital? Tudo parece está sendo guardado em sigilo, o Kaneki não me disse nada… Aquele velho.
Um sorriso corria pelos lábios da jovem de olhar azul, idem a noite que sempre permeia o céu com suas estrelas. Ela bebia um pouco de suco, o pouco que restava de sua taça rica em detalhes. Entretanto, a paz que reinava em sua face logo iria acabar. Não era meu anseio, tentava fingir uma alegria genuína. Mais ela me conhecia bem demais para cair em meus truques de atriz chinfrim.
Olhava para baixo, para o prato vazio que repousa diante de mim. Meus ossos tremem, mais o frio não os assombrava. Havia um medo em meu rosto, um receio que teimava a ficar exposto. O sangue em minhas veias não estava mais quente, o veneno gelado que o legado que o Sino trás corria em minhas veias. O calor da vida era sugado de minha pele, de minha carne cobiçada.
A boca se perdia em palavras que nunca nasciam, algo incomum para alguém como eu. Uma mulher que vive em meio a mentiras e sua própria lábia ardente. Aquele dia na biblioteca era o rei de meus pensamentos, me deixava longe dos prazeres da vida… Dos bons momentos que eu possuía. Minhas mãos, brancas e dignas de um cadáver, ao centro da mesa ficariam.
- Eu estou aqui para você, por você pequena sacerdotisa. - Sussurrava Rize apenas para mim enquanto suas duas mãos se enrolavam com as minhas.
Eu sorria brevemente, olhava para ela como se o tempo perdesse seu significado como mortal. Meu medo, antes rei, era evaporado aos poucos. Transformava-se em uma sombra novamente. A lua, pela janela, era vista em seu ponto mais alto. Ela era a rainha daquele instante, nossa vela particular: nosso relógio.
- Eu sei... Mas, sem querer dispensar sua companhia, não está passando da meia noite não?
Aquilo estava me deixando envergonhada embora, suas palavras ferveram o meu sangue aterrorizado. Meus lábios, outrora tristes, se abriram e o sol, antes esfriado, voltava a brilhar de maneira intensa. Precisava mudar de assunto rápido, arranjar uma desculpa que venha a calhar. Estragar o momento. Por sorte, sou perita nisso.
- Droga, está muito tarde e eu ainda estou de castigo. Se eu não chegar até as dez, Kaneki vai me matar! hora de fugir pela porta da esquerda!
...
Rize POV
Era muito tarde, a lua me traiu mais uma vez. Seria tão bom que o dia tivesse mais de 24 horas para variar. Com ela, a garota de cabelos cor de pimenta, a noite parece se desenrolar em meio a sua própria ansiedade. Mau sobra tempo para aproveitar os momentos, cada segundo tímido com ela. O preço valia a pena, mesmo que o sangue escorresse da minha pele por isso.
Um sorriso roubava meus lábios com esse exagero descarado. Para olhos alheios, posso ser um aberração. Entretanto, isso não valia para eles. Jamais. Posso sentir isso abraçando minha carne de maneira gentil, através da veste que costuraram especialmente para mim. Um presente breve, simples e, ainda sim, significativo.
A veste era tradicional, um vestido longo verde com algumas parte brancas Sua cor era meio escura embora, no melhor estilo gótico. Deixaria muitas mulheres da minha idade com inveja, até parecia que eu era da nobreza. O meu sonho, minha ambição pulsante, era a mesma que, naquele momento, desfazia o sorriso em minha face. O sonho não poderia está tão longe da realidade. O fato de parecer algo tão rico, tão longe de meu mundo, era porque esse traje era de Medusa quanto jovem. Era bom usa-lo, mesmo que não pareça comigo, parece que ela está comigo nesse momento importante. Abraçando-me como uma boa mãe faria, apoiando-me mesmo nas ansiedades mais fúteis. Nos encontros.
- Pronta para voltar para as missões? Estamos de molho desde que você teve suas “férias”, mocinha.
Anunciava isso com um humor que transbordava em minhas poucas palavras. Queria arrancar um riso dela, detesta-lá ver minha melhor amiga assim. Perdida em pensamentos. Porém, admito, aquilo também era para fugir do mundo real que me assombrava: do real que eu era obrigada a encarar todo dia de manhã. Acordar como uma serva, servir esses covardes que não fizeram nada para está no topo. Crianças que desconhecem o verdadeiro sofrimento.
Mas, minha tentativa foi em vão. Na verdade, parecia ter piorado tudo. Asami se retraia, fechava seus braços ao redor de seu peito e os massageava sem nada dizer. Parecia um cadáver que teimava a andar. Não era ela, não era a Asami que eu conheci. Ela olhava para baixo como um peixe vidrado, ignorando as casas vazias ao seu lado. Estávamos no Complexo Residencial nessa altura do campeonato, a algumas quadras da minha casa.
- Então, vai trazer aquele seu amigo quatro olhos que me falou para o time? Adoraria surrar o pessoal de Kiri qualquer dia desses.
Odiava falar dele, por mais que eu não o conhecesse por além das histórias que a Asami me contava, ou melhor, me enchia em nossas saídas. Kiri tem uma história negra pintava em vermelho, não eram confiáveis. Eu podia manter um leve sorriso para a sacerdotisa do lado de fora mas, a verdade, é que minhas entranhas estavam se remoendo por dentro com a chance de trabalhar com ele, a possibilidade dele trair, como o resto de sua laia, minha bem quista amiga.
Entretanto, devo dar o braço a torcer, falar dele acendia uma velha chama nela. Uma pitada de nostalgia que eu não posso explicar, um sentimento que, nas sombras, eu invejo. Isso roubava um riso discreto dela, uma faceta de luz perante este cenário fúnebre. Por mais que, no interior, meus sentimentos gritassem o contrário, sua discreta e fugaz alegria era mais do que o suficiente para mim.
Pude vê-la melhor, a admirar melhor. Enquanto passeávamos por essas ruas desertas, sem um pingo de gente, a escuridão não nos assustava. Não enquanto ficássemos juntas. Para a mulher que estava acostumada a realeza, suas roupas despertavam curiosidade por sua aparente simplicidade. Era um vestido vermelho, elegante mas claramente barato. Era uma roupa que ela comprou para este encontro. Uma veste que era irmã de seus cabelos de fogo e que a destacava do resto dessa paisagem morta. Uma pequena obra de arte feita em carne e osso.
- Ele é uma boa adição, o talento encontrava uma vez a cada geração quando se trata de ilusões… Inteligente e, bem, um pouco robótico…
Sua mão direita, e branca como neve, faz um esforço medíocre em impedir um acanhado riso de nascer. Deveria ser alguma piada interna deles ou algo do tipo. Francamente, estou aliava por ela não ter começado com as histórias mais uma vez. Suspiros, sem meu consentimento, escapavam de meus lábios. Transformavam em ato aquilo que eu já tinha a ousadia de pensar.
Os olhos violeta e azulados se cruzam mais uma vez, a luz dela voltou. Mesmo que por apenas um breve momento, a velha Asami dava as caras. Dividimos algumas risadas doces, íntimas. Nossos passos eram lentos, rebeldes perante a finitude do próprio tempo. O desejo de sermos imortais crescia, ainda que ninguém dizia. Nem a sacerdotisa tinha coragem de cometer essa heresia.
- Bom, pelo menos, ele pode substituir o último traidor...
Sentia que ela estava próxima de dar vida ao seus lábios, ela não cansava de defendê-lo. Era de sua natureza, preservar a esperança quando a escuridão batia em nossas portas de maneira ansiosa. Aquilo me fazia soltar um acanhado suspiro e minha boca dançar em um discreto sorriso. Eu podia odiar isso, achar muito irritante. Entretanto, no fundo, não poderia deixar de admirar sua inocência rara.
Olhei para ela, esperando o inevitável, nossas longas noites juntas não deixava eu pensar o contrário. Porém, isso foi negado diante do mundo real. Contemplava sua face pálida, quase como se fosse uma obra de arte pintada com esmero. Um misto de emoções inundava sua expressão, a dúvida se tornava sua amiga mais íntima. Algo estava tirando seu precioso sono sob as estrelas, algo não dito.
- Bem, crianças, não deviam está dormindo em suas camas agora? Ao menos, tenho uma boa notícia, seus pais não irão as colocar de castigo… Afinal, não estarão vivas para tal. - Anunciava uma voz masculina severa diante de nos duas.
Asami estava ao meu lado, seu olhar violeta estava vidrado. Assustado. Apenas posso imaginar o sangue dela fervendo, desesperado para fugir. Longe de mim culpa-lá, a hipocrisia é um pecado que deixo reservado para a nobreza. Ansiava dizer algo a ela, algo que a libertasse desse desespero. Entretanto, minhas palavras eram todas covardes, mergulhadas no medo que essa voz causa.
A presença desse homem me assustava, o dono das últimas palavras que tiveram coragem de passear nessa rua deserta. Meus ossos gemiam e os ombros, antes fortes e firmes, se entregavam ao receio de não ver o sol nascer. O desejo desse homem era bem claro, sua fala foi apenas mais um cumprimento sádico, ele era um assassino que pouco ligava se sua conta já transbordava em vermelho... Para ele, algo me dizia, que quanto mais pingasse melhor.
Perante nós estava a morte, eu podia sentir isso descendo seco em minha garganta. Diferente do que os adultos contavam, ela era feita de carne. Sua pele era branca, digna de um cadáver que se recusava a morrer. Os olhos, quase como uma brincadeira interna, eram mestres de um verde profundo, de uma natureza que não estava lá para ser domada ou admirada. Ele era como a natureza, tomando o que era seu por direito.
Um misto de sentimentos fazia meu coração bater em desespero. Minhas pernas suplicavam para eu cair fora dali e, ainda sim, meus olhos teimam em ficar, em observar. Havia um sorriso se revelando nessa face estranha, os dentes brancos como o céu faziam sua abertura para o mundo. O céu deles, entretanto, eram carregados de nuvens repletas de malícia.
O vento passeava por minha pele, suspiros que moviam meu cabelo com uma delicadeza ímpar. A marca em minha testa, o lembrete de minha posição nessa terra, se mostrava entre brechas. Minha vergonha exposta ao mundo, o desenho daquilo que foi escrito antes mesmo de eu me dar conta dessa mera existência. Mais uma injustiça, somada a conta que já transborda em meus braços, nos braços de qualquer um que se chame de Deus.
- Pela tradição, você tem que me enfrentar e salvar esse infeliz… Se fizer um bom trabalho, deixo você partir para um lugar melhor antes da sua amiga bonita ai.
Riso borbulhante de sarcasmo tomava conta de seus lábios. Seu olhar parecia ter um gosto particular por mim, como se fosse a refeição mais saborosa posta a mesa. Posso ver seus músculos definidos através de sua veste preta, o pouco de suor que se atraveu a cair neles fazia essa cena flertar com a ideia de ser uma pintura. Era como está em um museu pela última vez, admirando aqueles que sobreviveram aos ecos da história. Queria ser um deles.
Sou uma arqueira, devia ser capaz de sacar uma flecha e acertar seu olho antes que mais um suspiro arrogante escapasse de sua boca. Porém, isso não acontecia. Os braços me traiam em sua covardia. Pesados estavam, uma cruz cada um deles tinha como fardo. O medo fazia bem seu trabalho até aqui, me mantinha viva… Viva para sonhar outro dia. Não, eu não podia deixar a Asami assim, sozinha.
Surgia uma confusão em minha mente, uma que meus lábios não podiam combater com piadas maldosas e confiança embriagada. Entretanto, eu estaria mentindo se falasse que apenas isso acontecia nesse instante. Observando um dos ombros do homem que repousava diante de mim, uma pequena criança se revelava. Tinha cabelos loiros tratados com esmero, com luxos que muitos partiram deste mundo sem conhecer. A face desse infante era suave, ausente de cicatrizes… Ausente de dor. O veneno da nobreza corria em suas veias, seu destino era claro como o sol que ainda não nasceu.
- Foda-se o sistema, você levar ele será um bem danado para mim… Menos um no caminho de meu sonho, menos um senhor de escravos nesse planeta.
O ar denso havia cedido sua cadeira para um sentimento mais ameno a medida que as risadas desse desconhecido passeavam de ponta a ponta pelo seu rosto. O olhar esverdeado, a natureza indomável dentro dele, permitiu-se ser surpreendida pelo tempo de uma breve brisa passar por seus cabelos de ébano. Podia ser uma ignorante diante de seu nome, de suas causas e, ainda sim, sentia que nossas raízes eram próximas. Semelhantes.
Súbito foi este instante, o segundo que suas mãos descansavam em meu ombro. Podia sentir seus calos, suas cicatrizes passeando por toda sua carne. A surpresa me dominou, ainda que meus lábios se calou. Apenas precisei piscar e, há centímetros de mim, seu corpo estava. Perto assim, na mira de um abraço, meu receio por ele virava coisa do passado.
Esse homem com um nome que ainda não chegou em minha boca, me olhava diferente. Minha cor ou reputação, não o assustavam, não o faziam cuspir palavras de ódio. De fato, por trás de seus olhos verdes, uma admiração morava. Podia sentir sua respiração em meu pescoço, o frio de minha barriga subir quente por minha garganta. A essa altura, sussurros massageavam meu ouvido.
- Percebo seu potencial, eu também fui assim… Esquecido. Modifiquei meu corpo para ter poder, ser notado, mas você… Você recebeu o dom de deuses. Venha comigo e seja alguém... Por sinal, pode me chame de Han.
Han tirava sua camisa, mostrando os músculos que eu já admirava de longe. Agora, eles estavam perto de mim, posso sentir seu calor ansiando por um passeio de meus dedos. E, foi isso que aconteceu. Cada uma das mãos andou sobre seu tórax, tirou uma lasca de seu peito sarado. Nenhuma pessoa sã me deixaria chegar tão longe, me aventurar por terras tão íntimas. Isso é um pecado para uma aberração como eu, um monstro como eu.
Fascinante é como eu descreveria essa viagem, meus sentidos se perdiam em meio a meros segundos. Sua carne era tão vívida, eu arranhava suas cicatrizes entre surtos de paixão súbita. Senti seus braços me enrolando, os pelos de seu peito acomodando minha face pálida. O calor que muitos negam, poucos prometem e, ainda sim, sob o luar, ninguém entrega.
Ele me distanciou com um toque brusco em meu ombro, ainda que fosse mais gentil que a maioria. Seu rosto virou e seus olhos verdes, outrora brilhantes, careciam de coragem para me encarar. O ar ameno que nos cercava faleceu e apenas a frieza do mundo restou para nos abraçar. Eu o entendia, escapar era seu desejo. Uma ânsia que fazia seu sangue ferver. Porém, o segurei, em seu braço meus dedos enrolei.
- Não corra, não funcionou para mim. Duvido que para você seja diferente.
Eu não tinha dom com as palavras, isso era com Asami. Foi apenas uma pequena frase e, ainda sim, o fez parar por um o instante. Pensar por um minuto entre ir ou ficar, entre encarar ou correr. Han, em resposta, apenas arrancou um pedaço de seu rosto, arrancou como se não fosse nada além de um acessório banal. Sua máscara caiu e, em seu lugar, metal e engrenagens nasceram.
O que estava diante de mim nem ao menos era humano, aquele que me abraçou nem ao menos tem braços de verdade. No princípio, a surpresa escapava das amarras da minha indiferença. Porém, como o vento dessa noite, ele não durou muito. Mesmo albino, meu olhar deixou escapar um brilho e minhas mãos, cheias de histórias para contar, tocou a parte gelada de seu rosto, o verdadeiro homem por trás da maquiagem.
- Me tornei um homem robô, essa coisa que está diante de uma garota bonita como você, para mudar o mundo… Mas, nem sempre o preço vale a pena.
- Alguém precisa pagar o preço para se ter a justiça nesse mundo, a justiça vem de nossas mãos. - Declaro enquanto passo os dedos por seu rosto delicadamente.
Han olha para longe, eu demoro um pouco para saber o motivo.
...
Asami POV
Eu podia ouvir as declarações ao meu lado, esse tal de Han e Rize estavam conectados. Tirando sua camisa e a colocando aos cuidados do vento, ela descansou a alguns metros dessa cena. Aquilo parecia amor, o abraço dele a viciava em algo raro em sua existência como serva. Mas, quem estou tentando enganar? Isso é uma pedra preciosa para todos onde o coração ainda bate.
Posso ter cabelos ruivos como o sol que dorme ao alto, olhos violeta que atrai devotos indesejados. A sacerdotisa deve ser perfeita, sorrir diante a escuridão. Entretanto, nenhum deles conta o preço de viver. Poderes vem com um peso, uma responsabilidade que me assombra quando coloco minha cabeça no travesseiro. Toda essa energia e apenas consigo admirados aos meus pés, amantes? apenas moram em sonhos de infância.
Quando esse cara arranca literalmente parte de sua pele, a vejo cair perto de meus pés. Parece tão verdadeira, real e, ainda sim, é uma mentira velada. Aquilo mexe com minhas entranhas mais íntimas, faz eu suar frio. O Sino em minha orelha parece vivo, lutando para se soltar, lutando para me manter com vida. Um esforço nobre, um pedaço de minhas raízes que nunca vão embora.
Tinha receio de sentir o veneno da serpente mais uma vez em minhas veias, como se tivesse corrompendo minha natureza aos poucos. Ele queria me levar para longe do real, para mais perto do mundo de pesadelos. Isso me assustava mais do que o homem robô que descansa ao meu lado, eu não queria voltar para a biblioteca: para onde minha vida esteve na corda bamba. Sinto ela oscilando, flertando com o abismo sem fim.
Era monstruoso ver minha amiga tocando o rosto desse estranho, como se fossem amigos há muito tempo. Era um breve romance que, como eu, estava pobre e envenenado. Ainda sim, não encontrava forças para fazer algo. Meus lábios estavam selados por um medo que me era um velho conhecido. Era o mesmo que tinha me deixado de molho no hospital, uma borboleta sozinha no escuro com suas bolhas.
Porém, no horizonte distante, uma criança estava deitada e submersa em seus próprio mundo de sonhos. Ele era estava tão calmo, deveras inocente. Não parecia que todos a sua volta queriam sua morte, apenas nascer foi seu crime… Foi o seu motivo. Rize pode odiar se eu falar isso em voz alta, mas eles têm mais em comum do que sua cabeça teimosa possa admitir.
Asami, você pode não estar mais na terra dos demônios e tampouco ser a mesma, mas você ainda carrega o título de sacerdotisa. Onde há morte, leve vida. Onde há trevas leve a luz. Esse é seu dever, um sonho pelo qual vale a pena morrer. Enxergar um infante jogado ao solo, as pragas que consomem esse mundo, fazem meu sangue ferver e as pernas, mais uma vez, se mover.
Chame de audácia, chame de estupidez… Chame como quiser. Corri contra o vento, o deixei balançar meu cabelo. Deixei minha amiga para trás por uma vida que me é estranha, que nunca fez nada por mim. Os pés eram rápidos, embriagados de uma adrenalina bem vinda. O coração batia e, certamente, o veneno aproveitaria a chance: faria o seu reino em breve.
Cutuquei o tigre com uma vara cura, sentia seu olhar verde de tigre me capturando de longe. Carente de surpresa, apenas um pequeno riso caminha até meus ouvidos. Não olhei para trás, não deixarei que ele se alimente de minha cara assustada uma vez mais. Vidrada eu estava, a cada respiração curta eu buscava refúgio em meu intuito. Em meu arcaico senso de certo e errada, em um título sem valor em uma era tão acinzentada.
Asami, você pode não estar mais na terra dos demônios e tampouco ser a mesma, mas você ainda carrega o título de sacerdotisa. Onde há morte, leve vida. Onde há trevas leve a luz. Esse é seu dever, um sonho pelo qual vale a pena morrer. Enxergar um infante jogado ao solo, as pragas que consomem esse mundo, fazem meu sangue ferver e as pernas, mais uma vez, se mover.
Chame de audácia, chame de estupidez… Chame como quiser. Corri contra o vento, o deixei balançar meu cabelo. Deixei minha amiga para trás por uma vida que me é estranha, que nunca fez nada por mim. Os pés eram rápidos, embriagados de uma adrenalina bem vinda. O coração batia e, certamente, o veneno aproveitaria a chance: faria o seu reino em breve.
Cutuquei o tigre com uma vara cura, sentia seu olhar verde de tigre me capturando de longe. Carente de surpresa, apenas um pequeno riso caminha até meus ouvidos. Não olhei para trás, não deixarei que ele se alimente de minha cara assustada uma vez mais. Vidrada eu estava, a cada respiração curta eu buscava refúgio em meu intuito. Em meu arcaico senso de certo e errado, em um título sem valor em uma era tão acinzentada.
Olhos violeta, os mesmos que tenho desde o nascimento. Meu maior dom, minha ruína declarada. Eles são tão jovens quanto à existência que busco colocar em braços seguros. Entretanto, não se engane: Mentiras, vermelho derramado, tudo eles enxergaram. O pior que nosso povo tem a oferecer eles têm gravado em sua pele. Palavras suaves cheias de segundas intenções, facas lambuzadas de sangue amigo. Ainda sim, não dei os ombros para eles, não me tornei um deles.
Senti um peso em meus ossos, as costas berravam em uma dor que meus lábios não conseguiam esconder. Havia recebido um suco de Han, seu punho mal estava cerrado quando tudo aconteceu. Gritei, engoli meu próprio orgulho mais de uma vez. Não era mais eu, não era mais a kunoichi forte que se encontrava por além dessa carne passageira. Sou novamente a garotinha do papai, precisando de servos ao seu lado, precisando de proteção. Aquilo me dava raiva, aquilo fazia meu coração explodir e, ainda sim, não deixava de ser uma verdade.
- Aparentemente, sua beleza não se espelha em seu cérebro... Uma pena, isso poderia ter sido mais divertido sabe? Digno de meu tempo e, para sua sorte, não tenho mais muito dele... Apenas relaxe.
A dor ainda teimava em escapar de minha boca, gemidos de um socorro carente de ouvidos para alcançar. Os joelhos estavam sujos, feridos pelo baque súbito contra esse solo solitário. Isso não é um lugar digno para suas derradeiras palavras fazer de moradia. Sou destinada a mais, tenho um demônio real para parar. Nem o súditos deles foram capazes de cortar meus pulsos, fazer meu sangue jorrar na banheira e, com você, não será diferente.
Meus olhos violeta varrem a cena, percebem que, como minha carne, eles estão ardendo. Deitados, sem forças para transformar minha determinação em realidade. A visão é um sentido que começa a me trair, se curvando à medida que minhas costelas quebradas vem às claras. Pode ser apenas um par delas e, ainda sim, lágrimas de angústia descem meu belo rosto. Mais uma cicatriz para a lista.
Penso em correr, por um instante se render ao instinto de sobrevivência, trair que eu era. Porém, as pernas não deixavam mais. Minha garganta queimava de dentro para fora, como se uma chama despertasse no meio de seu seio. O sangue, aos poucos, era cuspido por além de meus lábios. Estavam gelados, se transformando em um cadáver. Abandonando o calor que, uma vez, carinhosamente os abraçava.
Acabei por fazer o mesmo, fechar os olhos e navegar no escuro. Os segundos se passavam e o coração mais lento estava. Ele não aguentava mais, apenas queria dormir. Assim, eu poderia sonhar com o amor real, com um mundo onde sombras e o mal sejam só um mito. Aos poucos, meus sentidos aceitavam o meu anseio e, para o mundo, eles ofereciam seu adeus definitivo.
Mas, sempre há um “mas”... Senti dedos embrulhado uma de minhas mãos, dedos que nadavam nas ondas do desespero. Mesmo que de maneira tímida, abri meus olhos e, então, naquele segundo congelado no tempo, eu vi. Perto de mim, olhos albinos inocentes fizeram, de mim, a moradia de sua esperança rebelde. A voz era fraca, mas brilhava tanto quanto seus cabelos dourados.
Um sussurro nasceu, e com ele, minha alma também.
- Por favor, eles farão coisas horríveis com meus olhos… Me darão um destino pior que a morte.
A cabeça estava tonta, algum órgão interno deve está perdido. Sinto o gosto de ferro em minha boca, o gosto de uma morte que se aproxima. Ainda sim, meus lábios teimam em sorrir diante da criança. Podia não saber seu nome, mas admirando seus olhos brancos, os sonhos que ele carregava, era o suficiente para pequenas palavras escaparem do selo de medo e desespero. Eu voltei, por meros instantes, ser eu mesma mais uma vez,
- Vai ficar tudo bem, da próxima vez que acordar, estarei te comprando um sorvete.
Esperança, é isso que move meus ossos enquanto esse infante volta para seu mundo dos sonhos. Um pequeno riso, um fugaz riso, nasce de seus lábios antes de perder os sentidos. Apertei sua mão novamente, sentindo o terror dele indo embora. Essas palavras, por mais tolas que fossem, foram capazes de acalmar seu coração agitado. Meu olhar brilhou antes de retornar para a realidade.
Levantei-me com dificuldade, cuspindo sangue para todo lado. Não dei a satisfação de mais um grito saindo do forno, apenas um sorriso meio louco domava minha expressão. Estava em pé, diante daquele que queria ceifar minha vida. Sentia um sadismo emanando dele, um sentimento de diversão perante toda essa violência. Não era muito diferente dos homens que conheci. Era só mais um na minha longa lista.
- Han… Posso te chamar assim? Acontece que para conseguir essa criança terá que pisar em cima de mim. Muitos tentaram isso e poderia pedir umas dicas a eles… Se ainda estivessem vivos.
Exclamava aos quatro ventos, ainda que o sangue tivesse mergulhado minha própria língua em um mar de vermelhidão. Rize, minha amiga, apenas há de observar. Seu olhar, tão vivo e rebelde no passado, parecia ter sido domado. Toda a sua fúria, inquietação foi embriagada por uma falsa sensação de paz. Armas podem ferir muitas pessoas, mas são palavras, meras palavras, que iniciam uma guerra.
O homem apenas sorria de maneira discreta, balançando seus cabelos negros contra o vento. Por um instante, calou-se e, sua mente, navegou por outros mares. Entretanto, seus passos, não cessavam. Aos poucos, sua carne e a minha se aproximavam. Seu rosto, tão jovem quanto o meu, era um reino de malícia. Mas, havia algo além, algo que se perdia entre os metros que nos separavam. O abismo entre viver e morrer.
Sua mão era veloz, quase não o acompanhava enquanto fazia o selo do tigre. Era apenas uma imagem, uma cena que demorou meio segundo para ser feito. Ainda sim, fazia meu estômago se revirar e um frio pela espinha passear. Dei um passo para trás, por mais que meu olhar não se perdesse no oceano do receio. Às vezes, sentir um pouco de medo é a coisa mais sábia a se fazer,
- Bravo, bravo… Estou morrendo de medo da ameaça de uma criança que se acha ninja. Para ser uma ninja, uma de verdade, deve-se sacrificar algo… Você, por outro lado, deve ter tido tudo na vida… Garotos, pessoas, aos seus pés… Sim, conheço seu tipo muito bem.
Han sentia sua garganta queimar e seus pulmões, aos poucos, entravam em sua derradeira erupção. O ar, mesmo que por fugazes segundos, se tornava uma joia preciosa e rara. Era como se estivesse sendo consumida pela mesma boca que outrora rompeu o silêncio. Fogo nascia entre seus dentes brancos, perfeitos como as estrelas que me vigiam. Um velho amigo salta nesse tabuleiro de xadrez, um que tem a face de um dragão. Ele estava o Estilo Fogo: Técnica do Grande Dragão de Fogo contra mim.
Não era a primeira vez que um dragão ansiava por queimar minha carne. Há muitos anos, diante dessas mesmas estrelas, as chamas assumiram essa forma contra mim. Tal como antes, o Sino ferveu meu sangue primeiro que essa brisa quente. A energia pulsava como se, em meu peito, morasse dois corações. Entretanto, contrariando meus instintos, eu disse que hoje não. Acabou-se os dias de me esconder atrás de seu escudo, de sua cortina rosada.
Estava suando, pouco a pouco meus vão vacilando. Minha testa tinha sua própria chuva para chamar de sua. Aos trancos e barrancos, água gelada saia dessa garganta em desespero e, em pequenos passos, se desenhava em um jato constante perante as chamas que flertavam contra meus ossos cansados. Pude sentir o gosto de sangue em meus lábios, a tosse vermelha não cessava. A paz viria até mim, de um jeito ou outro.
- Técnica de Selamento: Esfera de Contenção, é isso ai. Do que adianta tantas chamas, se elas mal aguentam um segundo contra mim?
Havia risos saindo de minha boca, risos tardios enquanto o fogo era circulado pelas etiquetas de selamento que voavam até próximo de suas chamas e, em um movimento preciso, criam uma barreira em torno delas. Selando-as. Gotas atingem o solo mas, nem todas eram de tom incolor. De meus lábios, um presente a mãe terra, o meu sangue era cuspido de maneira violeta. Os pulmões, tão infantes, lutavam pelo ar que os era negado. Podia não ser matemática nata porém, até eu, sabia que o desfecho batia em meus portais.
A visão, o sentido que nos permite ver beleza no mundo, lentamente se torna turva. Diante de mim, um sorriso macabro estava exposto. Seus olhos verdes, inconfundíveis, filtrava os meus por instantes que miravam na eternidade. Talvez, se perguntando se eles teriam um apetitoso preço do mercado negro. Estava faminto e, mais um lanchinho, não era uma ideia ruim. Um corpo saudável e jovem pode valer muito hoje em dia, sei bem disso.
- Isso é uma técnica de alto nível, meus parabéns. Merece um prêmio e sabe quem é a melhor para o definir? A bela e perigosa menina ao meu lado.
Sinto algo perfura minha perna, o sangue pintava minha carne de maneira quase imediata. Meus olhos, agora brincando entre o mundo real e de doces sonhos, não sabiam certo o que tinha acontecido. Toda a cena estava lenta, mesmo minha queda, parecia está presa no eterno até, finalmente, acontecer. O baque ao solo acordou meus ouvidos, desesperados com o pouco que lhes era oferecido.
Estava de joelhos, mergulhada em uma poça de meu próprio sangue. Desejando, ainda que em vão, que tudo isso não passasse de uma ilusão, de uma brincadeira do veneno que assombra minhas veias. Pouco posso sentir de minhas pernas, elas estavam dormentes e rebeldes. Tudo era em vão pois, perante a mim, só a realidade fazia sua morada.
Havia uma flecha de Rize em uma de minhas pernas, a mesma que me forçou a cair. Ela perfurou minha carne profundamente, aquilo doia ainda que não lhe desse a satisfação de demonstrar isso. Não conseguia andar, ela foi colocada de maneira precisa. Quase médica. Meus olhos, mesmo tontos, reconheciam a face daquela que dividiu tantas noites ao meu lado. Seus passos eram lentos, pareciam saborear a extensão de todo momento com uma calma assustadora. Eu podia a ouvir bater nas poças de água, nas poças de meu próprio sangue.
- Rize, somos amigas… Tem algo errado com você, deixe-me ajuda-lá…
As palavras saiam entre a vida e a morte, entre tosses de sangue que pareciam dispensar uma pausa. Meus ouvidos, talvez a única coisa ainda acordada a essa altura, percebia ela preparar seu arco com a mestria. Seus dedos, seus delicados dedos, perdiam um pouco de seu tempo escolhendo a flecha perfeita para a ocasião. Era o tempo de uma brisa, esse era o tempo de minha última vida.
- Diga-me, como é não ser a preferida?! A escolhida do baile, a princesa que todos rodeiam? Diga-me!... Como está na sombra ao menos uma vez? Não ter tudo que deseja na ponta de seus dedos?... Pois é, é frio não é sacerdotisa? Bem vinda ao meu mundo.
Uma flecha cortava o ar em direção ao meu peito.
Fim da Parte Um
- Detalhes:
- Um sonho/memória de Kaneki vai se conectar com a trama de uma maneira fundamental, estou fazendo suspense. Acho que foi a primeira vez que narrei com ele em um Filler. Se caçar alguns detalhes nas falas de Asami e Rize, já dar para ter uma ideia do que aconteceu.
Ilusionista- Mensagens : 484
Re: [Ilusionista] Filler simples I - Time 13
Avaliação
Comentário: O filler deixou mais mistérios do que esclareceu hahahha A ultima parte lembro vagamente dela! A historia esta ficha os muito boa, já quero o próximo para ontem!
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